Em caso de arrebatamento… outra visão p.1

Este post é um contraponto ao post do irmão Hermes C. Fernandes, em http://www.genizahvirtual.com/2010/07/em-caso-de-arrebatamento.html, onde teci alguns comentários, mas me senti direcionado a escrever algo mais substancial, e como lá não era o espaço mais adequado em tamanho, resolvi postar aqui.

É Jesus voltando e eu indo. 1Ts 4.17

Antes de tudo, quero deixar bem claro algumas coisas:

  1. não quero desmerecer ou denegrir a imagem do irmão Hermes, aliás tenho respeito e admiração por ele, ele está entre as testemunhas do meu blog e eu entre os seguidores do seu;
  2. não quero suscitar uma polêmica com o objetivo de aumentar a audiência deste ordinário blog, que conta, atualmente, com testemunhas, e não audiência (mas, se vier mais audiência, como efeito colateral positivo, amém =o);
  3. estou escrevendo por conta de argumentar sob uma ótica diferente, pois não sou teólogo, e não objetivo debater o ponto de vista teológico defendido pelo Hermes, mas apenas alguns de seus argumentos expostos em seu post.

Dito isto, vou citar o que ele escreveu e tecer meus comentários em seguida, onde julgar pertinente. Não colocarei todo o seu texto, mas apenas aqueles excertos que julgo necessários contrapontuar.

“Em caso de arrebatamento, este carro vai ficar desgovernado”. Esta frase é encontrada adesivada em muitos automóveis em nossas cidades. Para os não-evangélicos não faz o menor sentido. Mas para muitos os evangélicos esta frase denota a crença na doutrina do arrebatamento secreto, defendida pelo sistema dispensacionalista de interpretação bíblica.

Segundo este sistema, a volta de Cristo seria dividida em duas fases, a primeira seria secreta e destinada unicamente aos crentes, enquanto a segunda seria pública e aconteceria sete anos depois dos crentes serem arrebatados e levados para o céu.

Sim, é assim que creio e aprendi, apesar de, exatamente, Jesus voltar após o período da Tribulação de 7 anos, que terá como marco a assinatura do pacto do anticristo com Israel, segundo a visão dispensacionalista.

Os mais antigos se lembram de um hino cujo título era “O Rei está voltando”. Entre suas estrofes, se dizia que o mercado ficaria vazio (e não seria pela alta dos preços!), os aviões cairiam pela ausência súbita dos pilotos. Enfim, o mundo ficaria em polvorosa, e a mídia não se ocuparia com outra notícia que não fosse o desaparecimento de milhões de crentes pelo mundo a fora. Alguns defensores das teorias de conspiração afirmam que a mídia reportaria o desaparecimento súbito de milhões de crentes como um caso de abdução em massa promovida por discos voadores (sic).

Cresci ouvindo isso. Ficava atormentado quando meus pais tocavam na vitrola o disco “A última trombeta”.

Bem, houve uma época em que eu também me sentia atormentado com essa idéia, mas era quando eu me sabia em franca desobediência ao Senhor. Após me consertar e andar em obediência, a idéia do arrebatamento secreto não me causava mais espécie, pelo contrário, era vista com alegria e certa ansiedade.

Não estou insinuando que era isso que acontecia ao Hermes, apenas relatei minha experiência pessoal. Cada um com seu cada qual.

Depois de crescidinho, deparei-me com outros sistemas de interpretação, e mesmo formado em Teologia, já tendo dado aula de Escatologia em um seminário, decidi rever meus conceitos.

Dei-me conta que a doutrina do arrebatamento secreto não consta das Escrituras, e foi inventada há pouco mais de duzentos anos, por um inglês chamado John Nelson Darby (1800-1882), e tornando-se febre entre os cristãos evangélicos por causa dos comentários de rodapé da Bíblia de Scofield. Portanto, é a mais recente linha de interpretação da escatologia bíblica. Mais tarde, descobri que tal interpretação já havia sido seminalmente engendrada trezentos anos antes pelo jesuíta espanhol Franscisco Ribera (1537-1591). Por quase três séculos, tal teoria ficou confinada à Igreja Católica Romana, até que, em 1826, Samuel R. Maitland (1792-1866), que era bibliotecário de Canterbury, publicou um panfleto em que promovia a idéia de Ribera.

Bem, rever conceitos não é um problema, ainda mais em escatologia, onde há uma tênue linha divisória entre as vertentes protestantes. Problema seria rever os conceitos de pecado original, nascimento virginal e deidade de Jesus, Trindade, etc. Em escatologia – eta nome esquisito – ainda não foi batido o martelo do que será, simplesmente porque o que será ainda não foi, senão, já tinha sido, correto? Confuso pra você? Não se preocupe, isso é escatologia, e escatologia é assim mesmo, um olhar para o futuro, tentando decifrar as réstias (fachos de luz) por trás de um véu obscuro.

Claro que nem toda profecia é obscura, mormente as que já tiveram seu cumprimento. Geralmente é assim: profecia cumprida fica fácil de interpretar. Difícil é a que ainda está por vir. Se interpretar profecia fosse fácil, Moisés não precisaria fazer pós-graduação no deserto do sogro nem Herodes precisaria saber pelos magos do Oriente que o Messias estava, literalmente, bem debaixo das suas barbas.

Agora, de fato, não posso desmentir que Darby inventou o arrebatamento secreto, mas julgo estranha a afirmação da “invenção”. Todavia, não julgando o mérito da idéia, eu poderia, também, atacar o nascimento do Messias por que magos do Oriente vieram anunciá-lo, deixando os doutores da Lei a ver camelos? Não, a questão da origem, por si só, não chega a ser um critério rígido de exclusão. Ademais, o jesuíta Ribera tinha testemunho ou “tristemunho”?

Bem, parece-me mais prudente julgar o dispensacionalismo por sua conformação às Escrituras, a despeito da pessoa de seus idealizadores.

continua nos próximos capítulos

=o)

Wallace

Just another little servant of the Lord Jesus Christ. Apenas mais um pequeno servo do Senhor Jesus Cristo. Editor do blog Desafiando Limites (https://wallysou.com). Crítico do cristianismo evangélico da prosperidade e pensador cristão amador.

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