Este é da série concursos, publicado originalmente no Fórum Concurseiros. Estou escolhendo aleatoriamente, por data, entre meus melhores textos para publicar aqui. Espero que goste, e comente o que achou. Ah, pode dizer que não gostou também, sem problemas… =o)
Todo concurseiro que se preza almeja realizar dois grandes sonhos: o primeiro, claro, é o da aprovação. O segundo, que depende diretamente do primeiro, é o da realização. Realizar-se como profissional, como cidadão e, claro, como pessoa. Nesse sentido, o cargo público é um dos meios de se conquistar esses objetivos.
Nesse aspecto de realização pessoal, poderiam ser dados vários exemplos, todavia, vou citar apenas um: férias. Após angariar várias aprovações em diversos concursos, médios e bons, embora com poucas nomeações, chegou finalmente a chance de poder dar continuidade aos projetos em stand by. Se há algo que mina nossa resistência é quando não vemos as coisas acontecerem. Deixar sonhos e projetos em pausa é, ainda, uma das grandes causas de frustrações ao longo do tempo. Segredo para vencer isso? Persistência e paciência.
Mas, vencido esse primeiro passo, o da aprovação, começamos a planejar as tão sonhadas férias. No meu caso, distante de minha terrinha natal há quase uma década, é normal haver um misto de sentimentos saudosistas e ansiedade tentando ocupar o mesmo espaço, ao mesmo tempo, dentro de um coração acelerado. Lembre-se disso nas horas em que for tentado a desistir: tenho um objetivo à frente, não posso parar, o prêmio compensa! E afirmo: compensa mesmo. Após a fase das necessárias adaptações, você verá que a recompensa pelo esforço despendido é muito gratificante.
Talvez você esteja se perguntando o que tem a ver férias com fila, não é mesmo? Calma, chegaremos lá. Por enquanto, desfrute um pouco desse sentimento de antever a conquista, de realizar seu sonho. Use-o como combustível para prosseguir avante e não desistir. Se há uma coisa que aprendi nesses exaustivos anos de estudos para concursos é: não desperdice oportunidades de viver bons momentos, porque os maus, meu caro colega, esses vêm sem pedir licença nem passagem. E, se deixarmos, destroem nosso ânimo e matam nossos sonhos. Não permita isso, é tudo uma questão de escolha; escolha avançar.
Agora voltemos à fila. Fila, aliás, é uma coisa que tem tudo a ver com concursos. E fila também é algo dinâmico, ou pelo menos deve ser. =o) Existem filas e filas, algumas mais rápidas, outras mais lentas, mas, tal qual a história da grama do vizinho ser sempre mais verde, não importa quantas filas haja, a sua sempre será a mais lenta. O porquê disso, infelizmente, ultrapassa os limites de minha pobre mente limitada. Então, tire seus olhos da fila e mire-os em seu objetivo, assim não perderá o foco nem ficará tão vulnerável ao desanimus desistantis, uma doença corriqueira que ataca, principalmente, concurseiros.
Há dois tipos de atitudes que, figurativamente, chamarei de dois países diferentes: um chamado Fracasso e outro chamado Sucesso, que serão abordados de forma mais detalhada em um outro artigo. O mapa desses dois países aponta duas estruturas bastante similares, embora antagônicas, dividindo quase a mesma área geográfica: uma maternidade ao lado de um cemitério. A diferença mais marcante entre eles é a escolha que seus habitantes fizeram de como utilizá-los: no país Fracasso, decidiu-se enterrar sonhos e alimentar pesadelos. Já no Sucesso, pensou-se diferente: enterram-se os pesadelos e alimentam-se os sonhos. Se você pudesse visitar o cemitério dos sonhos do Fracasso, veria estampadas nas lápides a causa mortis de muitos deles: uma pequena infecção causada pelo desânimo, que evoluiu para uma séria crise de desesperança e culminou com uma parada cardio-respiratória por desespero generalizado no sangue.
Apesar de não parecer, a morte dos sonhos está intimamente ligada, quem diria, ao nascimento dos pesadelos. Na maternidade dos pesadelos, você iria descobrir que muitos dos ingredientes necessários ao seu surgimento estão indiretamente ligados à morte dos sonhos. É porque a maternidade funciona ao lado do cemitério, e um se alimenta dos resíduos do outro, formando um verdadeiro círculo vicioso. Observe: o pesadelo nasce com ansiedade desenfreada, cresce com ausência de esperança – um antibiótico natural para ele – e chega à maturidade alimentando-se do desespero. Ou seria o desespero que se alimenta do pesadelo? Parece uma relação quase simbiótica.
Ah sim, férias e fila, quase me esqueci! Foi assim: como disse antes, marquei minhas férias com o objetivo principal de matar a saudade. Eu poderia ter usado várias frases, inclusive as mais bonitas, mas nenhuma delas iria traduzir de forma tão enfática o sentimento que preenchia meu coração. Estudar para concursos nos remete a uma encruzilhada padrão: ou você desiste – não importa se logo ou longe -, ou deixa seus sonhos em pausa para vivenciá-los após a conquista do tão almejado objetivo. Por isso eu disse, e repito: use seus sonhos como combustível nessa longa jornada rumo à aprovação. Raras são as vezes em que essas viagens são curtas e, em concursos de grande porte, eu diria que quase inexistentes.
Como todo desejo represado por longo tempo, essas férias tinham tudo para serem especiais. E foram mesmo, do início ao fim. Os dias passaram-se ligeiros, com tantos lugares e pessoas para serem visitados e muita coisa nova a ser descoberta. Mas, enfim, eis que chega o dia da volta. Geralmente, o fim das férias é mais maçante do que o início ou mesmo o meio, mas, dessa vez, foi diferente. A emoção estava reservada para o final. Saí da casa onde estava hospedado com o tempo espremido para o voo, ou seja, sem margem para algum imprevisto. E, como todo bom imprevisto, ele sempre acha de aparecer quando faz mais estrago, quando menos esperamos. E, no meio do caminho, havia uma pedra, digo um engarrafamento causado por um acidente de trânsito. Você já passou pela angústia de estar impotente e ver as coisas paradas, e o tempo correndo, sem poder fazer nada, ou quase nada? Pois é, foi assim mesmo que aconteceu comigo.
Ao chegar ao aeroporto, tempo estourado, deparo-me com um salão abarrotado de gente querendo exatamente o mesmo que eu: viajar de volta pra casa. Fim do período de férias, pós Ano Novo, em um aeroporto de capital turística nordestina, por que eu me surpreendi tanto com aquela cena? De fato, eu não estava preparado para aquilo, muito menos para o que se seguiria: obtive apenas e tão somente a curta frase que marcou o resto do dia – “o voo foi encerrado, só outro agora, se tiver alguma vaga sobrando…”. Lição? Não perca o voo, é uma experiência deveras desagradável, semelhante, em parte, a chegar atrasado para uma prova de concurso e os portões já estarem fechados. Quem já passou por isso sabe o quanto é frustrante e decepcionante.
Por aquela eu não esperava. É aqui que começa minha experiência, mais uma, desagradável com filas. Já havia me atrasado antes para um voo, mas nunca havia perdido um. É, meu amigo, mas pra tudo tem uma primeira vez. E, sem trocadilho, as primeiras vezes geralmente são as mais difíceis e doloridas: o primeiro mergulho sem saber nadar (pode vir, eu te seguro… glub, glub, glub), o primeiro tombo, digo passeio de bicicleta (é só pedalar e aprumar o guidão, não tem erro… crash, bum, ai, ui), a primeira reprovação em concurso (bom, pelo menos pra mim, todas doem quando você quer ou precisa muito passar…).
Senti na pele aquilo que antes só via de longe: o caos aéreo. Entretanto, esse caos foi bem particular pra mim, além de umas poucas pessoas que também perderam o avião por causa do dito acidente. Após mais uma tentativa frustrada, o conselho: “venha amanhã cedo que tentaremos encaixar você no próximo voo”. Levantei 5h da matina e, antes das 6h, lá estava eu no balcão do aeroporto. Em 7º lugar. Sim, haviam dormido no aeroporto (os seis primeiros), e eu, no ponto. O desenrolar disso, graças a Deus, é de um final feliz, mas não sem alguma dor-de-cabeça, e de pouca importância para o tema concursos, mas é justamente daqui que quero tirar as grandes lições para a vida dos concurseiros, coisas básicas, mas que podem mudar seu destino: o que aprendo com as filas.
Fila, nada mais é do que um desequilíbrio na equação oferta x demanda, ou seja, muita gente querendo algo escasso ou reduzido. Na época do auge do comunismo, filas eram comuns em padarias e açougues. Onde nasci, no sertão nordestino, nos terríveis anos de seca, havia filas para poder pegar água. Apesar de a situação ter melhorado sensivelmente, ainda há bolsões de dificuldade em certos rincões do Nordeste. Outro dia, ouvi uma pessoa contando que, onde ele já havia morado, a falta d’água era tão intensa em determinadas épocas que uma lata d’água (cerca de 20 litros) servia para seus dois filhos se banharem, depois sua esposa e, por fim, ele. Após todo esse processo, essa água ainda era reaproveitada para outro fim não especificado. Claro, essa é uma situação extrema, mas você pode imaginar a disposição de uma pessoa nessa situação em enfrentar uma fila por água?
Muitos outros exemplos de filas poderiam ser dados, mas, a fim de evitar cansá-lo dessa tortura de ficar se imaginando vendo – ou vivendo – no meio de tantas filas, vou poupar os detalhes. Até porque, alguém há de concordar comigo, recordações de tempo de espera em fila nunca são agradáveis. Devem existir exceções, embora eu as desconheça. E não vale a pena, certamente, ficar evocando sentimentos que fazem bem em ficar enterrados nos porões de nossa memória.
Pode parecer irônico, mas mesmo depois da aprovação você ainda pega fila: pra assinar a lista de presença na sala de aula do curso de formação (se tiver) e pegar o rango no restaurante. =o) Fazendo uma ilustração grosseira, você já imaginou colocar em fila a concorrência de um concurso com 4.000, 5.000, 10.000 candidatos? Você nem veria o fim da fila. E que lição você tira disso? Que fila é algo inevitável em seu caminho, concurseiro ou não, e você deve estar preparado para enfrentá-la, mais cedo ou mais tarde.
Brasília é um lugar onde as filas são parte do cotidiano e da paisagem. Se você estiver no horário do rush, verá filas superlativas nas principais vias de tráfego, filas e mais filas na rodoviária central e no metrô. Até em um restaurante chique (e caro) daqui, disseram, tem fila! Sendo honesto, toda grande cidade ou capital tem um problema crônico de filas, é quase inevitável. Enfim, você vê filas nos hospitais, nos bancos, estádios, e até aquelas filas esquisitas, cujos exemplos quase todo mundo tem algum para dar, mas, se quiser que eu publique, favor pegar a fila, ok?
=o)
Quer saber mais sobre esse assunto que vivemos todos os dias, mas quase nunca discutimos sobre ele? Visite, na Wikipedia, a Teoria das filas.
Agora, sendo prático, e voltando ao título, por que a fila anda somente para os primeiros? Quando estava no aeroporto, logo após perder o voo, meu nome era um dos primeiros, se fosse contar do fim para o começo #aff, e pude observar que apenas os três ou quatro primeiros embarcaram no voo seguinte. Talvez tenha acontecido algo semelhante com você: perdeu o voo (concurso) e está agora no meio da multidão, sem saber o fazer. Solução? Corra para a fila, e não saia de lá. Em concursos, ficar na fila significa continuar estudando, ralando, dando duro até conseguir a tão sonhada aprovação. Posso citar vários exemplos, até mesmo de conhecidos meus, que quase passaram em um concurso dificílimo, e encararam isso como parte do aprendizado e não esmoreceram. Continuaram ralando e, no ano seguinte, estavam encabeçando a lista dos aprovados.
Ficar na fila não é uma das coisas mais agradáveis que você possa recomendar a alguém, mas, se você quer realmente ser vencedor em um concurso, permaneça na fila dos que não desistem, que não abrem mão de seus sonhos, que perseveram e, por fim, alcançam. Nesse mundo caótico e de poucas (boas) oportunidades em que vivemos, já nascemos enfrentando fila, no caso, nossa mãe na maternidade e, se você é gêmeo, trigêmeo, etc., a fila é dobrada.
Não se engane, existe fila até para quem morre, logo, se o negócio é ficar na fila, resolvi escrever isso para ajudar você a passar o tempo enquanto espera… na fila.
=)
Aquele abraço e até à próxima.
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