O indivíduo acima, com a Bíblia na mão, no meio dos traficantes portando AR-15, é o pastor Rogério Menezes. Ele foi alvo (perdão pelo trocadilho… risos) de uma primorosa reportagem da Revista Trip. A revista junta coisas que, no entender dela, cabem no mesmo formato: viagens e mulher [semi]nua. Agora, colocou o evangelho na mistura…
É, Deus está “pintando os canecos” para falar ao coração das pessoas, indo até redutos que nós não temos coragem de ir para falar de Jesus… realmente, o Senhor ama mesmo os malfeitores, prostitutas e excluídos, mas nós, ao que parece, nos esquecemos disso. Eu estava para dizer que era um efeito colateral da teologia da prosperidade, mas julgo que é um efeito deliberado, esperado e programado, já que advogo que a teologia da prosperidade é oriunda dos porões do inferno.
Mas, vamos falar de coisas boas: a atuação do pr. Rogério é um exemplo de vida cristã, bem como de atitude de ganhador de almas, fazendo uso, literalmente, das palavras de Paulo: “em nada tenho a minha vida por preciosa”.
Veja como Deus agiu por meio desse homem para evitar um verdadeiro banho de sangue nos morros cariocas e que, provavelmente, não vai ganhar nada por isso, além de vermos os políticos se gabando do “sucesso da operação”, etc, etc, etc. Mas, nos anais celestiais, o nome dele tem presença garantida e a recompensa está guardada para aquele Dia.
Para ler a entrevista da revista Trip, visite o blog da amiga Wânia, o Alma Marcada.
Leia aqui um pouco da entrevista mais recente e julgue se Deus agiu, ou não, evitando o pior nessa guerra contra o tráfico:
Na véspera da invasão da polícia ao Complexo do Alemão, um grupo de cinco pessoas da ONG AfroReggae decidiu subir o conjunto de 14 favelas na Penha, zona norte do Rio de Janeiro, e tentar convencer os traficantes a se entregarem. Liderados pelo diretor-executivo da organização, José Junior, eles argumentaram que a polícia venceria um possível confronto e que inocentes seriam as maiores vítimas. Ao lado de Junior estava um dos coordenadores da área social da entidade, Rogério Menezes, respeitado por traficantes, viciados e detentos do sistema penitenciário do Estado.
José Junior e o pastor Rogério Menezes (de azul) a caminho da favela da Grota, no Complexo do Alemão
Evangelizador da Assembleia de Deus, Rogério é chamado de pastor. Em meio à negociação com os criminosos, no sábado (27), José Junior recorria ao Twitter para mandar informações em tempo real. “Pastor Rogério é o cara que mais salvou vidas que eu conheço. Muitas, inclusive, na Vila Cruzeiro e no Complexo do Alemão. Homem de Deus”, escreveu o líder do AfroReggae na ocasião.
Ex-viciado, pastor Rogério admite que já traficou drogas, pegou em armas e cometeu crimes. Foi preso. Sobreviveu a duas overdoses de cocaína, e “foi salvo por Jesus”. Hoje, ele diz que sua vida pregressa o permite compreender o que passa pela cabeça de criminosos e apresentar argumentos para tirar muitos da marginalidade. “Já salvei uns 300 que estavam amarrados para morrer”, garante.
Sobre a ação de retomada do Complexo do Alemão pelo Estado, o pastor diz acreditar “que a intenção foi uma das melhores”. Segundo ele, “o governador tem feito um trabalho muito bom”. Contudo, o religioso defende que somente uma anistia aos traficantes será capaz de pôr fim à ameaça de guerra no Rio. “Proponho que essa decisão seja avaliada pelo governo, pelos parlamentares e pela Justiça.”
A seguir, leia mais sobre o que pensa o pastor.
iG: Às vésperas da polícia invadir a favela, no sábado (27), o senhor e o José Junior entraram no Complexo do Alemão para conversar com os traficantes. Na sua avaliação, esse gesto ajudou a evitar derramamento de sangue?
Rogério Menezes – Sim. Eu e o José Junior estávamos todo o tempo juntos. Ele virava para mim e falava “pô, Rogério, o que a gente pode fazer para ajudar?”. Eu respondia: “Junior, eu sei que é perigoso e arriscado, mas imagina se a polícia entrar? Vai morrer muita gente. Temos de ir lá”. Expliquei que o máximo que poderia acontecer era a gente ser tomado como refém. Falei: “Deus está nos mandando ir”.
iG: O que o senhor pensava naquele momento?
Rogério Menezes – Havia ali cerca de 1.500 pessoas com algum envolvimento com o crime. Se houvesse confronto, eles iriam enfrentar, como foi noticiado, 2.600 policiais civis, militares, homens do Exército e da Marinha. Sem contar os inocentes, os jornalistas, imagina o derramamento de sangue que poderia existir… Eu só pensava nisso.
iG: Como vocês chegaram até os traficantes?
Rogério Menezes – Entramos na favela e perguntamos onde eles estavam. Nos orientaram a chegar até a parte mais alta. Encontramos um grupo de cerca de 60 homens, os mais perigosos. Conversamos olho no olho.
iG: E como foi a conversa?
Rogério Menezes – Eles vieram até a gente. Estavam cansados, sem forças até para falar. Nós argumentamos que não dava para eles encararem. E muitos diziam “pastor, me ajuda. Pelo amor de Deus. O que o senhor pode fazer por mim?” O José Junior respondeu que não havia nada que a gente pudesse fazer e que o melhor seria se renderem à polícia; que a única garantia que a gente podia dar era a de que ninguém seria assassinado se aceitasse a rendição.
iG: E eles estavam inclinados a aceitar a proposta?
Rogério Menezes – Um dos chefões virou para mim e falou: “Pastor, o senhor me conhece. Sabe que a minha vida todinha eu tirei dentro da cadeia. O senhor quer que eu volte?” Respondi: “Rapaz, é melhor você se entregar do que ser morto. Você tem uma vida, tem família. Pensa muito bem no que você vai fazer.”
iG: E qual foi a reação?
Rogério Menezes – Eles estavam desesperados, amedrontados. Alguns tremiam, estavam com os olhos arregalados. Outros olhavam para a gente como se fôssemos uma saída, um porto seguro. E a gente foi tentando acalmá-los. Mas eles diziam que era complicado se entregar. Em determinadas facções, se entregar é complicado. Eu sei disso. Hoje sou pastor, mas já fui do crime. Entendo a posição deles. Mas é aquele negócio, para o homem é impossível, mas para Deus tudo é possível. Continue lendo no IG.
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