Proposta de Tema de Estudo – Como interpretar textos bíblicos
Observação: infelizmente não consegui formatar os marcadores e numeradores para ficarem da forma como projetei no início.
- Tema
- Princípios Básicos de Interpretação Bíblica. Salmo 119.18 “Desvenda os meus olhos, para que veja as maravilhas da tua lei”.
- Objetivo
- Esclarecer aos obreiros presentes à XX AGO formas básicas de interpretação do texto bíblico para serem utilizadas em seus devocionais particulares e nos cultos de doutrina, provendo alimento de qualidade ao seu rebanho.
- Público Alvo
- Obreiros sem formação teológica consolidada, seja por dificuldades geográficas e/ou financeiras;
- Obreiros sem acesso a obras literárias respeitadas e de credibilidade, seja por dificuldades financeiras e/ou inexistência de livrarias ou bibliotecas em sua região;
- Obreiros com formação cultural limitada ou com dificuldades de interpretar os textos bíblicos em linguagem culta (erudita) disponível nas versões bíblicas mais usadas, tais como Almeida Corrigida ou Almeida Atualizada.
- Desenvolvimento
- Conceitos Básicos
- Hermenêutica: O termo “hermenêutica” provém do verbo grego “hermeneuein” e significa “declarar”, “anunciar”, “interpretar”, “esclarecer” e, por último, “traduzir”. Significa que alguma coisa é “tornada compreensível” ou “levada à compreensão”. Ex.: Ne 8.8, 12; Dn 5.7-17 e At 8.30, 31. Alguns defendem que o termo deriva do nome do deus da mitologia grega Hermes. O certo é que este termo originalmente exprimia a compreensão e a exposição de uma sentença “dos deuses”, a qual precisa de uma interpretação para ser compreendida corretamente. Existem vários tipos de hermenêutica, sendo que a bíblica e a jurídica são as mais conhecidas, mas existem outras como a corânica e a talmúdica.
- Exegese é a interpretação profunda de um texto bíblico, jurídico ou literário. A exegese como todo saber, tem práticas implícitas e intuitivas. A tarefa da exegese dos textos sagrados da Bíblia tem uma prioridade e anterioridade em relação a outros textos. Isto é, os textos sagrados são os primeiros dos quais se ocuparam os exegetas na tarefa de interpretar e dar seu significado. A palavra exegese deriva do grego exegeomai, exegesis; ex tem o sentido de ex-trair, ex-ternar, ex-teriorizar, ex-por; quer dizer, no caso, conduzir, guiar. Ex.: Daniel faz a exegese das palavras escritas na parede em Dn 5.25-28. A Exegese Bíblica aplica-se na correta interpretação dos manuscritos sagrados, tendo como princípio básico a correta interpretação de uma palavra a partir da língua original em que a mesma foi escrita, abrangendo inúmeras vertentes e variantes de uma mesma palavra em seus variados sentidos e aplicação.
- Eisegese: por eisegese, compreendermos todo movimento feito a partir de um texto bíblico, indo na direção contrária da proposta pela exegese. Em outras palavras, se a exegese dedica-se a revelar ao leitor o que o texto diz, extraindo dele, o texto, seu significado original, a eisesege, por sua vez, dedica-se a inserir no texto algum significado que o leitor acha que este possui, ou meramente quer que possua. Mas a Bíblia diz “À lei e ao testemunho! Se eles não falarem desta maneira, jamais verão a alva”, em Is 8.20 (ARA). Na exegese o leitor extrai da Bíblia o sentido pretendido pelo autor enquanto na eisegese, o leitor injeta na Bíblia o sentido que ele considera ser o correto. Enquanto a exegese busca o sentido real do texto, a eisegese infere no texto um significado já pré-concebido pelo intérprete. É a ferramenta mais utilizada por seitas para criarem heresias. Lembre-se: eXegese eXtrai, eIsegese Introduz.
- Homilética: O termo Homilética é derivado do Grego “HOMILOS” o que significa, multidão, assembléia do povo, derivando assim outro termo, “HOMILIA” ou pequeno discurso do verbo “OMILEU” conversar. O termo Grego “HOMILIA” significa um discurso com a finalidade de convencer e agradar. Portanto, Homilética significa “A arte de pregar“. A arte de falar em público nasceu na Grécia antiga com o nome de Retórica. O cristianismo passou a usar esta arte como meio da pregação, que no século 17 passou a ser chamada de Homilética. Ex.: Paulo e seu discurso no areópago, em At 17.19. Homilética é o estudo dos fundamentos e princípios de como preparar e proferir sermões. É a ciência cuja arte é a pregação e cujo resultado é o sermão. É a arte do preparo e pregação de sermões.
- Retórica: A retórica é a técnica (ou a arte, como preferem alguns) de convencer o interlocutor através da oratória, ou outros meios de comunicação. Classicamente, o discurso no qual se aplica a retórica é verbal (oral), mas há também — e com muita relevância — o discurso escrito e o discurso visual. Exemplo de retórica no discurso escrito, quando Elias mandou um “recado de Deus” para o rei Jeorão, em 2Rs 21.12. Exemplo de retórica no discurso visual, quando Ezequiel serve de modelo do exílio para a nação, em Ez 12. Em verdade, a oratória é um dos meios pelos quais se manifesta a retórica, mas não o único. Logo, a retórica, enquanto método de persuasão, pode se manifestar por todo e qualquer meio de comunicação. A eloquência é também uma das formas pelas quais a retórica se expressa, e uma pessoa eloquente é aquela que transmite corretamente sua mensagem e consegue persuadir seus ouvintes.
- Oratória: trata-se de método de discurso, da arte de como falar em público ou o conjunto de regras e técnicas que permitem apurar as qualidades pessoais de quem se destina a falar em público. Na Grécia Antiga, e mesmo em Roma, a oratória era estudada como componente da retórica (ou seja, composição e apresentação de discursos), e era considerada uma importante habilidade na vida pública e privada. Aristóteles e Quintiliano estão entre os mais conhecidos autores sobre o tema na antiguidade.
- Loquacidade: é o hábito de falar muito, e embora na antiguidade fosse quase um sinônimo de eloquência, hoje a loquacidade tem sentido pejorativo e se confunde com prolixidade que, por sua vez, é a exposição cansativa e inútil de palavras ou argumentos. É o excesso de palavras para exprimir poucas ideias. Ao texto ou discurso prolixo falta objetividade, o qual quase sempre compromete a clareza e cansa o leitor. O apóstolo Paulo foi acusado de loquaz (paroleiro ou tagarela em algumas versões) pelos atenienses, em At 17.18. Para se prevenir da prolixidade é necessário que se tenha atenção à concisão e precisão da mensagem. Concisão é a qualidade de dizer o máximo possível com o mínimo de palavras. Precisão é a qualidade de utilizar a palavra certa para dizer exatamente o que se quer.
- Princípios Básicos
- Como se deve interpretar a Bíblia
- Crendo que a Bíblia é a Palavra de Deus: 1Tm 3.16, 17;
- Orando e meditando: Sl 1 e 119.15;
- Lendo repetidamente o texto: Fp 3.1;
- Respeitando a literalidade do texto, exceto se o mesmo assim o permitir: Is 8.20;
- Respeitando suas próprias limitações: Pv 3.5 e Jr 9.23, 24;
- Como não se deve interpretar a Bíblia
- Negligenciando o texto
- Não lendo o suficiente para entender o que o texto realmente diz;
- Lendo-o com desinteresse, desatenção;
- Desrespeitando o texto
- Deturpação: atribuindo ao texto aquilo que ele não diz, ex.: Jr 28;
- Adição: colocando palavras no texto que não estão lá, ex.: Pv 30.6 e Ap 22.18;
- Omissão: suprimindo palavras do texto, seja por não entendê-las, seja por não gostar do que o texto diz, ex.: Jr 23.30 e Ap 22.18;
- Superestimando sua própria capacidade de interpretação
- Moisés estava certo de que seria o libertador do povo, mas errou o tempo e a forma que o Senhor faria isso por meio dele, em At 7.22-27.
- Como se pode interpretar a Bíblia
- Comparando passagens paralelas em versões diferentes
- Mesma passagem em Almeida Corrigida e Atualizada, p. ex. com o intuito de expandir o texto com palavras diferentes, mas com mesmo sentido;
- Contextualizando a passagem bíblica
- Historicamente: quando aconteceu e em que circunstâncias, possíveis causas;
- Geograficamente: onde ocorreu e no meio de qual povo ou cultura, possíveis influências.
- Aplicando os textos
- À realidade dos ouvintes: situações específicas que ocorrem com pessoas da comunidade ou fatos bem conhecidos da audiência, demonstrando como o texto bíblico pode ser útil ao ouvinte;
- Às situações cotidianas: eventos genéricos que podem acontecer com qualquer pessoa ou e qualquer lugar, servindo o texto bíblico de orientação no proceder.
- Por meio de analogias (sinonímia)
- Substituindo palavras por outras com significado semelhante, para enriquecer a interpretação;
- Por meio de antíteses (antinonímia)
- Substituindo palavras por seus antônimos (palavras contrárias), para descobrir o que o texto proíbe ou censura;
- Por meio de omissões (palavras não ditas – esse recurso deve ser usado com cautela, pois pode levar a interpretações equivocadas)
- Refletir sobre aquilo que o texto deixa de mencionar, tentando descobrir o porquê de sua omissão;
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- Exemplos Práticos
- Texto: Tiago 5.16b “A oração de um justo pode muito em seus efeitos”.
- Ler em versões diferentes para expandir o entendimento;
- ARC: a oração feita por um justo pode muito em seus efeitos.
- ARA: Muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo.
- Explorar o contexto histórico-geográfico da época de Tiago, procurando entender o texto como se fosse seu contemporâneo, demonstrando que os crentes da época tinham poucas opções de justiça, amparo à saúde e segurança, mas recorriam à oração constantemente. Se orar não desse resultado, por que continuariam a orar e incentivar os outros a tal? Contextualizar é o mesmo que aproximar os ouvintes do texto;
- Aplicar o texto à realidade dos ouvintes, ou seja, aproximando o texto dos ouvintes, tornando-o fácil de ser assimilado, e a melhor forma de fazer isso é por meio de ilustrações, tal como Jesus fazia utilizando-se das parábolas, como a do semeador, por exemplo;
- Explorar os sinônimos de
- oração: súplica (pedir com humildade, reverência), clamor (gritar);
- justo: justificado, íntegro, sem folgas (apertado). Esse recurso deve obedecer o seguinte: identificar o pré-requisito (oração), verificar o atendimento a esse pré-requisito (orar) e o resultado esperado (resposta), ou seja: fez como o texto diz, espere o resultado que ele promete;
- Explorar os antônimos de
- oração: exigência, irreverência (arrogância), ordem;
- justo: injusto, faltante, folgado. Esse recurso expressa o seguinte entendimento: identificar o pré-requisito (oração), demonstre o não-atendimento a esse requisito (não orar) e revele o resultado inesperado (sem resposta ou resposta contrária), ou seja: faça o contrário do que o texto diz, e colha as consequências dessa desobediência, que é o contrário do que foi prometido.
- Omissões do texto, que é um recurso que nem todo texto aceita e deve ser usado com discernimento e cautela.
- Exemplo: por que a oração de apenas UM (01) justo produz efeito? Jesus não prometeu estar no meio de dois (02) ou três (03) em Seu nome, então por que não dois ou três justos deveriam orar? Será que é porque a oração é tão poderosa que apenas UM já consegue fazer diferença? Veja os exemplos de orações solitárias que mudaram a história: Abraão e Sodoma, Elias e os profetas de Baal, Ezequiel e os ossos secos, e de Davi e Golias.
- Conclusões
- Interpretar o texto ou passagem bíblica corretamente é um dever de todo líder à frente do rebanho, não apenas para prover um crescimento sadio das ovelhas como para vaciná-los de heresias e falsas doutrinas que proliferam no universo religioso, para o qual a maioria não está preparada. Além disso, o obreiro deve saber interpretar a Bíblia corretamente para que sua vida seja moldada à vontade de Deus, e essa vontade seja aplicada às situações cotidianas e orientando suas decisões nas mais diversas áreas.
- Somente um líder e/ou obreiro que lê e compreende adequadamente a Palavra de Deus, agindo de acordo com sua fé, pode ser espelho para a congregação e estar apto para ensinar a sã doutrina aos seus liderados. Na maioria das vezes, os maiores inimigos do Cristianismo não são os que rejeitam ou desacreditam da Palavra de Deus, mas aqueles que a ensinam, por interpretá-la mal, erroneamente. Grandes heresias surgiram por pessoas bem-intencionadas que interpretaram mal a Palavra de Deus, e a ensinaram como se fosse uma revelação dos céus.
- A Palavra de Deus deve ser corretamente compreendida para que os falsos mestres possam ser desmascarados, como ocorreu em Ap 2.2 onde a igreja de Éfeso confrontou os falsos apóstolos e os reprovou. Ademais, a Palavra de Deus, como a espada do Espírito, é nossa maior e melhor arma contra os poderes das trevas, fato demonstrado e comprovado no embate entre Jesus e Satanás no deserto, em Mt 4.
- Referências Bibliográficas
- Livros recomendados: BENTHO, Esdras Costa (autor)
- Hermenêutica Fácil e Descomplicada (CPAD:2003);
- A Família no Antigo Testamento: História e Sociologia (CPAD:2006)
- Pesquisas realizadas na internet em:
- Wikipedia: http://pt.wikipedia.org/
- Google.: www.google.com.br
Autor: Pb. Wallace Sousa, congrega na Assembleia de Deus no DF.
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Acabei de imprimir o estudo sobre hermenêutica pura e simples.Esse site é demais,DEUS abençoe a todos,irmãos estou aguardando a chegada da minha biblia TORÀ.
Carlos, apz.
seu livro Torá (Bíblia) já foi enviado na terça passada, e o nº para acompanhar junto aos Correios é:
PB240348134BR
Abs, apz.