“Ou qual a mulher que, tendo dez dracmas, se perder uma dracma, não acende a candeia, e varre a casa, e busca com diligência até a achar?” Lucas 15.8
Os dias são maus, isso é fato, e pior, é um fato bíblico! Todavia, nós não podemos ser maus, não podemos nos tornar maus, nem deixar que os maus assumam o controle de tudo. Ok, ok, pelo menos não assumam o controle da igreja, já que o mundo jaz no maligno. Infelizmente, a igreja evangélica brasileira atravessa o que se poderia denominar um “apagão” teológico e eclesiástico.
É com tristeza que vemos líderes de proeminência nacional portarem-se de forma a trazer escândalo e vergonha ao Nome que invocamos e por quem combatemos. A teologia da prosperidade nunca se mostrou tão perniciosa e destruidora da vida da igreja como agora, onde até “ícones”, líderes respeitados e de conduta inatacável, respeitados até mesmo interdenominacionalmente (sim, pr. Silas Malafaia, estou olhando em seus olhos) dobraram-se diante do apelo monetário.
A igreja precisa resgatar sua identidade, seus valores de outrora, não ultrapassados, mas respaldados pela ortodoxia bíblica, e quero fazer essa reflexão tomando por base o trecho acima que trata da chamada “parábola da dracma perdida”, para trazer-nos à mente uma forma de resgatar esses valores perdidos no decurso do tempo e do espaço, que foram tomados de assalto pela teologia da prosperidade.
Como cristão pentecostal e, teoricamente, dispensacionalista, sou partidário da tese que isso representa um “sinal dos tempos“, esfriamento da fé e aparecimento de falsos profetas, doutrinas de demônios, etc., todavia não posso me calar diante de fatos tão contundentes, que me fazem corar de vergonha e inchar de indignação, ao ver a Palavra sendo vituperada por quem deveria honrá-la e vivê-la. Assim, mesmo sendo dispensacionalista (até prova em contrário… risos), vou denunciar enfaticamente esse descalabro eclesiástico que grassa e desgraça, literalmente, nossos queridos púlpitos.
Você quer, comigo e com outros que não dobraram seus joelhos diante de Baal e Mamón, combater o bom combate? Se sim, afie sua espada e reflita comigo o que devemos fazer para trazer de volta, à tona, aquilo que se perdeu entre nós. Aperte o cinto e fé na alma!
O que representava a dracma perdida para a noiva, no contexto histórico-cultural do I século?
A dracma perdida era parte integrante de um colar, presente do noivo, que representava seu compromisso público perante a sociedade local, de que havia um elo entre ambos que se consumaria logo mais. Quando ela saía de casa, esse colar fazia parte de sua indumentária, um pouco parecido como um “anel de compromisso” ou anel de noivado hoje em dia. No colar em questão, havia dez dracmas, e seu colar estava incompleto, por isso ela não poderia usá-lo, que era um risco ao compromisso assumido com o noivo.
Sair com um colar incompleto seria motivo de vergonha certa para aquela donzela judia do século I. A igreja de hoje, infelizmente, pode ser considerada como aquela jovem nubente: é uma igreja com valores perdidos, incompleta em seu compromisso assumido perante o Noivo, o Amante de sua alma. Mas, como resgatar esses valores perdidos? Como recuperar a honra perante um mundo que, atolado na lama do pecado, tem a ousadia em apontar o dedo lamacento às práticas espúrias e corrupções dos líderes eclesiásticos brasileiros?
1. Em primeiro lugar, devemos acender a candeia
Esse acender a candeia é repleto de significados, todos relevantes, e quero explorar um pouco de cada um. O acender a candeia representava, literalmente, lançar luz na escuridão reinante (as casas da Judéia do século I não tinham muita iluminação natural). Isso, para nós, é muito simples: um retorno à simplicidade das Escrituras, que é a luz que ilumina nossos passos (Salmo 119.105). O advento da luz traz os seguintes benefícios: manda embora as trevas, que fogem diante da presença da luz, e também afasta animais ferozes ou peçonhentos. É o que a igreja está carecendo: espantar as trevas do pecado e bestas-feras encasteladas em alguns púlpitos (besta de ignorância teológica e feroz de tosquiar ovelha).
Outro aspecto interessante é a questão do custo dessa procura. Naquela época, não havia a comodidade da eletricidade para auxiliar as buscas, e acender a candeia representava um custo, em tese, desnecessário, visto que não era de noite (senão a candeia já estaria acesa, certo?) e o azeite combustível possuía um custo não desprezível (vide a história da viúva que conseguiu pagar TODAS as suas dívidas, em 2 Reis 4). Hoje em dia vemos a facilidade em se aprovar destinação de recursos para obras e construções faraônicas mirabolantes, enquanto setores educacionais (EBD, p.ex.) capengam e não se investe em formação teológica de futuros obreiros. Como podemos esperar esclarecer as almas perdidas se não estamos investindo em iluminação decente?
2. Em segundo lugar, devemos varrer a casa
Uma coisa recorrente no meio humano, nas instituições humanas é tentar tapar o sol com a peneira e varrer a sujeira para baixo do tapete. Mesmo após milênios e séculos de tentativas frustradas, o homem ainda não se deu conta de que é inútil esconder a sujeira do pecado. Remédio para a sujeira do pecado só existe um realmente eficaz e definitivo: a lavagem pelo sangue de Jesus. Não tem outra forma de ser limpo da sujeira do pecado.
A igreja deve se conscientizar de que a sujeira não pode, jamais, ser varrida para baixo do tapete. A exemplo daquela mulher, quando se deixa a sujeira tomar conta da casa, os valores vão se perdendo e nem nos damos conta. E, se vamos procurá-los, a busca se torna muito mais difícil e demorada. Solução? Varrer a casa, antes de procurar. Às vezes, ao limpar a sujeira, achamos muitas coisas valiosas no meio da sujeira, que caiu lá e não víamos. Sua igreja varre o pecado para baixo do tapete ou para fora da casa?
3. Em terceiro lugar, devemos buscar com diligência
Aquela mulher era uma pessoa comum que, mesmo sem querer, acaba por perder coisas valiosas. Mas, era uma mulher esforçada também, uma mulher que sabia o que queria e que sabia que precisava fazer a coisa bem feita se quisesse obter o resultado desejado. Sabe, tem pessoas que querem alcançar determinado objetivo e vivem reclamando porque jamais conseguem. Mas, quando você vai analisar a situação, observa que tais pessoas não se preocupavam em fazer a coisa do jeito certo, em fazer direito e bem feito. Por que reclamar, então?
Lembro-me de uma situação difícil pela qual passei certa vez. Conheci um grupo de irmãos que faziam evangelismo na madrugada, em Natal/RN, um trabalho muito interessante e, de certo modo, perigoso. A madrugada não é um lugar muito fácil quando se vai de encontro ao pecado. Numa dessas madrugadas, lá pelos idos do século passado, eu fui com eles levar a Palavra que liberta e transforma aos perdidos na noite (Faustão nem era Fausto ainda… risos).Naquela madrugada descobri o grande valor que existia em uma pequena chave…
Pois bem. Nesse evangelismo madrugadino, perdi a chave de minha moto (naquela época, eu era “motorizado”). Quase entrei em parafuso, mas orei e pedi que Deus me direcionasse, pois não sabia ao certo onde a chave poderia ter caído. Assim, sem alternativas, refiz meu trajeto, olhando diligentemente, na penumbra da madrugada, o chão de terra batida por onde havia passado quase uma hora antes. Estava escuro, havia barro, poças de lama e montes de sujeira, mas a diligência venceu a parada: encontrei a chave descansando, à minha espera, em uma rua vicinal, bem no meio do caminho. Quer recuperar os valores perdidos? Que tal um pouco de diligência, para variar?
4. Em último lugar, devemos procurar até achar
É disso que precisamos, na maioria das vezes: perseverança, insistência e, em alguns casos, teimosia. Ir até o fim, é disso que estou falando. Uma boa parte de meus posts têm embutida essa idéia: perseverar. E estão entre os posts mais lidos e mais bem avaliados, por quê? Sinceramente? Não sei ao certo. Talvez por terem sido bem escritos ou interessantes? Ou, ainda, porque as pessoas estão procurando algum incentivo, alguma palavra que as motive a não parar, a não desistir e jogar tudo pro alto. Talvez a última opção seja a mais correta.
O mundo está repleto de projetos inacabados, de projetos até a metade. Houve uma época na história do Brasil onde cada governante tinha seu projeto de governo e como não se conseguia fazer tudo em um só mandato, o próximo que assumia deixava o projeto de seu “inimigo” abandonado, às traças. Era a época dos “elefantes-brancos”, dos rios de dinheiro público sendo desperdiçados a céu aberto (hoje se desperdiça ainda, mas agora é “por debaixo dos panos”…).
É preciso entendermos que somente chegaremos até onde almejamos e seremos aquilo que fomos projetados para ser se não pararmos, se não desistirmos, se não jogarmos a toalha. Aquela mulher achou a dracma perdida porque, para ela, não havia outra opção: era achar ou achar, custasse o que custasse.
Nós, igreja evangélica atual, estamos enfrentando a crise do apagão eclesiástico, onde um blackout espiritual está se formando bem debaixo de nossos narizes, que só pode ser revertido se assumirmos a mesma atitude e ação daquela mulher diligente: acender, varrer e buscar até achar. Esse apagão espiritual trará muito mais prejuízo do que os apagões logísticos que têm acontecido, e as trevas resultantes serão muito mais perigosas do que a simples ausência de luz.
Urge que a igreja evangélica assuma seu papel como luz do mundo nesta nação e resgate os verdadeiros valores do evangelho que está sendo mascateado nos púlpitos neopentecostais, feitos de latrina pela teologia da prosperidade. Achou fortes as palavras? E o que dizer de uma teologia que perverte os conceitos bíblicos para destronar Deus e entronizar o homem em Seu lugar? Chamar isso de que, senão fezes teológicas? É preciso varrer essa teologia de nossos púlpitos, mas somente após acender a luz do Espírito, pela Palavra é que as pessoas vão enxergar essa sujeira para quererem se ver livres dela.
Vou encerrar com uma pergunta: de que vale a vitória financeira quando se vive derrotado pelo pecado? Isso é verdadeiro cristianismo? Onde?
Quer saber o que eu penso da teologia da prosperidade? Leia isso: Teologia da prosperidade: de Deus ou do diabo?
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Blog Comments
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