Em caso de arrebatamento… outra visão p.2

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Este post é sequência da parte 1. Havia programado para publicar tudo de uma vez, mas ficou muito grande, porque citei todo o texto original, então resolvi, como diria um açougueiro, ir “por partes”.

Arrebatamento: obra de ficção ou opção teológica?

O texto citado em azul é do Hermes.

Mas o que mais me incomodou com esta doutrina não é sua origem, mas os seus efeitos colaterais. Até o seu surgimento, os cristãos estavam engajados na transformação do mundo. Grandes nomes da ciência eram cristãos devotos. Universidades como Havard, Princeton, Oxford, foram fundadas sob a égide dos ideais do Reino de Deus. O surgimento do Dispensacionalismo alimentou o processo de secularismo, fazendo com que os cristãos recuassem, e cedessem espaço aos céticos.

Ótimo, o Hermes, apesar de atacar a origem, foca sua argumentação nos efeitos ou, melhor dizendo, nos frutos.

Também não me sinto apto para refutar esse ponto, embora, paradoxalmente, hoje, observe que os herdeiros da visão reformada (talvez tradicional ou conservadora fosse a palavra mais adequada), até pouco tempo atrás – uns 15 anos -, pelo menos no Brasil, haviam perdido o ímpeto de tentar mudar o mundo, enquanto eram os pentecostais dispensacionalistas que embrenhavam-se nos sertões e grotas atrás de almas, numa tentativa apaixonada de mudança de ares espirituais.

Naquela época, ser pentecostal era quase sinônimo de dispensacionalista, e vice-versa. Hoje em dia, isso não chega a ser mais verdade, pois há muitas igrejas batistas e presbiterianas (teoricamente de orientação reformada) pentecostais, as cognominadas “renovadas”. E conheço irmãos pentecostais que abraçaram a teologia reformada.

Todavia, em parte, o Hermes tem muita razão: em muitos círculos pentecostais, principalmente nos interiores, vigora a máxima de que “estudar para quê, se Jesus está voltando?”, e que “estudo atrapalha a espiritualidade” ou bobagens semelhantes. É lógico que, por trás de muitas dessas afirmações, há pessoas que as repetem de boa-fé, sem má intenção, mas que não as tornam legítimas por isso, nem bíblicas. Eu já escrevi um texto repudiando isso, tanto a ojeriza ao estudo como a pregação alarmista que “Cristo pode voltar hoje e você não vai subir”.

Não posso afirmar com certeza, mas nos EEUU, onde o Hermes atualmente vive, as maiores vítimas do secularismo são as igrejas tradicionais, e não as pentecostais, pelo menos é o que me chega pelas notícias veiculadas, e a igreja presbiteriana norte-americana nem deveria se auto-intitular assim, que é um desrespeito à herança reformada, aos mártires e pioneiros presbiterianos.

A maior chaga das igrejas pentecostais americanas ainda é a famigerada teologia da prosperidade, que começa, no Brasil, a extrapolar as fronteiras neopentecostais e deixar as marcas de seus dedos sebentos e garras sujas nos púlpitos dos maiores representantes do pentecostalismo tupiniquim. Prova disso foi a recente baixa no alto escalão da CGADB, do bem conhecido pastor e pregador Silas Malafaia, bastante repercutida na blogosfera cristã.

É possível que o surgimento do dispensacionalismo tenha apressado o secularismo, mas jogar essa culpa somente nos ombros dispensacionalistas não é correto, pelo menos por 2 motivos principais:

  1. se o foco da heresia era o dispensacionalismo, onde estava a força dos não-dispensacionalistas (como deveria chamá-los?), para deixarem essa “heresia” assumir tão grandes proporções, se esses sabiam tão bem dos erros daqueles?
  2. parece que havia um certo fastio teológico que fazia o dispensacionalismo assumir feições mais atraentes e, se ele não era, de fato, atraente, o defeito deveria estar ou na forma ou nos formadores de opinião teológica, que não explanavam bem o que criam, ou não viviam o que criam, ou uma combinação de ambas.

O crescente interesse pelo dispensacionalismo não pode ser explicado somente por sua suposta atração novidaresca, divorciado de um possível esgotamento do modelo tradicional. Assim, vejo que há uma “sinuca de bico”, onde ou o dispensacionalismo atrai por seus méritos ou a visão tradicional se esvai por seus próprios deméritos.

Todavia, preciso ser sincero e confessar que o esgotamento de um modelo não significa, necessariamente, seu fracasso, mas pode sim ser resultado do fracasso de quem o adota. Vi-me diante desse dilema certo dia, refletindo que, após me converter, “desperdicei” mais de 10 anos de minha vida buscando “as coisas de cima” e deixando as “coisas terrenas” em segundo plano. Mas, Deus, que não se deixa escarnecer, abriu meu entendimento de que não havia sido o evangelho que tinha “me estragado”, mas eu que havia “estragado” o evangelho em mim, acomodando-me.

Hoje, após uma guinada radical (guinada radical foi ótima), vi que, em apenas 2 anos, buscando recuperar o tempo perdido, com a bênção do Senhor, conquistei muito mais do que pedia ou pensava. Se o dispensacionalismo é uma crença errônea, o desafio de demonstrar isso não é meu, que creio nele, embora o possa fazer, mas essa missão pertence a quem detém a visão correta, e o fracasso disso não me será imputado, mas a quem deveria agir de acordo e deixou o arado, enterrando seus talentos.

Antes fosse o carro ou o avião que ficasse desgovernado em caso de arrebatamento. Em vez disso, o que ficou desgovernado foi o Mundo. A Igreja deixou de ser o sal da terra, a luz do mundo, para tornar-se numa sub-cultura, num gueto religioso. O que muitos cristãos contemporâneos parecem ignorar é que cada passo que a igreja dá pra trás, é espaço que ela cede a Satanás. Não seria esta uma maneira de “dar lugar ao diabo” (Ef.4:27)?

Se antes a Ciência era praticada por cristãos convictos, hoje está nas mãos dos ateus. Pra quê fazer ciência, se o mundo está prestes a acabar? Por que nos envolver com questãos como preservação ambiental, justiça social, ética, se as coisas têm mesmo que piorar para apressar a volta iminente de Jesus? De onde tiraram esta conclusão, se “a vereda dos justos é como a luz da aurora que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito”(Pv.4:18)?

Outro argumento que mais atrapalha do que ajuda… e quem foi, pelamordedeus, que largou a direção do mundo nas mãos desses loucos? Se um adolescente irresponsável bate o carro ou atropela alguém, não importa muito se ele pegou a chave escondido, mas o problema do pai aumenta muito se foi ele quem deu a chave pro guri sair dando cavalo-de-pau nas avenidas da cidade.

Pela argumentação do Hermes, parece que nem existia igreja que não fosse dispensacionalista, e todo mundo estava de braços dados, cantando “we are the world” dispensacionalistas… e onde estavam os crentes não-dispensacionais? nos bancos, aplaudindo os sensacionais dispensacionais?

Ah, me poupe… se um ladrão rouba minha casa, mas fui eu quem deixei a porta aberta, ele tem culpa porque é ladrão, mas eu tenho é burrice e me faltam só as penas para ser um asno.

Dizer que o mundo ficou desgovernado porque surgiu o dispensacionalismo é muito, mas muuuuuuuuuito simplista. É querer, também, não assumir sua culpa na responsabilidade do desvio. Não estou querendo dizer que o dispensacionalismo não tenha, de fato, essa preocupação social amortecida em comparação à visão reformada, porque tem sim, e sou um crítico disso. Mas, também não vou ficar assumindo o papel de “cristo” e levando as culpas dos outros.

continua na parte 3…

 

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Wallace

Just another little servant of the Lord Jesus Christ. Apenas mais um pequeno servo do Senhor Jesus Cristo. Editor do blog Desafiando Limites (https://wallysou.com). Crítico do cristianismo evangélico da prosperidade e pensador cristão amador.

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Blog Comments

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Wally, meu irmaõ!

Niguem está caçando ninguem, risos. Até porque há dispensacionalistas entre os colaboradores do blog e entre muitos amados amigos, os quais já postaram suas visoes aqui; A sua mesma seria bem vinda.

Apenas nos achamos no direito de postar outras visoes tambem… Voce deixa?

Há uma certa critica a escatologia aterrorizante dos caçadores de conspirações, etc. Mas não é o seu caso e nem da esmagadora maioria. Veja que o Pr Ciro Zibordi que é dispensacionalista publica uma serie tambem nesta linha…

Não a caça ou guerra, apenas debate e a lembrança que o dispensacionalismo é a mais nova das doutrinas. Lembre disto!

Abraço!

eae, Danilão! Blz?

não… eu quis fazer piada com a coisa, pq teve o post do Hermes, batendo duro, e depois vem a Bráulia descendo o malho… dae virou piada pronta! =o)

cara, nem precisava se dar ao trabalho de vir comentar aqui… rs, mas já q veio, é uma honra recebê-lo em meu humilde blog.

gde abço, e vamos caminhando juntos até chegar o grande Dia, seja ele para irmos ao encontro do Senhor nos ares, seja Ele vindo ao nosso encontro em uma esquina da vida, seja ao findar o labor desta vida.

[ ]s, apz.

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