Vivemos dias difíceis no nosso país e no mundo, dias de mudanças, momentos em que vemos a alternância de poderes, partidos e governos, medidas políticas e econômicas vêm e vão muitas vezes estabelecendo uma instabilidade, quando não, um caos na sociedade. As surpresas e decepções com aqueles que deveriam ser os arautos do povo nos deixam cada vez mais perplexos e atônitos. Afinal, para onde devemos caminhar, em quem confiar, como viver numa sociedade representativa se não acreditamos mais nos nossos representantes?
Ao longo da história da humanidade vemos um movimento cíclico onde nações são fortalecidas e depois derrotadas, onde regimes são implantados e vistos como soluções para todos os problemas, mas logo sucumbem; onde impérios surgem e desaparecem em poucos decênios, onde organizações nascem e morrem em curto espaço de tempo. Enfim, ascensão e queda são as duas faces da mesma moeda.
Essa dicotomia parece acompanhar o homem e suas instituições desde o início de tudo e deve servir como um alerta para todos nós, pois tanto o mundo externo como nosso interior serão sempre escravos e dependentes de circunstâncias e variáveis diversas. Nosso coração, já dizia o velho profeta, ”é enganoso”, o que é corroborado pelo grande apóstolo Paulo quando se dirigia aos habitantes de Roma nos longínquos anos do primeiro século: “o mal que não quero fazer, faço; enquanto o bem, não consigo por em prática” (Rm 7.7).
No Brasil, nos últimos dias, temos acompanhado a derrocada de pessoas e partidos que outrora se achavam imunes, acima da lei, mas que a agora estão vivenciando a máxima popular que diz: ”quanto maior a altura, maior a queda”. Acostumados e fascinados pelo poder, não acreditavam que uma ascensão construída na mentira e na injustiça seria o adubo para uma queda certa e rápida. Mais uma vez cito aqui o Velho Testamento quando diz: “a soberba precede à ruína; o orgulho, à queda” (Pv 16.18).
Como uma caixa de Pandora que se abre diante do grande público, todas as mazelas, crimes, negociatas e acordos espúrios denunciaram aqueles que se diziam baluartes do bem comum, mas que na verdade faziam e fazem da “Res-publica” (coisa do povo) seu próprio patrimônio. Pareciam não acreditar, mas era chegado o fim da estrada.
A “Justitia”, deusa grega da Justiça, embora com seus olhos vendados para demonstrar sua imparcialidade, não se furtou a enxergar e a julgar os abutres que se aproveitavam dos restos de uma pobre e jovem nação despedaçada, mãe de milhões de homens e mulheres honestos que buscam, a cada dia, com suor e lágrimas, um lugar ao sol, um povo heroico de brado retumbante. Porém, a Queda veio, dando-nos assim, paradoxalmente, uma oportunidade de recomeço, uma chance de renascimento, uma luz a surgir no fim do túnel.
Nos livros de História vemos muitos dos Impérios que, após um período de domínio e grande poder, quase sempre às custas da opressão de outros povos, caíram diante de inimigos mais fortes ou mais eficientes. Nabucodonosor, Ciro, Alexandre, Carlos Magno, os Césares romanos, os Faraós egípcios, para falar da Antiguidade, ou ainda, Luís XIV, Napoleão, Hitler, estes mais recentes, porém, não menos cruéis, são alguns dos que foram responsáveis por grandes ascensões, mas também por grandes quedas.
Muitos colocaram sua fé e suas esperanças nas mãos destes déspotas. Esses homens, ícones do orgulho e da presunção, achavam-se imortais, deuses ou representantes destes, mas partiram, como diz o poeta, “como um cristal bonito que se quebra quando cai”.
Em Gênesis, capítulo 3, temos notícia de uma grande Queda, aquela que seria o motivo de todas as outras quedas que viriam. Uma queda fruto do distanciamento de Deus, da autojustificação, do homocentrismo, do autoconhecimento. A humanidade caiu porque disse não ao Deus-Criador. E continua negando-O. Mesmo assim, o Deus que conhece e ama o ser humano, providenciou uma Ascensão, a ascensão de Jesus, quando depois de derramar seu sangue carmesim numa cruz maldita lá no Gólgota, vence aquela que seria a maior e última inimiga, a morte, abrindo-nos o caminho de volta a Deus.
Diferentemente da deusa grega acima citada que deixava escapar de sua caixa todos os males do mundo, menos a “esperança”, vista como um mal da humanidade, pois traria uma ideia superficial acerca do futuro, Cristo, é a grande esperança para uma humanidade míope e destituída da presença de Deus, ou como diz Paulo, de novo aos romanos, “Ele, Cristo, é nossa preciosa esperança” (Rm 12.9).
Qualquer um de nós pode cair, mesmo estando em grandes alturas. Mas em Cristo qualquer um pode ser exaltado, por pior que seja a queda. Nele, iniciamos uma nova história, Nele, que é a expressão exata do ser de Deus, vivemos, nos movemos e existimos (At 17.28).
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