A maldição da segregação eclesiástica brasileira

Um filme nota 10, sem dúvida!

Esses dias assisti o filme “Duelo de Titãs (Remember the Titans, 2000).

Todo filme com Denzel Washington é bom, mas há alguns acima da média. Na verdade, Denzel mereceria um post à parte, como ator, pela forma e conteúdo de seus papéis e personagens, mas falemos um pouco mais sobre o filme, que é um primor de produção em se tratando de roteiro: Motivação em alta para superar desafios ditos intransponíveis, e uma lição de vida marcante. Não deixe de assistir, e depois comente o que achou, ok?

A história se deu – o filme é baseado em fatos reais, o que o torna ainda mais interessante – nos anos 70, quando a segregação racial nos EUA ainda era um tema sensível, inflamando pessoas e sentimentos. Segue uma breve sinopse:

Sinopse: Baseado numa história real, este filme seguido de acontecimentos dramáticos ocorreu em Alexandria, no Estado da Virgínia em 1971. Herman, um técnico negro de futebol americano, é contratado para trabalhar com um time integrado de duas escolas colegiais, os ‘Titãs’. Herman tem que enfrentar a indiferença dos jogadores e um frio relacionamento com seu assistente Bill Yoast, um técnico branco que perdeu a vaga para ele. É bem claro que a hostilidade de Bill é por estar subordinado a um homem negro. Os dois aprendem que têm muito em comum e se concentram em fazer do time um campeão.

Se você está interessado em assistir um filme que motive, edifique e, ao mesmo tempo (coisa rara!), divirta, esse é o filme. Até chorar, chorei… e algumas risadas também são garantidas.

Mas, o motivo de estar escrevendo este post, apesar de a motivação ter sido o filme, é outra. O Espírito Santo me falou algo, após a conclusão da sessão cinema em casa, e que me tocou muito, e é isso que quero compartilhar com vocês.

Fiquei refletindo sobre as grandes lições do filme, principalmente a questão, para nós, difícil de entender do racismo. E, no meio desses pensamentos, fui subitamente confrontado pelo Espírito Santo, que me disse: “Aqui no Brasil, vocês também agem da mesma forma, sendo preconceituosos com seus irmãos, como mostrado no filme”. Foi um choque…

Para contextualizá-lo, preciso esclarecê-lo que existiam igrejas de negros e igrejas de brancos, as quais, mesmo alegando servir ao mesmo Senhor, não se comunicavam entre si. Os brancos cristãos (ou cristãos brancos?) perseguiam os negros, cristãos ou não, que eram tidos como cidadãos de segunda classe, indignos de dividirem o mesmo banco de um ônibus ou uma mesma sala de aula. Eles reconstruíram os muros que a morte de Jesus derrubou, e a sociedade branca tratava os negros de forma semelhante à que os judeus tratavam os samaritanos nos dias de Jesus.

Uma situação, de fato, esdrúxula para o contexto brasileiro atual, apesar de havermos passado por um período igualmente tenebroso de escravidão, há pouco mais de 100 anos.

Agora, após esclarecer-lhe a situação de divisão retratada no filme, deixe-me dizer-lhe porque fiquei chocado quando o Espírito Santo me disse que agíamos da mesma forma. Fiquei me perguntando como seria essa forma segregacionista que estávamos agindo no Brasil, e Deus abriu minha mente para perceber que dividimos a igreja em dois lados, que até se comunicam, mas mantém uma distância nem sempre respeitosa quando se trata de se referir um ao outro.

Estou falando das divisões que criamos para justificar que somos melhores do que “os outros”. Os pentecostais se consideram melhores do que os tradicionais, e vice-versa. Quantas vezes já ouvi pastores pentecostais referindo-se a crentes tradicionais como “sorveterianos” ou “geladerianos”, e tradicionais denegrindo irmãos de fé, referindo-se a eles como “pentecas”? Pessoalmente, nunca me senti bem com isso, e jamais concordei também.

Talvez seja porque faço parte de uma organização (Os Gideões Internacionais) que congrega irmãos de diferentes confissões em harmonia e trabalho cooperativo exemplar. Talvez porque, desde que me converti, sempre procurei ver meus irmãos de outras denominações como família, com todas as suas nuances diversificadas.

Uma frase do filme, dita pelo “coach” (treinador) negro foi impactante, e dá a tônica do filme: “Todas as outras equipes são brancas. Nós somos a única equipe com brancos e negros, e é justamente isso que nos torna melhores, porque podemos explorar o que temos de melhor… vocês já são vencedores simplesmente pelo fato de conseguirem se relacionar sem se matarem uns aos outros”. Não foram exatamente essas palavras, mas o sentido foi esse.

Então, comentei com minha esposa: quando dizemos que somos melhores do que “os outros”, nós focamos apenas aquilo que os outros têm de ruim, e externamos aquilo que temos de pior. Ao apontar os defeitos alheios, estamos apenas demonstrando nossa incapacidade de incompreensão, julgando-nos superiores e condenando os inferiores. Estamos pecando! Não há outra palavra que descreva melhor o que fazemos: pecado! Estamos errando o alvo, estamos reedificando os muros de separação que Deus derrubou.

Quando me recordo de um dos vídeos de avivamentos de cidades inteiras que assisti, lembro-me da cidade de Hemet, Califórnia. Após o Senhor agir, derramando fogo nos corações dos crentes e graça salvífica no coração dos incrédulos, lembro-me de um dos pastores dizendo: “agora os pastores pentecostais pregam no púlpito dos tradicionais, e vice-versa”.

Precisamos, como igreja brasileira, crescer, amadurecer e deixar as coisas “de menino” para trás, no passado, unindo forças e aprendendo uns com os outros. O que faz o ministério gideônico uma obra singular e tão próspera é o fato de a diversidade ser uma qualidade, e não um defeito. Lá, pentecostais aprendem com tradicionais, reformados aprendem com dispensacionalistas, e as qualidades se tornam evidentes em meio à diversificação de dons.

Assim como o time misto de negros e brancos, venceu as partidas, e se tornou referência, transformando a cidade cuja sociedade era maculada pelo vírus do racismo, assim a igreja deve aprender a combinar suas diferenças por meio da superação das divergências.

E como você pode contribuir com isso? Em primeiro lugar, para começar, não aceite que denigram a imagem de seus irmãos na sua frente, e risque de seu vocabulário palavras como “penteca” e “sorveteriano”, que em nada contribuem para o avanço do Reino, mas somente para fazer pilhéria com aqueles por quem Cristo morreu.

Lembre-se: quem gosta de fazer piada com vaso de Deus é o diabo:

Alegrando-se-lhes o coração, disseram: Mandai vir Sansão, para que nos divirta. Trouxeram Sansão do cárcere, o qual os divertia. Jz 16.25

Que Deus nos dê sabedoria e discernimento para sermos aquilo que Ele nos projetou para ser:

Dele todo o corpo, ajustado e unido pelo auxílio de todas as juntas, cresce e edifica-se a si mesmo em amor, na medida em que cada parte realiza a sua função. Efésios 4:16

Mais um post tentando criar reflexões úteis aos leitores, aqui no blog Desafiando Limites.

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Wallace

Just another little servant of the Lord Jesus Christ. Apenas mais um pequeno servo do Senhor Jesus Cristo. Editor do blog Desafiando Limites (https://wallysou.com). Crítico do cristianismo evangélico da prosperidade e pensador cristão amador.

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