Carlos Martel: Um homem destemido para tempos tenebrosos
Por Antonio Cabrera*
“Um homem como eu fugiria?” – Ne 6:11
No restaurante onde eu almoçava na última quarta (18/11) a televisão estava ligada e um repórter, ao vivo, ao lado de uma construção majestosa que me parecia conhecida transmitia o resultado da caçada da polícia francesa aos terroristas do ultimo atentado em Paris:
foram sete horas de combate, mais de cinco mil tiros disparados, sete pessoas presas e dois terroristas mortos, dentre eles uma mulher que se explodiu.
E terminou dizendo o seu nome, exclamando:
“…, direto de Saint-Denis.” Saint-Denis?
Nos dois dias seguintes vi e li um sem número de matérias sobre a tragédia, com todo o tipo de personalidade ou especialista descrevendo ou tentando explicar ou justificar o injustificável.
Saint-Denis.
Relembro.
A irônica lição da história é que nesta Catedral de Saint-Denis está enterrado Carlos Martel (da Wikipedia), que em 732 liderou uma das mais épicas e brilhantes batalhas da história, a Batalha de Poitiers impedindo que os muçulmanos tomassem o coração da Europa cristã.
Como espanhol que sou, talvez eu tenha mais facilidade em lembrar este episódio.
Os muçulmanos já tinham tomado a Espanha, invadindo toda a Península Ibérica com uma velocidade fulgurante, promovendo um imenso botim, escravizando as populações (infiéis) das regiões conquistadas com uma notável crueldade e estavam batendo às portas da França.
Reforçando, Carlos Martel não é apenas o inicio da linhagem de conhecidos reis (seu neto foi Carlos Magno) mas ele será sempre lembrado como o homem que promoveu a ação que salvou a Europa do expansionismo muçulmano, e a sua vitória é considerada decisiva para a história mundial na medida em que preservou a Europa ocidental da islamização.
Enquanto o mundo assistia perplexo o avanço implacável dos mouros, impondo o julgo do Islã nos territórios abarcados, eis que se acendeu uma nova estrela no firmamento da Cristandade.
Carlos Martel não foi apenas o líder do exército cristão que prevaleceu em Tours. Carlos Martel foi um verdadeiro gigante do início da Idade Média, um general brilhante em uma época privada desse tipo de talento e considerado o pai da cavalaria pesada ocidental.
Melhor é recorrer ao historiador Edward Gibbon:
“A Cristandade continuou pelo gênio e boa sorte de um homem: Carlos Martel”.
Sorte?
De Tolouse, Martel observava que os muçulmanos estavam tomando grande parte da Europa e, convencido de que chegariam logo à França, começou a se preparar para as batalhas futuras.
Ele acreditava na necessidade de um exército em tempo integral, treinando-o com um corpo de veteranos para habilitar os recrutas comuns para os tempos de guerra que se aproximavam. Durante a Baixa Idade Média, as tropas estavam disponíveis apenas após as sementeiras terem sido plantadas e antes da época de colheita.
Para treinar o tipo de infantaria que se poderia opor à cavalaria pesada muçulmana, Carlos precisava delas o ano todo, o que exigia pagá-las para que suas famílias pudessem manter-se. Para obter este dinheiro, em uma atitude ousada, ele tomou propriedades e terras da Igreja, e usou os fundos para pagar aos soldados.
Leve em conta que naquela época, antes da Reforma Protestante, havia apenas uma igreja, que enfurecida, estava pavimentando a excomunhão de Carlos Martel.
Mas então se iniciam as invasões muçulmanas com exércitos extremamente bem equipados e como se fossem um imenso enxame, seus cavalos começaram a pisar em solo francês.
Em sua visão de general e brilhante estrategista, Martel procurou entender o que seria necessário para se opor a uma grande força e a uma tecnologia superior (os cavaleiros muçulmanos possuíam estribos em suas montarias, algo desconhecido para os europeus).
Assim, ele treinou a nata de seus homens um ano inteiro e estudou as forças inimigas, para em seguida se adaptar a elas, inicialmente usando estribos e selas recuperadas dos cavalos mortos dos inimigos, e armaduras dos cavaleiros mortos. Sim, os europeus ainda não tinham conhecimento das armaduras dos cavaleiros muçulmanos.
Portanto, Carlos Martel não titubeou em enviar seus poucos cavaleiros contra a cavalaria islâmica, pois tinha treinado o seu exército para atacar numa formação usada pelos antigos gregos para resistir a um número superior de armas pela disciplina, coragem e a aceitação de morrer por sua causa: a defesa do cristianismo.
Foi destas táticas que nasceu a falange da cavalaria medieval, uma tática que originou as vitórias esplendorosas de Carlos Martel. Foi esta incorporação da cavalaria pesada blindada nos exércitos ocidentais que criou os primeiros “cavaleiros” do Ocidente.
Além do mais, a sua habilidade e experiência em coordenar infantaria e cavalaria era inigualável para aquelas épocas e lhe permitiu enfrentar invasores em maior número, e derrotá-los de maneira absoluta e repetidamente.
Foi um comandante tático por excelência, capaz de no calor da batalha adaptar seus planos às forças e aos movimentos dos inimigos – e, espantosamente, derrotá-los de maneira surpreendente, mesmo quando eles eram muito superiores em número de homens e armas.
Carlos possuía a mais elevada qualidade com a qual se define a grandiosidade genuína em um comandante militar:
- ele antevia os perigos que seus inimigos poderiam causar, e se preparava para eles com cuidado;
- ele usava o solo, a hora, o lugar e a lealdade de suas tropas para contrabalançar a superioridade de seus inimigos em armas e táticas;
- e, finalmente, ele se adaptava, repetidamente, ao inimigo no campo de batalha, mudando rapidamente para compensar o inesperado e o imprevisível.
Dada a complexidade dos dias atuais, cuja desordem exige planejamento, técnica e estratégia para enfrentar novamente este terror, onde está o nosso Carlos Martel?
Voltando aos estudiosos da História, Thomas Arnold classifica a vitória de Carlos Martel no seu impacto sobre toda a história moderna:
“A vitória de Carlos Martel em Tours foi um daqueles sinais de libertação que influenciaram por séculos a alegria da humanidade”.
Historiadores alemães são especialmente ardentes em seus elogios a Martel e nas suas crenças de que ele salvou a Europa e a cristandade da conquista total do Islã.
Já Schlegel fala sobre suas “poderosas vitórias” em termos de calorosa gratidão, e conta como “o braço de Carlos Martel salvou e livrou as nações cristãs do Ocidente da captura fatal da destruição completa pelo Islão.”
Ranks aponta sua época “como uma das mais importantes épocas na história da humanidade, o início do oitavo século, quando em um dos lados o Islamismo ameaçava conquistar a Itália e a Gália, e do outro a antiga idolatria da Saxônia e da Frísia mais uma vez forçava uma passagem através do Reno.
As instituições cristãs em perigo, um jovem príncipe da raça germânica, ‘Karl Martell’, surgiu entre os seus defensores, mantendo-os com toda a energia necessária para a autodefesa e finalmente estendendo-a a novas regiões.”
Nos Países Baixos Carlos Martel é considerado um herói. Especialmente na Alemanha, ele é reverenciado como um herói de proporções épicas.
O já citado Gibbon chama aqueles oito dias em 732, como “os eventos que salvaram nossos ancestrais da Grã-Bretanha, e nossos vizinhos da Gália, do jugo civil e religioso do Corão”.
Dante Alighieri escreve sobre ele no paraíso como um dos “Defensores da Fé”.
John H. Haaren afirma no seu livro Famous Men of the Middle Ages:
“A batalha de Tours, ou Poitiers, como deveria ser chamada, é considerada como uma das batalhas decisivas da história mundial. Ela decidiu que os cristãos, e não os muçulmanos, seriam o poder dominante na Europa. Carlos Martel é celebrado especialmente como o herói dessa batalha”.
Resumindo, Paul Akers, diz para aqueles que abraçam o cristianismo, como você e eu:
“vocês talvez reservem um minuto hoje, e a cada outubro, para dizer um silencioso ‘obrigado’ para um bando de alemães semi-bárbaros e especialmente a seu líder, Carlos Martel”.
No final de sua vida, para quem iria ser excomungado, Carlos Martel recebeu do Papa Gregório III o título de Herói da Cristandade.
Quem poderia imaginar que na terra de um herói desta envergadura se passaria uma episódio como este exibido na televisão?
Quem diria que na terra da reforma, nas paragens dos puritanos, nos lares dos pietistas, na brigada dos morávios, no berço das missões modernas a nossa geração iria assistir este continente se tornar pós-cristão, com inúmeras tentativas de remover todas as características da herança judaico-cristã da sua cultura?
Como muitas pessoas não sabem nada sobre Carlos Martel ou sobre a história do cristianismo, os valores cristãos são tratados de maneira desdenhosa na França nos dias de hoje.
Há um senso real em que o sangue destes heróis clama da terra para nós hoje, porque não estamos dispostos a fazer os mesmos sacrifícios que eles fizeram por nós, e, Deus certamente não honrará uma igreja constituída de omissos.
Billy Graham afirmou recentemente que “Como um todo, não sabemos o que é sacrifício. Nós não sabemos o que é sofrimento… Se começarmos a experimentar um pouco de perseguição religiosa, é provável que, sob pressão, muitos negariam a Cristo.”
Lembrei-me de um velho ditado cristão em que “Gente muda não muda a igreja.”
Não estou aqui pregando uma guerra contra os muçulmanos. Não sou contra o islã, mas sei que sou a favor do cristianismo e que meu Mestre ensina que temos que testemunhar neste mundo. Ao invés de terem medo das pessoas de outra religião, os europeus deveriam voltar-se para as raízes do seu continente, para o leito original do cristianismo.
Confiar no Senhor Jesus!
Como estes antepassados confiaram. Como Carlos Martel. E aí poderão ficar tranquilos quando Deus perguntar:
“…Onde estás?” Gn 3:9
*Antonio Cabrera foi ministro da Agricultura de 1990 a 1992 durante o governo Collor. Mensagem recebida via email, sem alteração de conteúdo, formatada para publicação em blogs.
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