Cessaram os Dons Espirituais nos Dias Atuais?

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Cessaram os Dons Espirituais nos Dias Atuais?

por Wallace Sousa(1), com Raíssa Bomtempo(2), do blog Desafiando Limites.

Este post pretende discutir – de forma saudável – a controvérsia da Atualidade dos Dons Espirituais, mormente aqueles descritos em 1 Co 12, listados abaixo. Segue, ainda, uma breve descrição do que cremos – nós, pentecostais – ser a função de cada um deles, grosso modo:

  1. palavra da sabedoria – uma capacidade interpretativa sobrenatural das Escrituras, de modo a aplicá-las a determinadas situações e/ou pessoas, como se fosse o próprio Deus falando através daquele texto. Acontece muito quando alguém diz que parecia o “pregador estava falando sobre a minha vida“;
  2. palavra da ciência ou conhecimento – uma capacidade sobrenatural de conhecer ou saber sobre determinadas circunstâncias ou sobre fatos da vida de uma pessoa que, de outro modo, não seria possível, com o propósito de exortar, consolar ou edificar alguém. Geralmente é quando Deus revela informações específicas sobre a vida de outras pessoas. É um dom raro (conheço apenas uns 3 ou 4 usados assim) e, ao contrário do que parece, não é muito fácil de ser copiado justamente pela facilidade de ser desmascarado;
  3. – uma capacidade sobrenatural para crer na Palavra de Deus, sem reservas, e também no agir de Deus na concretização de suas promessas ou desígnios, ainda que humanamente improváveis de acontecer. Isso abrange situações como a de Pedro, em Atos 12, que estava na prisão, mas a igreja orava e Deus enviou o anjo para libertá-lo;
  4. dons de curar – capacidade de se orar por doentes ou enfermos e eles serem curados, com o auxílio ou não da medicina, mas com mais evidência SEM o auxílio dela, embora não descartando a interferência humana, mormente quando a cura for altamente improvável, como uma rápida e inexplicável recuperação de coma, por exemplo;
  5. operação de maravilhas ou milagres – atuando em cooperação direta com o dom da , que capacita aquele que ora e crê que Deus vai agir alterando situações e circunstâncias para realizar algo espantoso, imprevisto e improvável como, por exemplo, trazer um frio intenso a uma das capitais mais quentes do Brasil;
  6. profecia – falar com autoridade divina, revelando segredos ocultos do coração, às vezes, descortinando o passado e o íntimo ou, ainda, predizendo o futuro ou revelando acontecimentos que irão se concretizar no futuro. A profecia pode acontecer de outras formas, mas sempre respeitando o objetivo de exortar, consolar ou edificar sendo, às vezes, concomitante com a palavra da sabedoria e/ou de conhecimento;
  7. discernir os espíritos – capacidade sobrenatural para conhecer o íntimo ou as razões pessoais que movem as pessoas, podendo tanto revelar que aquelas estão em desacordo com estas ou ratificar que há coerência entre ambas. A primeira situação (fingimento, falsidade) é mais comum, como aconteceu com Pedro diante de Ananias e Safira, em que o Espírito Santo revelou a  real motivação do casal;
  8. variedade de línguas – falar, sobrenaturalmente, línguas desconhecidas pelo sujeito que as fala. Há uma segunda controvérsia aqui, sobre de que tipo seriam essas línguas, se celestiais (angelicais) ou idiomas humanos, mesmo os extintos. Particularmente eu, Wallace, acredito que seja perfeitamente possível ambos coexistirem, embora seja difícil comprovar qual seja a língua que os anjos falam… risos. Agora, sério: este talvez seja o dom mais mal utilizado e superdimensionado entre todos… e, nós, pentecostais, temos boa parte dessa culpa;
  9. interpretação das línguas – capacidade sobrenatural de interpretar corretamente as línguas faladas no item anterior como, por exemplo, alguém estar falando em idioma desconhecido aos ouvintes e o outro crente interpretar, sem conhecimento pretérito do idoma interpretado. Conheço vários testemunhos da atuação desse dom que é, para mim, um dos mais belos que já tive o prazer de presenciar.

Alguns ensinadores fazem uma distinção puramente didática ou seja, não exatamente doutrinária, dos dons, agrupando-os em dons de poder (fé, milagres e de curas), dons de revelação (palavras de sabedoria, conhecimento e discernimento de espíritos) e dons vocais ou comunicativos (profecia, variedade de línguas e sua interpretação).




Posso, ainda, agrupá-los segundo a estrutura do Corpo de Cristo: os dons de revelação com a mente e os olhos desse Corpo, os de poder com os membros (braços e pernas) do Corpo e, finalmente, os de comunicação com a boca e os ouvidos do Corpo. Essa classificação, em que pese útil para seu entendimento funcional, serve mais como técnica de memorização de quantos e quais os tipos de dons mencionados em 1 Co 12.

Um Breve e Necessário Esclarecimento

Por questão de justiça, este post tem sua inspiração em post semelhante do blog O Tempora, O mores, de autoria do rev. Augustus Nicodemus Lopes, o qual recomendo prontamente a leitura e que você pode conferir clicando aqui. Sua posição, que ele mesmo não soube denominar, eu poderia – ousadamente – classificar como Cessacionista Aberto, visto que ele, apesar de acreditar que os dons espirituais hoje não são mais necessários e/ou úteis, como o eram para a comunidade cristã primitiva, está aberto a evidências de que Deus ainda opere por meio deles, caso encontre comprovaçõa legítima disso.

Todavia, neste post não pretendemos, a priori, trazer essas evidências, ainda que isso possa eventualmente ocorrer. Queremos, apenas e tão somente, fazer um contraponto aos argumentos utilizados pelo rev. Augustus e tentar reproduzir um texto que demonstre o mesmo respeito e tolerância para com os irmãos cessacionistas. Querer que o texto reproduza a mesma elegância estética e literária do dr. Augustus já é pedir demais (risos).

Entretanto, caso ocorra, desejo que a discussão aqui fomentada tenha a mesma postura equilibrada, ética e de alto nível que encontrei nos mais de 60 comentários do post, alguns dos quais fui contribuinte e recebi réplicas bastante sensatas e ponderadas, mormente do irmão Gustavo Amorim. Valeu, Gustavo!

  • Uma dica útil: se achar a entrevista muito enormemente exagerada de grande (spoiler: é sim), você pode ler as perguntas e ver qual delas lhe interessa mais, e ler as respostas, sem precisar ler tudo, ok?

Quero, ainda, dizer que pedi ao rev. Augustus a permissão para utilizar sua entrevista fictícia como base deste post. Algumas das perguntas reproduzem aquilo que foi postado lá, enquanto outras foram adaptadas para seu uso aqui no blog Desafiando Limites. Apesar de não ter recebido sua permissão explícita, a aprovação de meu comentário com essa solicitação serve como permissão tácita, visto que a desautorização não ocorreu.

É preciso, ainda, reconhecer que um post dessa natureza requer um nível de conhecimento e experiência tal que, obviamente, não possuo, sendo motivo para não considerar este post autoridade última no assunto. E, para não ficar só nas minhas palavras enriquecer o debate, quero convidar a Raíssa Bomtempo para também deixar suas considerações sobre o tema, visto que ela é membro da Igreja Presbiteriana em Minas Gerais, em tese uma igreja que coaduna e comunga com o ponto de vista esposado pelo nobre chanceler da prestigiada faculdade Mackenzie.

E, apesar das discordâncias com o autor, se tem algo que preciso E quero concordar com o rev. Augustus é que este assunto é importante para nós hoje. Além disso, que sua discussão é extremamente necessária, visto que afeta nosso dia-a-dia como cristãos, e não podemos ficar alheios a ele. Então, se você é pentecostal (como eu), talvez este texto pouco contribua para consolidar sua posição, falando francamente.

Talvez esclareça, quem sabe, algumas (poucas) coisas, mas não espere por grandes revelações de minha parte (entendeu, ! risos). De outro lado, se você é cessacionista, é possível que encontre aqui algum subsídio para reconsiderar a questão, mesmo sem sair daqui convencido – afinal quem convence o homem é o Espírito Santo, certo? E ninguém melhor do que Ele nesse assunto que Ele domina como ninguém, concorda? =)

Mas, deixando claro: não quero convencer ninguém de nada, a pensar ou despensar algo sobre os dons espirituais – árdua tarefa esta, de tentar ser imparcial. Assumo: provavelmente vou falhar… entretanto, espero conseguir ser, ao menos, coerente sem ser insistente.

E, mais importante de tudo: quero tentar implementar aqui a sugestão que deixei no post ao rev. Augustus, que é abrir um canal de diálogo entre as vertentes cessacionista e continuísta, esclarecendo que “continuísta” é o nome dado aos reformados que creem na atualidade dos dons, como a Raíssa. Ops! Revelei o mistério (risos)! Mas, vou deixar que ela mesma desenrole o rolo (que quer dizer revelar, trazer à tona, em bom pentecostês).

Outra consideração importante:

  • IMHO (em minha humilde opinião, em inglês), ser cessacionista ou continuísta (onde vou incluir os pentecostais junto a estes últimos, embora o termo não os englobe, originalmente) não torna um crente melhor ou pior do que outro. O que distingue para melhor um crente de outro é a intimidade com Deus e sua fidelidade, ou seja, obediência àquilo que Deus ordena em sua Palavra.

E isso, a intimidade e a fidelidade, é algo perfeitamente disponível a qualquer crente, cessacionista ou continuísta, porque caminha à margem dessa discussão e independe da manifestação – ou não – dos dons do Espírito, mas unicamente da presença do Espírito habitando no crente, ou seja, do FRUTO do Espírito. E todo crente salvo em Jesus Cristo, independentemente da denominação cristã a que pertença ou da teologia que abrace, desfruta dessa sublime presença dentro de si.

Mas, vamos, então, às perguntas:

  • Uma entrevista fictícia:

O que um pentecostal clássico e uma reformada continuísta pensam sobre os dons espirituais para hoje

  • Pergunta 1 – Wallace e Raíssa, os dons espirituais cessaram?

Wallace: Se sua pergunta se refere aos dons mencionados na primeira epístola de Paulo aos Coríntios, capítulo 12, minha resposta é um sonoro e convicto NÃO. Não vou, pelo menos não agora, arrolar argumentos teológicos para sustentar minha tese pois prefiro fazer uso de fatos e experiências pessoais para isso. E, como se diz: contra fatos não há argumentos. Eu poderia arrolar muitos testemunhos pessoais meus, nos quais vivenciei a realidade palpável e visível da manifestação sobrenatural dos dons espirituais. Assim, minha única resposta para essa pergunta não é apenas que acredito, mas que SEI que eles não cessaram.

Negar isso seria ir de encontro à minha própria experiência de vida, de conversão e até uma incoerência do que vivo e vejo. O ônus da prova, penso eu, é de quem sustenta que eles cessaram e, convenhamos, é tarefa ingrata afirmar com tanta convicção a não existência de algo quando um único acontecimento que se julgava inexistente pode colocar abaixo todo um cabedal argumentativo… Essa questão deve ser levantada: os dons cessaram? Ok, cessaram. Então, vamos examinar as evidências. Mas, peraí! As evidências contradizem o que afirmo, e agora? O peso das evidências deve ser maior do que o das premissas. E quando estas são invalidadas por aquelas, as primeiras é quem devem prevalecer, e não o contrário.

Raíssa: De forma alguma. Os dons espirituais não cessaram e nunca irão cessar. Dizer que os dons espirituais cessaram é o mesmo que dizer que Deus mudou e isso fere diretamente o Seu caráter Santo e Imutável. A Palavra de Deus afirma que céus e terra passarão, mas, que a Sua Palavra não há de passar (conforme Lucas 21,33). E, ainda, neste ínterim, a Bíblia afirma: “Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança, nem sombra de variação” Tiago 1.17. (grifo por mim)

Este tema, além de polêmico é sério. Polêmico porque Deus se revela de várias formas na Bíblia e continua se revelando atualmente, quem somos nós para limitar ou tentar desvendar os mistérios do Espirito Santo de Deus? Algumas coisas da Bíblia só nos serão reveladas na eternidade, portanto, acredite, muitas das coisas que vou falar aqui são interpretações minhas e baseadas em minhas experiências pessoais com Deus.

O que cessou, a meu ver, foi a seriedade que este tema deveria ser tratado. Polemizamos o que não deveria ser polêmico. Criamos um sensacionalismo e perdemos a reverência. Deus ao distribuir os dons espirituais visa, nada mais nada menos, que nos levar a reconhecer a nossa pequenez diante de um grande Deus ilimitado e poderoso. Então, observe, os dons continuam a existir, mas precisamos de muito discernimento e cautela para saber o que vem de Deus e o que não está de acordo com as Sagradas Escrituras. TUDO o que acontece no meio cristão deve ser pautado e filtrado com a PALAVRA DE DEUS. Ela é o nosso guia de direção e discernimento para saber o que provém do Espírito Santo e o que provém da carne.

* Uma pequena pausa: como o texto é grande, para não atrapalhar a formatação do blog, vou dar um break e você poderá continuar lendo se gostou dessa breve degustação, clicando a seguir.

  • P. 2 – Então, vocês não se definiriam como cessacionistas?

Wallace: Não, de forma alguma eu me definiria como cessacionista. Todavia, isso não quer dizer que eu tenha algo contra meus irmãos cessacionistas ou que isso me cause algum impedimento nessa comunhão fraterna. E, também, isso não me serve como pretexto para me considerar mais espiritual do que um crente cessacionista. Aprendi, com o tempo e também pela leitura da Bíblia, a ser maduro o suficiente para não deixar que a comunhão e unidade cristã gravitem em torno de temas polêmicos e de cunho, muitas vezes, decisório pessoal. Acredito que não sou melhor do que os cessacionistas por viver a realidade dos dons espirituais. Todavia, quero deixar bem claro para alguns cessacionistas mais xiitas (radicais) que também NÃO sou pior do que eles por ser continuísta (pentecostal).

Sou apenas… diferente.

Raíssa: Me defino como uma cristã prudente e muito cautelosa. O que isso quer dizer? Eu busco a Deus intensamente, de todo meu coração. O amo de toda a minha alma e entendimento. Tenho um relacionamento vivo e pessoal com Ele. Minha intimidade é fruto da minha vida de oração. A Bíblia diz, em Salmos 25, que os segredos de Deus são para os que O temem. Nos tornamos íntimos de alguém a medida que buscamos conhecê-la, não tem outro caminho, não é verdade? Da mesma forma acontece em nosso relacionamento com Deus, à medida que buscamos conhecer o Seu caráter conseguimos distinguir com mais facilidade o que está de acordo com a Sua palavra e o que não está. É onde o Espírito Santo de Deus confirma em nossos corações e nos dá discernimento sobre o que é verdade e o que é mentira.

Dessa forma, com meu conhecimento da Palavra de Deus e minha intimidade com o meu amigo Espírito Santo, procuro ser prudente e analisar os fatos com discernimento. Claro que posso me enganar em relação a algumas manifestações, afinal, estamos sujeitos a falhas e maus julgamentos. E, mais, confesso que muitas vezes tenho a visão muito crítica acerca de algumas coisas no meio cristão exatamente por ver que os dons espirituais atualmente foram banalizados e muitas pessoas usam deste meio como forma de promoção e sensacionalismo. E, mais, os dons espirituais são importantes para a vida cristã, porém não são prioridade, eles não podem competir com a eficácia da Palavra de DEUS. O evangelho é puro e simples. A Palavra de DEUS é eficaz em todas as suas formas, independente de haver continuidade de sinais ou não,  se ocorrer alguma manifestação do sobrenatural ou não! Se basearmos a nossa fé naquilo que os olhos podem ver estamos fadados ao esgotamento espiritual, pois, a vida com Deus, na maior parte da caminhada é andar, literalmente, pela fé.

Discordando um pouco do Wallace, eu não me defino nem como cessacionista e nem continuísta. Há sempre um grande perigo nos extremos, e é isso que procuro evitar, então, diante disso, busco o equilíbrio e aquilo que está pautado nas verdades incontestáveis das Escrituras Sagradas.

  • P. 3 – Bem, a discussão moderna gira mais em torno dos dons chamados sobrenaturais, como curas, línguas, profecias… se Deus é o mesmo hoje, ontem e eternamente, então estes dons estão disponíveis hoje, como estavam na época dos apóstolos?

Wallace: É assim que acredito, pois se Deus é o mesmo hoje, ontem e eternamente, o que impediria que Ele escolhesse os mesmos meios de se revelar ao Seu povo, ainda que de forma um pouco diversa do passado, fazendo uso de raciocínio usado por Cessacionistas Abertos, como o rev. Augustus sustenta? Mas, que fique claro que não estou assemelhando essa revelação particular à que era peculiar às Escrituras como Revelação Especial e última de Deus. Ou seja, eu vejo os dons como algo complementar à experiência pessoal com Deus, mas não como substituto ou complemento à Bíblia. Também quero pontuar que, às vezes, somos acusados de sermos modernos escribas querendo fazer “adendos” à Bíblia! Tenha a santa paciência

Sendo sincero, assim como muitos cessacionistas se decepcionam em serem tachados de semi-espirituais por pentecostais imaturos, é bem irritante ser classificado como um “profeta retardatário”: aquele que profetiza por último. O respeito deve se dar como via de mão dupla: indo e voltando.

Raíssa: Sim. Porém, observo que na época dos apóstolos todas as vezes que as manifestações de Deus se deram através dos dons o Senhor tinha algum propósito que ia muito além que simplesmente impressionar a multidão. Deus tem o Seu meio de agir e atuar no meio do Seu povo, como Ele tem Seu meio de se revelar intimamente a nós. Se aprouver a Ele usar dons das mais variadas formas nos dias atuais Ele assim fará.

Acredito piamente que os dons sobrenaturais continuam disponíveis hoje, já tive experiência com muitos deles. Contudo, o grande receio que tenho é que vejo muitos cristãos que focam muito nos dons de curas, profecias, revelações, línguas é perdem o foco. Os dons estão disponíveis sim para todos aqueles que crêem, contudo, não podemos basear o nosso relacionamento com DEUS apenas neles, pois o Senhor distribui os dons conforme o Seu querer e a Sua vontade soberana. Ele se manifesta quando quer e onde quer. Ele cura e revela de forma sobrenatural se aprouver a Ele fazer.

Minhas experiências mais lindas com Deus eu guardo só para mim. Os dons que tenho recebi sozinha, no meu quarto, em joelho e oração.

Algumas coisas que podem trazer edificação para um pode ser motivo de vergonha e intimidação para outro, e nunca fará parte do caráter de Deus excluir uns e abraçar outros, constranger uns e aplaudir a outros. Em todas as lições que JESUS nos deixou em seu período na terra Ele fazia todos se sentirem amados e incluídos e jamais o contrário. Os dons espirituais deveriam vim como um presente sobrenatural, mas, muitos de nós usamos inconvenientemente, entristecendo assim o Espírito Santo de Deus e envergonhando o Evangelho.

  • P. 4 – Mas, o que há de tão especial no período atual para Deus conceder estes dons sobrenaturais?

Wallace: Minha opinião é que a Igreja passa pelas mesmas dificuldades em todas as épocas, embora reconheça que essas dificuldades mudem em forma e, às vezes, em intensidade. Hoje em dia, ser cristão sincero e piedoso envolve uma boa dose de renúncia pessoal diária que, confesso, não é nada fácil para mim. E, pensando em termos de contextualização histórica, se os primeiros séculos foram de grande perseguição para a Igreja de Cristo, justificando – em tese – o derramamento dos dons espirituais nos crentes, o que dizer da época atual, que Paulo expressamente se dirigiu a Timóteo dizendo que seriam “tempos difíceis” ou trabalhosos, pelo próprio Espírito?

Se analisarmos a crescente onda de falsos profetas que se alastra como se fosse praga (ops! mas eles SÃO praga…), e as falsas doutrinas que ameaçam a Noiva do Cordeiro, isso não seria um motivo relevante para que a igreja tivesse, à sua disposição, essas ferramentas tão úteis e importantes? Veja que os argumentos pela NÃO atualidade dos dons podem ser invertidos e convertidos (risos), mas preservando o mesmo poder de persuasão.

Raíssa: Acredito que Deus sabe as nossas necessidades mais profundas. Ele sabe as necessidades atuais da igreja evangélica. Falando por mim mesma, e por minhas experiências pessoais com Deus, todas as experiências que já tive com o sobrenatural de Deus vieram quando eu mais precisava ser fortalecida espiritualmente. Vou ser mais clara por meio de um exemplo. Quando algo sobrenatural acontece em minha vida, gosto de chamar isto de “sustos de amor de Deus”, pois, geralmente, acontece naqueles momentos em que minha fé tende a fraquejar.

A vida é assim, as pessoas nos decepcionam, a ansiedade bate na porta, as aflições são inevitáveis, as dificuldade certas, o caos amedronta e o medo invade o coração Deus age de forma sobrenatural para trazer alívio ao meu coração aflito e sem esperança. Por isso vejo que na minha fraqueza Ele se faz tão forte.  Mas, isto não é uma regra. Deus não tem regras para agir. Ele também já me deu vários “sustos de amor” em momentos de alegria e vitória, contudo, em minha vida essas coisas acontecem mais nas ocasiões que citei. .

Já tive várias experiências, Deus fala muito comigo através dos meus sonhos e em todas as vezes que Ele se revela assim Ele visa me alertar, livrar ou até fortalecer a minha fé com sonhos sobre o meu próprio futuro. Da mesma forma, Deus já usou servas e servos de Deus para me falar coisas que só eu e Deus sabíamos! A última experiência sobrenatural foi agora, há menos de 15 dias. Eu enviei um e-mail para um amigo dizendo que iria fazer uma viagem de férias e ele respondeu que Deus havia lhe direcionado a me dizer que eu encontraria, nessa viagem, alguém muito influente e algo em mim chamaria atenção nesta pessoa e afirmou, ainda, que eu teria oportunidade de conversar com ela.

Eu confesso: debochei no meu intimo! Mas, se até Sara riu, por que eu não podia, (risos)? Afinal, já fiz várias viagem semelhantes e nunca tive contato com nenhum cristão eminente. Mas, o susto do amor de Deus aconteceu independente da minha incredulidade. No 4º dia de viagem tive a oportunidade de conhecer um homem MUITO influente (MUITO!), o Bispo Atila Brandão e, no último dia, ele se assentou na mesa ao meu lado para tomar café da manhã e tivemos a oportunidade de conversar por mais de 1 hora. Gente, Deus realmente me surpreendeu!

Mesmo sem precisar, Deus continua fazendo de TUDO para me surpreender e chamar a nossa atenção. Precisava? NÃO! A Bíblia é suficiente para mim. Como dizia Martinho Lutero: Estou satisfeito com o dom das Escrituras Sagradas. Não obstante, guardarei em meu coração para sempre cada experiência que Ele me proporcionou, certamente, nesses momentos em que eu precisei muito, e elas me trouxeram para mais perto de Deus, e contribuíram para que eu me tornasse uma mulher ainda mais sensível à doce voz do Espírito Santo. Em suma, não vejo ambos como mutuamente excludentes.

  • P. 5 – A questão de estes dons aparecerem em algumas das listas de dons espirituais do Novo Testamento como ferramentas do Espírito dadas a todos os crentes para edificar a igreja de Cristo reforça seu posicionamento sobre o tema?

Wallace: De fato, se eles não aparecessem no texto inspirado, poder-se-ia dizer que a discussão não seria mais sobre a atualidade – ou não – dos dons espirituais, mas esse eixo de discussão seria deslocado para a cadeira de heresiologia. Acredito que a listagem dos dons nos escritos paulinos nos possibilita discorrer e discutir sobre eles sem receios de estar em terreno perigoso à fé, flertando com a heresia e, consequentemente, apostasia. Em adição, uma análise acurada desses escritos de Paulo nos servirá de peneira teológica para verificar se os dons atuais estão alinhados com o que Paulo cria. E, não é supresa, a igreja de Corinto, abundante na posse dos dons, era constante fonte de dor-de-cabeça ao apóstolo justamente por usar e abusar dos dons, e isso deve nos servir de alerta para um exercício equilibrado dos charismas (dons espirituais).

Raíssa: Claro! De acordo com o Wallace em genêro, número e grau. (risos).

  • P. 6 – E qual seria então o critério para dizermos que os dons permanecem para os dias de hoje e por que não cessaram?

Wallace: Acho que respondi a esta questão na pergunta n.º 4, de modo que considero desnecessário repetir os mesmos argumentos aqui, além de poupar os leitores, claro (risos).

Raíssa: Eu também acho que respondi no nº 4.

  • P. 7 – Por este critério – o de continuidade – o dom de línguas permanece atual também?

Wallace: Perfeitamente. Mesmo porque, lendo os escritos de Paulo, que disciplinam o tema, é possível notar que o dom de línguas seria o mais “básico”, digamos assim, entre os listados por ele na primeira epístola aos Coríntios. Senão, vejamos quando ele diz:

“E a uns pôs Deus na igreja, primeiramente apóstolos, em segundo lugar profetas, em terceiro doutores, depois milagres, depois dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas. 1 Co 12:28-29.

E, também:

“E eu quero que todos vós faleis em línguas, mas muito mais que profetizeis; porque o que profetiza é maior do que o que fala em línguas, a não ser que também interprete para que a igreja receba edificação”, 1 Coríntios 14:5-6 (grifos acrescidos).

É notório que, muitas vezes, parece haver uma inversão desses valores, esquecimento ou negligência dessa recomendação, quando vemos alguém falar APENAS em línguas, ficar estacionado espiritualmente ali e dali não sair, por receio ou ignorância. Quem sabe, nós pentecostais, estejamos necessitando de uma renovação (entendeu, !) de nossa praxis e voltar a incentivar os crentes não apenas a buscar o batismo com o Espírito Santo, como assim o denominamos, mas um aprofundamento e estreitamento no relacionamento com Deus. E, certamente, buscar os melhores dons (1Co 12.31) deve fazer parte dessa iniciativa.

Raíssa: Alguns podem não concordar comigo, eu sei, mas vou ser sincera no meu posicionamento. As experiências com Deus são pessoais e intransferíveis.  Deus é tão perfeito que faz cada um de nós de um jeito. A meu ver o dom de línguas é o menos necessário, pois é o que menos me edifica. Acredito no dom de línguas sim, contudo, tantos têm feito mau uso dele que melhor seria que as pessoas que tem este dom usassem com mais prudência, de preferência sozinho em oração, para sua própria edificação ou, como orientou Paulo, em situações que haja a presença de uma pessoa com o dom de interpretação de línguas.

Na ocasião em que o dom de línguas foi distribuído, no Novo Testamento, existia uma multidão oriunda de várias nacionalidades, sendo assim, Deus usou o dom de línguas para que todos compreendessem o que estava sendo falado naquele lugar. E, hoje em dia, o que geralmente vemos é que o dom de línguas surge para que a maioria das pessoas se sintam confusas por não saber do que o outro está falando. Eu sou sim um pouco resistente quanto a isto. Vocês tem todo o direito de discordar. Eu respeito todos os posicionamentos, mas tenho minhas convicções pessoais e não acho válido discutir sobre isso, pois não me edifica em nada.

Já teve ocasiões em que pessoas oraram por mim em línguas e Deus sussurrava a interpretação ao meu ouvido. Essas experiências são fortes e muito marcantes. De outro lado, confesso, na maioria das vezes que presenciei pessoas orando em línguas achei completamente desnecessário e banal. Contudo, aí está uma grande falha minha. Quem sou eu para dizer o que vale e o que não vale? O que está certo ou errado? Uma coisa eu sei, o que não edifica, corrompe ou atrapalha. Neste caso, o dom de línguas poucas vezes serviu para a minha edificação. Ratificando meu posicionamento: o dom de línguas, a meu ver, só tem finalidade se dela resultar uma interpretação – confirme em I Coríntios 12:30.

  • P. 8 – Mas, então, isto quer dizer que os crentes que falam em línguas são sinceros e estão sendo movidos pelo Espírito Santo?

Wallace: Sim. Entretanto, não podemos descartar o fato de que existem pessoas movidas unicamente pelo lado emocional ou psicológico. E ainda existem, claro, aquelas pessoas fraudulentas que são/estão sob a influência maligna-demoníaca e estão se fazendo passar por crentes “batizados no Espírito”. Estes, evidentemente, não falam em línguas, apesar de serem da raça dos linguarudos, rabudos e chifrudos.

Raíssa: Não. (desculpe Wallace, mas você disse que eu poderia discordar, agora aguenta! risos). Concordo quando disse sobre a raça de linguarudos, e, sinceramente, vejo mais dessa turminha no meio gospel que servos fiéis que realmente tem o dom de línguas movidos pelo Espírito Santo. Mas, Graças a Deus para toda a regra existem exceções. Existem, sim, muitos servos de Deus, completamente usados pelo Espírito Santo para desencadear benção e proporcionar livramentos por meio do dom de línguas, o que falta é sabedoria de muitos para usá-la.

  • P. 9 – Não consigo perceber qual é o bem em se falar em línguas hoje nas igrejas. Qual o benefício?

Wallace: Aquele que Paulo citou: “quem fala em línguas, edifica-se a si mesmo“. Talvez, como já disse, falte um pouco mais de disciplina em nossos cultos públicos. E, claro, corrigir nossa compreensão média de que quem fala em línguas é, de algum modo, superior ou mais espiritual do que quem não fala. Afinal, se alguém está precisando ser edificado, não seria isso um indício de que ele está meio… derrubado (risos)? Ora, se Paulo dizia que dava graças a Deus que falava em línguas MAIS do que os outros, isso pode ser evidência que ele precisava disso (pelas circunstâncias, problemas e dificuldades que enfrentava), e não que isso era um símbolo de super-espiritualidade.

Aqui falo em meu nome apenas, expressando um entendimento que não é usual nas igrejas Assembléia de Deus. E também posso estar equivocado, claro.

Raíssa: Boa pergunta! Pode sim ter benefícios, mas como eu respondi na pergunta 7, precisa haver interpretação, se não é vazia de qualquer finalidade, em minha opinião. E, ainda, se o propósito maior não for o de edificar a si mesmo não vejo benefício algum, pelo contrário, vejo que causa tumultos. Devemos fazer tudo com bom senso. Não é tudo que nos edifica. Cada um sabe o que traz edificação para si, contudo, precisamos tomar cuidado para que a nossa edificação não seja motivo de escândalo para outros, principalmente para os que são novos na fé e ainda não tem o discernimento necessário para reter apenas o que é bom e edificante.

  • P. 10 – Alguns afirmam que você somente pode falar em línguas se foi batizado com o Espírito Santo? E vocês, o que dizem?

Wallace: Sim, segundo o que é ensinado nas igrejas pentecostais clássicas, é assim mesmo. Mas, sinceramente, não me sinto confortável em ratificar 100% essa tese, embora também não a rejeite. Apenas, acho que ela pode ser flexibilizada: regra geral, sim. Mas, acho perfeitamente possível alguém ser “cheio do Espírito Santo” e não falar em línguas, caso de algum cessacionista, por exemplo. Por que não? Todavia, minha experiência particular e pessoal aponta para a regra geral: cheio => fala em línguas.

Entretanto, falar em línguas não deve ser encarado como um selo de espiritualidade. Veja meu exemplo: por vezes, falo em línguas quando estou bem derrubado, sabe? Desesperadamente carente de edificação… se é que você está me entendendo! risos

Raíssa: Não consigo ver a possibilidade de uma pessoa se dizer cristão e não ser “batizada” no Espírito Santo. Acho redundante esta afirmação e um tanto quanto preconceituosa e constrangedora. Para mim é impossível separar a conversão pessoal com o “batismo no Espírito Santo”. Um está diretamente ligado ao outro. A intimidade com o Espírito Santo é um processo, assim como a santificação. A vida com Deus é feita de momentos que, acumulados, fortalecem a nossa fé e nos ajudam na jornada.

Acho completamente equivocado medir a espiritualidade de uma pessoa com uma experiência “única” com o Espírito Santo, chamada de “batismo no Espírito Santo”. Eu fui batizada no Espírito Santo no ato da minha conversão, aos 11 anos, em um acampamento da igreja. O Batismo foi algo íntimo, pessoal. A vida cristã é muito mais que momentos de emoção e fervor. A vida cristã deve ter um equilíbrio que nos faça caminhar em retidão e confiança, ainda que os nossos olhos não vejam sinal algum.

  • P. 11 – Mudando um pouco de assunto… Deus ainda cura hoje?

Wallace: Claro. Eu já fui curado. E mais de uma vez. E pela oração, sem intervenção médica. E conheço muitas pessoas, mas muitas mesmo, que também foram curadas através da oração. Eu já orei por pessoas e elas foram curadas. Orei por outras também, mas que não foram curadas. Mas, por que eu não sei quem Deus vai curar, eu vou deixar de orar? Claro que não. Prefiro seguir o exemplo do sacerdote Samuel que disse “longe de mim pecar deixando de orar por vós ao Senhor“. E, finalmente, se oramos crendo na cura, mas pedindo de acordo e que seja feita segundo a vontade do Senhor, então nossa responsabilidade é de orar, e a dEle de curar, como e quando Ele quiser, com ou sem o auxílio das ciências médicas. E se Ele não curar? Bem, Ele deve saber o que está fazendo… nós é que podemos não estar entendendo – ou aceitando – sua vontade soberana.

Raíssa: Claro! Fazer o impossível acontecer é uma das maiores especialidades de Deus. Não obstante, Ele é soberano e a Sua vontade irá prevalecer. Precisamos lembrar que Ele nos dá autoridade e fé para curar e receber cura, contudo, é a vontade dEle que prevalece e não a nossa. Ele vê as situações desfavoráveis sob as lentes da eternidade. Nós sofremos com as situações, pois só enxergamos com olhos temporais, efêmeros. Os propósitos de Deus são eternos e sempre bons, ainda que nós não entendamos.

  • P. 12 – Jesus disse certa feita que quem cresse nele faria os mesmos sinais que ele fez. Esta promessa é também aplicável aos dons espirituais ou não?

Wallace: Essa pergunta é até simples de ser feita, embora sua resposta seja complexa. Particularmente, eu não utilizo esse verso como argumento em favor dos dons espirituais, mas respeito quem o faça. Eu apenas creio que existem outros meios mais fáceis de serem evocados em defesa do continuísmo carismático (do grego, charisma: dom). Para mim, a maior defesa é a existência atual dos dons. E sobre os milagres, o dom da fé está disponível para isso mesmo: para quem tem fé. Mas, quando oramos subordinando nossa vontade à de Deus, a última palavra é sempre dEle, para a glória exclusivamente dEle.

Raíssa: Assim como o Wallace, eu não utilizo esse verso como argumento em favor dos dons espirituais. Entendo que a interpretação desse versículo deveria ser mais voltada ao Evangelismo e ao foco de fazer o amor de Jesus ser visto em nossas vidas. O maior sinal de todos, visível na vida de Jesus, era o amor. Será que ele não se referia a este sinal quando ensina essas palavras? Nosso erro é interpretar a Bíblia de acordo com nosso beneficio próprio e deveríamos interpretar com o beneficio para o Reino de Deus. Precisamos voltar ao Evangelho.

  • P. 13 – E quanto a sonhos e visões? É possível que eles se manifestem hoje como no passado?

Wallace: Perfeitamente. Eu mesmo posso testemunhar que já tive algumas visões, e meu testemunho de casamento explicita isso. Já os sonhos são mais comuns – pelo menos para mim. Na verdade, Deus começou a falar comigo através de um sonho, antes de eu me converter. E, mais recentemente, tive um sonho bastante agradável, em que eu passeava e conversava com um anjo. Pena que, das 3 perguntas que lhe fiz, ele só me deu a resposta de uma… mas, faz parte.

Raíssa: Com certeza! Os mistérios da minha vida são desvendados por sonhos e visões. Já tive revelação por visões mas, normalmente, Deus se comunica comigo através de sonhos. Entretanto, é necessário frisar: os sonhos que Deus me dá, quando são revelações, SEMPRE antecedem algum outro tipo de confirmação, seja Deus usar alguma pessoa para falar comigo sobre aquilo ou até mesmo através da Bíblia. Isso é o Espírito Santo testificando que aquele sonho provém ou não de DEUS.

  • P. 14 – Vamos falar sobre o dom de profecia. Afinal, ele existe hoje ou não?

Wallace: Eu tenho visto alguns cristãos se manifestarem contrários à atualidade do dom de profecia, e tenho notado uma certa similaridade de raciocínio entre eles. Desses argumentos, os principais que tenho visto e que vou refutar aqui são o da ignorância (“eu nunca vi, nunca presenciei, então não existe“) e o da lógica inversa forçada (“existem tantos relatos de falsas profecias que não devem existir profecias legítimas“).

Quanto ao primeiro argumento contrário à profecia atual, é muito fácil de refutar: ora, o fato de alguém nunca ter visto ou presenciado algo não significa sua não-existência, mas é apenas um recibo da ignorância ou desconhecimento daquele que afirma isso. Honestamente, tal pessoa deveria dizer: eu não conheço, então não sei se existe, mas nunca afirmar que não existe baseado em sua completa ausência de conhecimento empírico sobre o tema. Se fosse assim, como poderíamos crer no Senhor e em sua ressurreição, sem jamais a termos visto? As mesmas formas de comprovação da ressurreição de Cristo são aplicáveis à profecia hoje: evidências documentais, históricas e testemunhais. Por questão de coerência, as pessoas deveriam sair de seu casulo de ignorância e analisar os fatos, se verdadeiros ou falsos. E então, seguimos ao argumento seguinte.

Imagine que alguém analisou várias profecias e só encontrou/comprovou que TODAS as que ele analisou eram falsas. Isso significa que profecias verdadeiras não existem? Claro que não! Prova apenas e tão somente que EXISTEM falsos profetas! Assim como ausência de provas não são prova de ausência, provas contrárias são evidências de fraude. Além do mais, falso profeta e falsa profecia pressupõe, necessariamente, a existência do verdadeiro. Repito: audência de evidência NÃO é (e nunca será) evidência de ausência.

E mais, a existência do falso somente é possível com a concomitante existência do verdadeiro: falso cristo X Cristo; dinheiro falso X dinheiro real; falso profeta X profeta verdadeiro. Se não for assim, até o próprio adjetivo “falso” perde o sentido, não é verdade? Talvez seja necessário buscar um pouco mais até achar o ribeiro onde o homem de Deus se esconde… risos

Raíssa: Claro que existe. Mas é necessário MUITA cautela! Foi Jesus mesmo quem disse:

“Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores”. (Mt 7:15)

Existem profecias e profetadas. Nessas horas que nossa intimidade com Deus e discernimento espiritual nos livra de muitas ciladas. Acredito piamente no DOM DAS PROFECIAS e louvo a DEUS pela vida de muitos servos e servas de Deus que profetizaram sobre a minha vida e tenho visto se cumprindo, minuciosamente, cada Palavra! Não obstante, me envergonho de pessoas que aproveitam deste dom para “inventar” e tentar manipular outros cristãos. Já tive experiência de 3 rapazes, em uma mesma época me dizerem que Deus havia “revelado” que eu seria a esposa deles. Gente, pensa bem… não preciso falar mais nada, né? #aff #me-poupem

Precisamos tomar cuidado com os FALSOS PROFETAS. A Bíblia é muito clara acerca disso e acredito que o inimigo ciranda por aí, lançando dúvidas e insegurança. Deus não é Deus de confusão e sim de Paz.

“… E surgirão muitos falsos profetas, e enganarão a muitos. Mateus 24:11.”

  • P. 15 – Então o caso do profeta Ágabo no livro de Atos, que profetizou por duas vezes acontecimentos futuros, seria um exemplo profético?

Wallace: Sim, acredito que sim. Eu já presencei situações em que pessoas presentes em um culto foram objeto de profecias similares. Como mencionei no começo, conheço 3 pastores que Deus os usa de forma similar (mas, não igual), revelando a vida de outras pessoas de forma extraordinária. Um deles é não apenas usado, mas ousado também, pois ele tem coragem de dizer em culto com milhares de pessoas a placa do carro, número do CPF ou RG e mesmo o nome e sobrenome das pessoas! E eu o conheço pessoalmente e posso atestar sua idoneidade. Eu e uma nuvem de testemunhas! risos

Outro pastor profetizou sobre meu futuro, e tenho anotado na Bíblia o que ele disse: uma parte já se cumpriu e outra ainda estou aguardando. A primeira profecia que ouvi foi quando era novo convertido, de uma irmã do círculo de oração da Assembléia de Deus. Ela profetizou algo sobre meu futuro (que hoje é realidade, embora tenha pouco tempo que veio a se concretizar) e revelou algo sobre meu presente no dia (que também era real). Posso afirmar que ambas foram úteis no passado, e ainda o são até hoje.

Para finalizar, relato o testemunho de um pastor que ouvi pregar. Ele estava em oração em sua casa e um deputado foi procurá-lo para “ratificar” umas profecias que ele havia recebido. Depois de esperar um certo tempo, ficou impaciente e disse à esposa do pastor: “diga a ele que é o deputado tal que veio falar com ele!”, ao que ela respondeu. “Bom, o sr. é deputado, mas ele está falando com o Rei do universo”. Mas, Deus falou com o profeta em seu quarto de oração dizendo que havia alguém que o estava procurando, e o que ele deveria lhe dizer.

Ao chegar, o deputado lhe perguntou: é você aquele que revela a vida das pessoas? E a resposta do pastor: eu não trabalho na kodak pra revelar a vida de ninguém… Você vai confirmar as profecias que me deram lá no bairro tal? Então ele disse: eu não sei o que os outros profetas lhe disseram, mas o meu Deus disse que sua esposa não vai morrer, porque ela está de joelhos clamando ao Senhor e, se você não se arrepender e abandonar sua vida de prostituição e adultérios, quem vai morrer é você!

Sabe o que o deputado fez? Caiu de joelhos e exclamou: Deus ainda tem profetas na terra!

Tem sim, e eu conheço alguns.

Raíssa: Sim. Neste caso do profeta Ágapo, acredito que sim. No entanto, precisamos tomar cuidado para não nos tornarmos reféns das profecias. Deus deseja para cada um de nós uma vida plena e de liberdade. Muitas vezes alguém profetiza algo e aquilo gera tanta ansiedade em nosso coração que nos tornamos reféns de algo que ainda nem aconteceu… Verdade! Deus não deseja nos colocar nesta situação de estrangulamento chamada ansiedade.

O mais bonito da vida cristã, a meu ver, é exercitar a fé ainda que as correntezas nos levem ao caminho contrário dos nossos sonhos mais lindos. Isso sim é um entrega completa e sem reservas nas mãos daquEle que pode realizar todas as coisas. É fácil? Não! Mas, vale a pena.

Eu, sinceramente, prefiro não receber qualquer profecia acerca do meu futuro, pois quero estar com meu coração firme nas promessas do Senhor independentemente se os desejos do meu coração forem atendidos. Uma coisa é certa, eu quero alinhar minha vontade e meus desejos à vontade de Deus para a minha vida.

O que Deus requer de mim em todo tempo, percebo, é andar pela fé. Portanto, pouco me importa se o que foi profetizado em minha vida se cumprirá ou não. Eu sei que os planos de DEUS não podem ser frustrados (conforme Jó 42.2). Qual a necessidade de profecia diante de uma palavra tão poderosa como essa? Não quero profecias! Obrigada! Quero simplesmente que os planos de Deus se cumpram… pois, estes, eu sei, são bons perfeitos e agradáveis.

  • P. 16 – Vocês não acham que a posição cessacionista acaba por extinguir e apagar o Espírito e até mesmo impedir a ação de Deus no meio de seu povo? Não estariam eles cometendo o pecado imperdoável, a blasfêmia contra o Espírito Santo?

Wallace: Eu acho que é temerário afirmar isso… Acusar alguém de estar blasfemando contra o Espírito Santo simplesmente porque essa pessoa é cessacionista é uma tremenda falta de respeito, além de outras coisas. Jamais diria algo assim de um irmão cessacionista. Por outro lado, vejo alguns cessacionistas generalizando que os pentecostais falam em línguas por vazão emocional, distúrbios psicológicos e até mesmo por estarem endemonhiados. Nesse último caso, de atribuir ao diabo as obras de Deus, é algo até parecido com a acusação que os fariseus faziam de Cristo: que Ele realizava milagres pelo poder de belzebu.

Eu não me incomodo com essas críticas, mas temo pela vida dos críticos – referindo-me especificamente ao último exemplo.

Mas, vejo algo bastante proveitoso em sermos alvos de críticas pelos cessacionistas: eles podem nos mostrar alguns erros que, de fato, estejamos cometendo e, assim podermos nos corrigir e voltar à simplicidade do evangelho. E que eles também possam olhar para nós e serem desafiados a uma vida de maior intimidade com Deus, dentro de suas convicções. Se isso acontecer: nós aprendermos com eles, e eles conosco, todos sairemos ganhando. Que Deus nos ajude a conquistar isso.

Raíssa: Sabe o que falta, hoje, no meio cristão? Tolerância, respeito e aceitação. Pecamos por falar demais, julgar demais e compreender de menos. Se não concordamos com a posição cessacionista precisamos nos calar e respeitar, sem ficar fazendo contendas inúteis e escandalosas. O importante é a comunhão que o cessacionista tem com o Espírito Santo de Deus, usa reverência diante das Sagradas Escrituras e o temor ao Senhor, pois, este sim é o princípio de toda sabedoria.

O espírito do profeta é submisso, sujeito ao próprio profeta, portanto, o grande perigo não é ser cessacionista e sim se render a frieza espiritual e limitar o agir do Espírito Santo de Deus. Sou a favor de um culto racional e isso não significa que o culto será frio. Significa que prestaremos um culto a Deus tomados pela razão e não por emoções momentâneas. Os dons e o sobrenatural são conseqüências de uma busca em relação a isso. A bíblia diz:

Buscarmeeis e me achareis, quando me buscardes de todo o vosso coração“. Jer 29:13.

  • P. 17 – Quais são seus comentários finais aos nossos leitores?

Wallace: Bem, lá no começo fiz uma promessa que achava que não conseguiria cumprir completamente: ser imparcial. Pelo menos, tentei. Mas, meu maior objetivo, o de ser coerente, esse tenho quase certeza de que consegui ou me aproximei bastante do alvo. Então, minha última palavra aos leitores é: quem é continuísta (ou pentecostal) não fique tentando convencer quem é cessacionista a mudar de lado. Não perca seu tempo. E não falo isso como se os cessacionistas fossem de “dura cerviz”, não senhores. Apenas que não vale a pena.

Quer um conselho? Seja você mesmo, seja coerente, viva para a glória de Deus e, principalmente, viva sua vida. Deixe eles viverem a deles, e serem felizes em e com Cristo, da maneira deles, sem querer impor seu ponto-de-vista e, claro, sem perder sua identidade também. Aceite-os como são, como irmãos em Cristo que são, e ganhe crédito para que eles o aceitem como você É – e a mesma coisa vale para os cessacionistas em relação aos continuístas: aceitação >> respeito >> convivência >> comunhão >> unidade na fé. 

Ora, uma coisa que muita gente AINDA não percebeu é que as igrejas hoje continuam compartimentadas (fechadas), mas seus membros não! Antigamente, era impensável, mas hoje não é mais impossível ver pentecostais/continuístas congregando em igrejas reformadas ou tradicionais e reformados congregando em igrejas pentecostais! É verdade, pode acreditar. E vou logo avisando: isso não é moda passageira, não senhor! É a antecipação do futuro, onde as igrejas preservarão sua identidade principal e suas raízes históricas, mas terão mais flexibilidade no trato de assuntos periféricos e que não trazem – em tese – prejuízo à ortodoxia, tais como dons, visões, usos e costumes, etc.

Já estamos vivendo, eu diria, um pouco de como será no Céu, onde pessoas de todas as raças, tribos, línguas e nações diferentes denominações estarão dividindo o mesmo espaço eclesiástico. E isso é ruim? Depende. Depende se você não sabe conviver com pessoas diferentes e nem respeitar e entender diferenças. A palavra-chave que vai vigorar então é: respeito às diferenças para melhorar nossa convivência. Logo, a questão posta é: você está preparado para isso, para estes novos tempos que a igreja está vivendo?

De fato, um desafio que se forma no horizonte da igreja evangélica brasileira é a quebra de fronteiras denominacionais, onde os membros de vertentes teológicas e ramos denominacionais estão transitando livremente entre elas. E essa discussão acerca dos dons espirituais é apenas uma de várias que terão lugar no futuro. Essa quebra de fronteiras vai levar, inexoravelmente, à fragilização das barreiras denominacionais, que se tornarão quase “osmóticas“, ou seja, semipermeáveis. É um novo tempo, com novos desafios que nos aguardam. Será… divertido! risos

Então, finalizando: se nós, crentes na atualidade dos dons, e eles, crentes na cessação dos dons, chegarmos juntos no Céu, é o que vale. Falando francamente: eles não serão impedidos de chegar lá por serem cessacionistas e nós não seremos atrapalhados por sermos continuístas. Assim, no final das contas, o que importa é que, entre mortos e feridos, todos (nós e eles) se salvem, não é verdade? =)

Raíssa: Gente, sinto-me como uma formiguinha no meio de gigantes para dar esta entrevista. O assunto, além de polêmico, é muito sério e foi com um grande peso de responsabilidade que respondi cada questão. Como o Wallace já disse, sou membro da Primeira Igreja Presbiteriana de Acesita, mas, como podem ver nas minhas respostas, minhas convicções não são fundamentadas exclusivamente em Calvino ou qualquer outro “herói da fé”. Mas, simplesmente, nas minhas experiências pessoais e sobrenaturais com o próprio Deus nestes meus 22 anos de vida, sempre confrontadas e conformadas à Palavra de Deus.

Sinceramente, não tenho a menor intenção de convencer ninguém com meus argumentos. Não sou de fazer teorias e, para ser sincera, pouco falo sobre este assunto. Prefiro ouvir e respeitar cada experiência, pois as considero válidas e muito íntimas. Contudo, sou aberta a tudo de novo que o Espírito Santo possa me proporcionar. Sabe por que? Porque tudo o que tenho visto me ensina a crer no Criador por tudo o que ainda não vi. #Simples_assim!

Diante do agir de Deus em minha vida, a forma como sinto o seu abraço constante e sua doce presença, não conseguiria de forma alguma duvidar que Deus continua atuando em nosso meio de várias formas, impossível não sentir o fluir e o vento do Espírito Santo nas mais diversas ocasiões. Uma coisa é certa: Deus sempre tem mais para nós quando O buscamos de todo o nosso coração. Mas, que nada nem ninguém venham nos fazer perder o foco do Evangelho. Que ELE seja a nossa âncora, nosso norte, nosso rumo e a nossa suficiência esteja em Cristo Jesus, crucificado em uma cruz e ressurreto dentre os mortos!

De acordo com 1 Coríntios 13:13-14, faríamos bem em buscar o dom maior, o amor, que é o caminho sobremodo excelente!

Concluindo

Queremos agradecer sua atenção e generosa paciência por ter me suportado até aqui (a Raíssa é um doce – ou quindim, já que é mineira -, ninguém precisa suportar ela… risos) e esperamos, sinceramente, podermos contribuir e avançar nesse tema polêmico sim, é verdade, mas necessário à Igreja Cristã hoje. De fato, um dos problemas que verificamos na igreja atual é aquele que já foi identificado e proclamado pelo profeta Oséias, milênios atrás, quando ele lamentava profundamente: 

Meu povo foi destruído por falta de conhecimento. Oséias 4:6

Então, ainda citando o mesmo profeta, visto que sua profecia é, inegavelmente, ATUAL (com o perdão do trocadilho, risos):

conheçamos, e prossigamos em conhecer ao SENHOR. Oséias 6:3

Que o Senhor nos abençoe ricamente, como um só Corpo, em Cristo. E nos faça crescer em maturidade e unidade para o bem do Reino. E que possamos avançar unidos, ainda que reconhecendo e reafirmando nossas diferenças, como partes individuais desse mesmo Corpo.

Se você conseguiu ler tudo, ou quase tudo, peço que avalie (nas Estrelas, Curti, +1 ou Gostei) e compartilhe com seus amigos (caso tenha gostado, claro). Se não tiver gostado ou discorde de algo, os comentários estão abertos para sua crítica – construtiva e respeitosa, espero. =)

Soli Deo gloria.

(1) Wallace Sousa é presbítero da Assembleia de Deus em Brasília, sediada em Taguatinga, e professor da Escola Bíblica Dominical. É casado com a irmã Eva Maria e servidor público federal. Blogueiro nas horas vagas e metido a teólogo amador em todo o tempo.

(2) Raíssa Bomtempo é membro da 1ª Igreja Presbiteriana de Timóteo/MG, acadêmica de Direito na cidade de Ipatinga e fundadora da ABU (Aliança Bíblica Universitária) na faculdade Fadipa.

 

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Wallace

Just another little servant of the Lord Jesus Christ. Apenas mais um pequeno servo do Senhor Jesus Cristo. Editor do blog Desafiando Limites (https://wallysou.com). Crítico do cristianismo evangélico da prosperidade e pensador cristão amador.

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Blog Comments

Feliz o cristão que crê na presença do Espírito Santo em sua vida , e nos dons que Deus dá a cada um, como bem lhe apraz, para a edificação da igreja. Gostei das respostas.

amém, obg Marlene. abs,

Raissa tenho lido a respeito dos dons em que você e seu esposo comentam, percebi algo que diz em seu comentário que os dons não vão cessar, tenho lido na sagrada escrituras que cessarão após o arrebatamento, onde permanece o amor e o louvor. Gostei muito por defender os dons em sua permanência, só retifico que a sua permanência não é para sempre.

olá, Joseilton, paz.

apenas uma retificação: eu não sou esposo da Raíssa, somos apenas amigos. aliás, nem nos conhecemos pessoalmente ainda… rs

e sobre a permanência, sim nós cremos que os dons são necessários hoje, mas no Céu não haverá mais necessidade deles.

abs, e obg por comentar.

(3) Por fim, quero sublinhar que o “dom” do Espírito Santo é exatamente isso: dom, dádiva, presente, doação de Deus ao homem, não há que se falar então em métodos e meios de arrancar de Deus o que ele dá graciosamente. Por isso, orgulhar-se de um dom é contraproducente, pois ninguém fez nada para merecê-lo, mas ele é sinal da misericórdia de Deus para a edificação do seu povo.

P.S.: Raíssa Bomtempo, concordo inteiramente com você na P 10: “Não consigo ver a possibilidade de uma pessoa se dizer cristão e não ser “batizada” no Espírito Santo”. Acho que isso tem gerado certa neurose, do “ter que ser batizado” no Espírito Santo, como um evento. Acho exatamente isso que você falou: o foco em um evento faz as pessoas tirarem os olhos do processo.

“E disse-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo; Porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos, e a todos os que estão longe, a tantos quantos Deus nosso Senhor chamar” Atos 2:38-39.

Abs.

Gustavo Amorim.
Ig. Evang. Congregacional do Cabo-PE. (UIECB). (Professor na classe do Jovens da EBD).

(2) Histórico: Sobre o exercício do dom de profecia preditiva durante o período em que as Escrituras já estavam completas (pós-apostólico) trago um trecho de Irineu de Lyon apud Eusébio de Cesaréia:

“Uns, efetivamente, expulsam firme e verdadeiramente os demônios, de modo que muitas vezes aqueles mesmos que foram purificados dos maus espíritos crêem e estão na Igreja; outros têm conhecimento antecipado do porvir, assim como visões e declarações proféticas; outros ainda, curam os enfermos mediante a imposição das mãos e os restituem sãos; mais ainda, como dissemos, inclusive mortos foram ressuscitados e permaneceram conosco muitos anos.” Trecho da obra “Refutação e destruição da falsamente chamada gnosis” (180 d.C.) de Irineu de Lyon (130 — 202 d.C.), citado por Eusébio de Cesaréia (História Eclesiástica).

Assim, consigo ver uma base para dizermos que o dom de profetizar como o poder para anunciar o futuro das pessoas/comunidade, não cessou após os apóstolos.

(2.1) A obra de Irineu de Lyon (Refutação e destruição da falsamente chamada gnosis) foi escrita muito tempo depois da conclusão do Novo Testamento. Logo, não cabe aqui a ideia que o dom de profecia como predição de coisas futuras acompanhou a Igreja somente no período dos Apóstolos.
(2.2) Ora, se os Apóstolos não seriam o marco limite do dom da profecia na história eclesiástica, alguém arriscaria colocar outro marco no seu lugar? (Ex.: a definição do Cânon). Acho bem casuístico e temerário tal exercício.
(2.3) Irineu de Lyon é uma boa fonte para a história da Igreja? (Ex.: Ele possui características literárias próprias que tornam a leitura de seus textos uma tarefa difícil?). Sou a favor da perspicuidade em Irineu (kkk).
(2.4) Nem Irineu e nem qualquer pessoa da sua comunidade tiveram contato direto com qualquer dos Apóstolos, uma vez que Irineu escutou no máximo, quando era jovem, uma pregação de Policarpo, discípulo do Apóstolo João, último Apóstolo a morrer. Então, estamos falando da 2ª geração após a morte do último Apóstolo.
(2.5) Irineu de Lyon poderia estar falando que as pessoas que exercitam esses dons na Igreja de Lyon seriam os próprios Apóstolos? (Ex.: Poderia algum Apóstolo ter sobrevivido e chegar ao ano 180 d. C. em Lyon?).
(2.6) Essas pessoas que exercitam esses dons poderiam ter recebido diretamente dos Apóstolos quando eles eram vivos? (Ex.: Poderia haver uma sucessão “apostólica” de dons de profecia?).
(2.7) Quando Irineu de Lyon diz: “outros têm conhecimento antecipado do porvir, assim como visões e declarações proféticas”, ele está ligando a profecia diretamente à revelação do futuro.
(2.8) Logo, segue que o dom de profecia no Novo Testamento não é somente edificação, exortação e consolação, mas pode incluir também um “conhecimento antecipado do porvir” dentro da declaração profética.

Wallace Sousa e Raíssa Bomtempo,

Que post edificante! Realmente aprendi bastante com o conteúdo e a forma do texto facilitou a leitura, li quase tudo numa tacada só (menos a questão 17 e a conclusão por que surgiu uma atividade para realizar).

Concordo com vocês quanto à posição puramente cessacionista (aprendi essa palavra no blog do Pr. Augustus Nicodemus Lopes), pois ela contém erros lógicos, históricos e teológicos, na minha opinião.

Uma questão que estive pensando na discussão do blog “Ó tempora, ó mores” é sobre o critério utilizado para definir a cessação dos dons espirituais: “Os dons foram concedidos com vistas à autenticação da pregação dos Apóstolos”. OU, em outra versão: “Era necessário, portanto, que o período mais importante da história da redenção fosse marcado por sinais, prodígios e maravilhas feitos por pessoas extraordinárias como os apóstolos e seus associados”.

(1) Lógico: O que me interessa nesse critério é a sua arbitrariedade, pois simplesmente escolhe um eixo temporal que a partir de um ponto inicial (Pentecostes em 30 d. C.) decai progressivamente até a morte do último apóstolo, João, em 103 d. C.(?), mas podemos fazer, por exemplo, os dons serem sinais de autenticação da pregação para a expansão do Evangelho nas áreas que ainda não o conhecem (como na Igreja apostólica avançando em terreno gentio). Então, se usarmos o critério geográfico, as fronteiras da pregação do Evangelho seriam sempre o lugar onde os dons seriam mais necessários e manifestos, como o foi no tempo apostólico. Assim, ao invés de um núcleo temporal que decai e cessa, teríamos uma borda expansível que cessa no centro (áreas secularizadas) e reaviva-se nas fronteiras.

obg, Gustavo!

1. por ter lido e apreciado;
2. por ter comentado e enriquecido o debate!

gde abço, apz.

Muito bom artigo, o formato de entrevista permitiu dividir bem os tópicos. Embora tenha ficado graaaande…. o assunto é extenso mesmo. Sou seu vizinho – moro na Asa Sul, e quero dizer que li o post do Nicodems e discordo dele em vários aspectos. Nota: fui convertido em igreja batista "renovada", ali passei vários anos e hoje frequento uma "tradicional", não por ter voltado atrás, mas sim por não concordar com os rumos que a "renovação" tomou. É preciso separar profecia de "ato profético", e rejeitar toue de shofar, dança profética, adoração extravagante. Isso sim é heresia. Sobre Nicodemus, acho que foi infeliz ao ficar "em cima do muro" e usar a citada lógica inversa forçada. Concluo com o que aprendi na tal igreja tradicional, sobre este tema: I Co 12 e 14 falam dos dos espirituais (princ.línguas e profecias), mas entre os dois capítulos está o mais importante, que fala do amor.
Obrigado pelo espaço, se puder visite meu blog onde trato de assuntos parecidos e quem sabe nos tornemos amigos, já que somos vizinhos…
My recent post Segredos do Vaticano – a papisa Joana

obg, Georges!

estou te seguindo no twitter, ok? se pudermos nos conhecer, será um prazer, amado.

=)

abs, apz.

Olá, agradecemos sua visita e seu comentário. Sua opinião enriquece a discussão e é importante para nós, obrigado!