Atendendo a anseios da galera concurseira, e gentilmente a meu convite, o Blog Desafiando Limites orgulhosamente apresenta o depoimento entrevista do Auditor Federal de Controle Externo, TonySJR que, entre outras qualidades (de ser meu amigo, por exemplo, risos) é um dos concurseiros mais bem-sucedidos que conheci (conheço). Este post vai ser publicado, simultaneamente, no Fórum Concurseiros, para facilitar as respostas do Tony, caso ele considere necessário fazê-lo.
Blog Desafiando Limites – Fale brevemente de você, de onde é, onde está hoje e se faz algo além do cargo para o qual assumiu.
TonySJR – Olá pessoal! Primeiramente, gostaria de dizer que é um prazer escrever para esse blog e, mais uma vez, ajudar os concurseiros do Brasil.
Sou Antonio Saraiva, tenho 27 anos, sou nascido no Rio de Janeiro, mas crescido em Brasília desde muito pequeno, por isso adotei a cidade e estou totalmente adaptado ao Planalto Central – tanto que não cogito mudar de cidade tão cedo. Assumi o cargo de Auditor Federal de Controle Externo – área finalística – do Tribunal de Contas da União em dezembro de 2008 e desde então exerço minhas funções na Sede do Tribunal, em Brasília.
Atualmente tenho dedicado meu tempo livre apenas aos estudos pessoais, à família, aos amigos e ao lazer, ou seja, não estou desempenhando outra atividade.
DL – Quantas HBC você contabilizou durante sua preparação? Como fazia para registrá-las?
Não possuo mais o registro exato de quantas HBC somei na época de concurseiro, mas lembro que foram mais de 1.500 contabilizadas, fora outras da época em que eu não contabilizava. Meus registros eram feitos em planilha impressa, na qual eu registrava o total de horas acumuladas por matéria.
DL – Como otimizar os estudos na reta final: revisão, exercícios, teoria complementar, normas? Considere aproximadamente 2 semanas antes da prova.
Penso que cada concurseiro tem a sua técnica de revisão final, e não há uma fórmula pronta para todos os casos. O ideal é testar aquele método de estudo da reta final com o qual você se sente mais à vontade e obtém melhores resultados. No meu caso, eu preferia fazer muitos exercícios (60% do tempo), revisar a teoria de assuntos mais complexos, os quais eu esquecia mais ou tinha maior dificuldade (20% do tempo) e ler leis secas (20%).
O caso das leis secas parece ser regra quase universal. Reserve um tempo para lê-las com afinco na véspera da prova, pois você vai se recordar mais facilmente do texto e dos detalhes, devido à memória recente.
Aconselho ainda não estudar (resista à tentação!) nos últimos dois dias da véspera. Deixe esse tempo para descansar a mente e evitar chegar na hora da prova com a cabeça cansada. O que você aprendeu em meses ou anos de estudo com certeza não será apagado, e o que foi aprendido, foi aprendido. Não adianta forçar demais a barra e correr o risco de chegar no dia da prova muito estressado/cansado.
[comento: concordo com o Tony, os dias, ou pelo menos o dia que antecede a prova é para refazer as energias e descansar a mente, preparando-a para a dura batalha que virá]
DL – Como otimizar o estudo de matérias difíceis, tais como Português, Contabilidade, etc? E como memorizar tantas leis e normas tão diferentes, complexas e extensas?
Não existe uma receita de bolo para isso, creio eu. Por outro lado, há vários métodos de memorização e otimização do estudo que podem ser encontrados em livros especializados, como o do William Douglas, e na internet.
No meu caso, para ajudar no aprendizado, eu intercalava as matérias de forma a não estudar, seguido, matérias muito parecidas (ramos do Direito), senão ficaria tedioso. Assim, eu intercalava Contabilidade Geral com Português, Contabilidade Pública com Direitos etc. Isso era controlado por meio de uma planilha. Eu também usava o método de memorização que o Alex Viegas ensina em seu livro Manual de um Concurseiro. Para mim funcionou, mas pode ser que para outros esse mecanismo não funcione. Importante é o concurseiro saber disso e ir testando os métodos até se adaptar a um deles.
Esse método do Alex Viegas também ajuda a memorizar leis e normas, sem prejuízo da leitura da lei seca, que deve ser feita regularmente e intensificada às vésperas da prova.
DL – Durante os estudos, o que você fazia quando batia o sono? Tomavam ducha de água fria? Tirava uma soneca? Quanto tempo?
Eu dormia! Tirava uma soneca de no máximo 1 hora e retornava aos estudos com mais disposição. É importante respeitar seu corpo e sua mente, se preservar. Deixe para dar um gás mais forte apenas quando o edital estiver na praça. Até lá, é importante não se desgastar demais, senão quando for a hora da “arrancada”, você não terá fôlego.
DL – Você focou em apenas um concurso ou estudava para outros em paralelo?
Eu foquei o concurso para AUFC/TCU, porém estudava para e prestava outros certames em paralelo, à medida que saiam editais ou boatos muito fortes de lançamento de edital, e desde que as matérias fossem relacionadas ou em comum.
É importante que o concurseiro teste seus conhecimentos em outros concursos, mesmo que já ocupe um cargo superior ao prestado. O concurso intermediário serve como teste e como aprimoramento. Só se aprende a fazer concurso fazendo!
Dessa forma, prestei diversos concursos, alguns dos quais fui aprovado com boas colocações, como CGU, STF e FNDE/MEC. Entretanto, é fundamental que esses certames possuam matérias em comum (pelo menos 70%) e que, enquanto se prepara para eles, não deixe de estudar as matérias do concurso que é o seu objetivo final.
DL – Qual era o seu método de estudo (cursinho, sozinho ou em grupo)? Participava de fóruns e debates?
Em média, 70% do meu tempo era dedicado ao estudo individual, o famoso HBC. 20% em cursinhos e 10% em grupo, com poucos colegas bastante afinados e sintonizados nas matérias, senão seria perda de tempo. No entanto, é natural que no começo da trajetória do concurseiro, a maioria do tempo seja dedicada ao cursinho, e menos ao estudo individual. Essa proporção costuma se alterar e, uma vez mais avançado, é importante que o estudo individual seja a prioridade, pois é nele que absorvemos mais conteúdo.
O estudo em grupo é polêmico. Para algumas pessoas é proveitoso, para outras, não é. O importante é que não se perca muito tempo em conversas paralelas (muito comum!). Nesse caso, cada pessoa deve avaliar se o estudo em grupo lhe rende frutos ou não e seguir a estratégia mais proveitosa.
DL – Você utilizava algum método e/ou técnica de concentração? Praticava alguma atividade física?
Não usei métodos de concentração, mas de memorização, sim, principalmente o método dos ciclos do William Douglas e o método das fichas de Alex Viégas (mais detalhes em: http://www.forumconcurseiros.com/forum/showthread.php?t=234530)
A dificuldade de concentração é normal no início da trajetória de estudos de um concurseiro, mas ela aumenta com a prática e o hábito. Também há épocas de recaída em que a concentração fica mesmo prejudicada, especialmente quando fatores extra-concurso nos afetam (saúde, família, problemas financeiros etc.). Minha solução era continuar estudando sempre, ainda que com baixa concentração, para não perder o ritmo ou cair na zona de conforto/preguiça.
Como atividade física, eu praticava corrida, que podia ser feito a qualquer intervalo de estudo e era muito relaxante.
DL – Considerando o cenário atual e o crescente número de candidatos, qual o prazo estimado para alguém, que partiu do zero, ser aprovado em um dos concursos TOP, tais como CGU, TCU, Receita, etc? (em anos, em horas de estudo).
Eu demorei dois anos de estudo quase diário para ser aprovado. A regularidade é importante, nesse caso, pois antes desse período acumulei um ano de cursinho em algumas matérias e estudo individual, porém a carga horária era baixíssima. Essa época foi como um “aquecimento”, uma “preparação de terreno” que fiz antes de encarar.
Nos dias de hoje, eu diria que o prazo médio de estudo, em anos, seria de dois a três anos de estudo quase diário para aprovação em um concurso TOP. Em HBC eu não saberia medir, pois a quantidade de horas despendidas pelo concurseiro não é o mais importante, e sim a qualidade do estudo realizado.
DL – Diga-nos como foi sua adaptação a Brasília, caso seja aplicável.
Não se aplica, pois eu já residia em Brasília antes da aprovação.
DL – Como você avalia o custo de vida em Brasília, em relação a outras capitais, como São Paulo, Belo Horizonte ou Rio de Janeiro, p. ex.?
Brasília foi mais cara relativamente a outras capitais, especialmente em se tratando de educação de filhos e compra/aluguel de imóveis. No entanto, com a recente valorização imobiliária ocorrida nos últimos dois anos no Brasil, tenho percebido que os preços dos imóveis aqui não estão tão mais altos que nas demais grandes capitais. Embora o custo de vida brasiliense ainda seja ligeiramente mais alto que em outras grandes cidades, Brasília oferece muitas vantagens também, como a elevada qualidade de vida.
[comento: aqui eu discordo em relação ao preço dos imóveis para compra, que está mais para a Ilha da Fantasia ou Alcatraz, depende do referencial… risos. Quanto ao aluguel, ainda é caro, mas é mais aceitável do que a compra, se se morar fora do Plano Piloto. Sobre a qualidade de vida, sou obrigado a concordar que é melhor do que muitas capitais, embora isso não se aplique, na mesma medida, a todas as cidades satélites do DF]
DL – O que você nos diz: valeu a pena? Faria tudo novamente? Mudaria algo na estratégia adotada?
Com certeza valeu a pena! Faria tudo novamente. Se eu soubesse que o TCU era um local tão bom de se trabalhar, teria estudado até mais e não teria me dado ao luxo de ter alguns momentos de descanso (risos)!
DL – Você, como ex-concurseiro, se sente realizado com a conquista? Por quê?
Totalmente.
DL – Geralmente vemos muito ex-concurseiros respondendo à pergunta “como está sendo o novo trabalho” e a resposta quase sempre é um “conto de fadas” ou um “curtindo a vida adoidado”, merecido por sinal (risos). Mas há poucos (ou nenhum) relatos de aprovados que não se adaptaram ou simplesmente não gostaram do novo emprego. Então, é tudo tão bom quanto falam? O concurso é, de fato, a solução para quem está insatisfeito na iniciativa privada?
É verdade. O momento imediatamente pós-aprovação é sempre magnífico para todo concurseiro, pois é o coroamento de anos de estudo. Essa pergunta pode ser melhor respondida se perguntada a concurseiros que já ocupam o cargo há pelo menos dois anos, período no qual ocorre a adaptação ao cargo, ao trabalho e à rotina que lhe são inerentes. Vejo isso no TCU. Alguns colegas encontram-se insatisfeitos com o trabalho ou estão entediados.
Nesse caso, o problema é que a pessoa buscou o concurso exclusivamente pela questão financeira. Sem olhar as atribuições do cargo pretendido. Como eu consegui unir interesse pela atividade desenvolvida no cargo com a boa remuneração, creio que cheguei a um equilíbrio. Agora quem entra pensando só na parte financeira e em “relaxar” (o que não ocorre tanto assim, pois no TCU temos muito trabalho), acaba se frustrando, pois trabalha onde não gosta.
Além disso, a Administração Pública tem suas desvantagens em relação à iniciativa privada, como o excesso de burocracia e a falta de dinamismo. Portanto, se a pessoa estiver disposta a encarar esses fatores e se identificar com a atividade desenvolvida no cargo, o concurso é sim uma excelente alternativa. Do contrário, só trará frustração.
[comento: sempre gostei de frisar isso, que não se deve fazer concurso tendo como única motivação a questão financeira. Já vi casos e casos, e repito: ganhar bem não é sinônimo de realização profissional, por mais ilógico que isso possa parecer. Conheci colegas que abdicaram de trabalhar em órgãos que pagavam salários acima de 2 dígitos (ou seja, no mínimo R$ 10 mil), porque não se sentiram satisfeitos realizando aquele trabalho. É possível? Sim, é.]
DL – Após a nomeação e a tão sonhada posse, como é, genericamente, o ambiente de trabalho? Sente-se realizado profissionalmente?
No TCU o ambiente organizacional é excelente. É o melhor ambiente de trabalho em que já estive. As pessoas em geral são educadas, prestativas, de bom nível intelectual e comprometidas com o que fazem. Juntando isso com o interesse pelas atividades do cargo, sinto-me realizado, sim.
DL – Você é, de fato, um ex-concurseiro ou ainda tem algum projeto de estudos para o futuro? Explique.
Por enquanto, estou aposentado como concurseiro, pois não vislumbro outro cargo cujas atribuições me atraiam mais que as de Auditor Federal de Controle Externo do TCU. Mas posso mudar de ideia no futuro, nunca se sabe, não é?
DL – Você obteve apoio da família e amigos para assumir um projeto de vida tão importante como este (o concurso ficou igual ou pior a um vestibular)?
Fui apoiado pela família e alguns amigos mais próximos. Outros amigos criticavam, não achavam que eu teria sucesso, mas hoje admiram a conquista. Não se importem com isso, pois sempre há a turma “do contra”.
Comparando com o vestibular, o concurso foi um projeto de vida muito mais complicado, certamente!!!
DL – Quais foram os motivos determinantes para decidir por este concurso: status social, dinheiro ou realização pessoal de exercer esta profissão?
Em primeiro lugar, definitivamente, afinidade com o trabalho desenvolvido no cargo. Em segundo lugar, o dinheiro. Em terceiro lugar e quase empatado com o segundo, qualidade de vida e os benefícios oferecidos pelo TCU, principalmente banco de horas e recesso.
DL – Vocês passaram por momentos de estresse no decorrer da preparação, e outros infortúnios como: insônia, estafa, cansaço, etc?
De insônia não sofri, mas de cansaço mental sim. É inevitável. A solução é dedicar algumas horas na semana para o lazer e descontração, e não exagerar na dose!
[comento: preservar a sanidade mental, no sentido de capacidade, é tão ou mais importante do que a aprendizagem em si. Uma mente cansada não consegue mais assimilar, tal qual um músculo “estressado”, que não suporta mais, literalmente, qualquer esforço]
DL – O período do “edital na praça” foi um período de muita tensão e estresse? Como você lidou com isso?
Totalmente. Nesse período eu era dedicação total ao concurso. Muitas vezes nem atendia ao telefone, ao menos que fosse essencial. Cada minuto era precioso para “varrer” a matéria em revisão. O estresse era constante, mas eu tentava controlar. Nesse período cortei ainda mais meu tempo de lazer e abdiquei de atividades físicas. A dedicação era 100%. Por outro lado, deixei de estudar faltando três dias para o concurso, de modo a refrescar a mente. Aconselho isso a todos, por mais que seja difícil cumprir à risca (sempre bate uma tentação de ler uma lei ou revisar um exercício). O importante, porém, é não chegar na hora da prova com a mente cansada!
DL – Que conselho deixa aos nossos leitores concurseiros, tantos iniciantes como experientes?
Aconselhar os concurseiros seria uma tarefa quase infindável, dada a complexidade que é assumir um concurso como projeto de vida. Porém, em síntese, eu diria aos concurseiros que tenham paciência, em primeiro lugar. Depois, muita serenidade, calma e perseverança. Nessa jornada ocorrem muitos erros e frustrações e poucos acertos (no final, geralmente). Busquem consenso familiar para terem um ambiente favorável. E se dediquem de corpo e alma. Abdiquem do tempo de lazer e empreguem todas as energias no estudo com qualidade, mais que quantidade.
DL – Suas palavras finais e agradecimentos.
Wally, muito obrigado pela oportunidade de falar novamente depois de alguns anos de aprovado, desculpe a demora em respondê-lo e parabéns pelo trabalho de motivação que você vem fazendo junto aos concurseiros! Um abraço e boa sorte a todos!
Tony, o prazer foi meu, e diria que duplo, já que nos conhecemos na CGU e pude acompanhar, ainda que minimamente, sua vitoriosa trajetória de sucesso. Certamente você é um exemplo de superação, sucesso e dedicação para muitos concurseiros deste país. Só tem uma coisa que não gostei nesse seu depoimento: não veio autografado… risos
Escolhas: delicadas decisões Meu filho, se me ouvires e se obedeceres às minhas palavras, receberás…
imagem do vídeo linkado no final do post Adaptação e tradução parcial: Wallace Sousa, blog…
Leia a parte I clicando aqui II COMO SER UM LÍDER SERVIDOR 2.1 Ter paixão…
FUNDAMENTO: Pois bem, se eu, sendo Senhor e Mestre de vocês, lavei-lhes os pés, vocês…
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FUNDAMENTO: Eu vou pelo caminho de todos os mortais. Coragem, pois, e sê homem! 1…
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Wally, a Paz!
Estou inserindo-me nesta seara de concursos, mas pelo visto vou ter que transpirar muito mais.
Já passei em alguns concursos, mas sempre com uma classificação ruim (nota máxima acho que foi 7,00), posição 219.
Gostei muito da entrevista, foi um excelente bate-papo.
Vou entrar no fórum.
Grande abraço
apz, amado.
fico feliz q a entrevista lhe foi útil.
continue perseverando, ok? aqui no blog tem muitas msg motivacionais para concurseiros.
gde abço.
Olá andimarj, durante a maior parte do tempo eu não trabalhava, havia largado o emprego para me dedicar integralmente ao estudo. Não era concursado. Mais para perto da aprovação, eu trabalhei e estudei.
Bom Wally!
Faltou só uma pergunta: Ele trabalhava ou não trabalhava? Saiu do emprego? Já era concursado? Qual foi a trajetória....? :) (Err... quer dizer, mais de uma... :))
Olá Wallysou!
Parabéns pela iniciativa de entrevistar os colegas aprovados! Gostei da abordagem dada a ela, simples e objetiva. O TonySJR foi o primeiro de muitos exemplos que estão por vir e foi um belo início.
Acho a atitude de entrevistar os aprovados é louvável. Além disso, isto incentiva a todos pela conquista a uma sonhada vaga e reforça a máxima de que o concurso é mérito de quem estudou e muito e não um golpe de sorte.
Um grande abraço e sucesso!
Nebulosa Helix
Parabéns pela iniciativa, professor.
Excelente entrevista.
Admiro muito os concurseiros. Você é um exemplo que respeito muito. Gostei imensamente da entrevista e parabenizo seu amigo pelo sucesso.