Recentemente, fiz um curso a distância que envolvia o tema “Ética no Serviço Público”. Foi um curso interessante e proveitoso. Aprendi, claro, novas coisas e sedimentei conceitos que já conhecia superficialmente.
Todavia, no fim do curso, foi-me exigida uma pequena redação sobre um tema a escolher no manual de ética, e esta foi minha redação. Não ligue, ela é simples, mas a reflexão é complexa.
Art, 3º, XV – contribuir para o aprimoramento das atividades da CGU
Desde que entrei na CGU, em 2008, tenho procurado me atentar para esse aspecto de meu trabalho, buscando realizá-lo de modo que isso me trouxesse certa segurança de que eu estaria fazendo jus ao salário (subsídio) que recebo, fruto de meses incontáveis de estudos, esforços e renúncias pessoais e familiares.
Além disso, sei que percebo, mensalmente, um valor que alguns trabalhadores não chegam a receber em todo o ano, e isso, às vezes, me incomoda. Lembro-me que, em férias, visitando meus familiares no Nordeste, uma cena causou-me um impacto profundo: meu tio trabalha com uma pequena reciclagem de lixo, e eu estava junto dele quando chegou um catador de lixo, para vender à reciclagem.
Ele chegou sujo e malcheiroso, como seria de se esperar de quem trabalha naquele tipo de atividade. Após apresentar o resultado de seu dia de trabalho, pois já era fim do dia, ele recebeu menos de R$ 10,00. Aquilo me fez ver que o trabalho de um homem, seja ele em que atividade for, deve ser valorizado. E vi-me a perguntar: eu ganho, em 2 dias, o que ele demore, talvez, um mês para ganhar, fazendo um trabalho que eu não seria capaz de fazer. O que meu trabalho tem contribuído para o órgão onde trabalho, para o meu país e para a sociedade que paga meu salário?
Não tem sido fácil responder essa pergunta, e considero que as respostas que consegui elaborar, até agora, não são satisfatórias, mas sigo tentando fazer algo de útil no ambiente em que estou inserido, para fazer valer cada centavo que me é dado a cada início de mês.
Quando me recordo daquelas mãos ensebadas, suadas e cansadas recebendo um valor irrisório, lembro-me que quase chorei ao presenciar a cena, pelo sentimento de impotência que me angustiou por vê-la e não poder mudar aquela situação.
Trabalhar para contribuir para o aprimoramento do local onde trabalho deixou de ser um hobbye e se tornou uma obrigação, mesmo que, francamente falando, eu não esteja nem próximo de fazer algo que me deixe tranquilo quanto a alcançar esse resultado.
Penso que, enquanto eu viver e estiver de posse de minhas faculdades mentais, a lembrança daquelas mãos calejadas e humildes, que se submeteram a receber tão pouco por fazer tanto, lembrança essa que mareja meus olhos e me causa um aperto no peito e um nó na garganta, essa lembrança deve surtir em mim um sentimento muito mais profundo do que qualquer curso ou diploma que eu venha a receber, agora ou no futuro.
É esse o desafio a que me vejo exposto, e sinto-me pequeno demais diante de sua grandiosidade, e ser ético no meu trabalho é muito pouco do que me pode ser exigido, independentemente de conceitos deontológicos, utilitaristas ou de qualquer filosofia barata de fundo de quintal. Ser ético, para mim, tornou-se uma exigência a me lembrar, a cada dia, que sou um ser humano, e não perdi a sensibilidade nem me deixei corromper pelas seduções de uma vida sem freios ou limites.
Ser ético, para mim, é ser humano.
Postando no blog Desafiando Limites coisas que me deram trabalho, mas me ajudaram a ser menos trabalhoso aos outros.
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Blog Comments
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1 de outubro de 2010 at 21:23
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