A imagem da dor e da decepção (Google images)
9 lições que as derrotas da seleção brasileira têm a ensinar ao povo brasileiro
Por Wallace Sousa, do blog Desafiando Limites (*)
Para começo de conversa, vou colocar logo os pontos nos i’s para demonstrar que, apesar de ser um completo leigo em termos futebolísticos dentro das quatro linhas, sou bem ousado e abusado atrás de um mouse e teclado (risos).
Para defender minha tese, trago como prova o fato de já ter escrito alguns artigos que versam sobre o tema, observe:
Em dezembro de 2012, eu falei sobre o que as recentes conquistas do Corinthians poderiam nos ensinar, onde fiz uma reflexão sobre os altos e baixos daquele time que, um dia, já ocupou espaço em meu peito infantil. Em outubro de 2013 eu abri ao mundo que estava torcendo CONTRA a seleção brasileira, e que perdesse bem perdido! Fui taxado por alguns de louco, de antipatriota, de vira-casaca e outros mimos, mas também recebi apoio de quem não suspeitava. Depois disso, vi várias pessoas seguirem minha linha de raciocínio e pipocarem artigos na internet apontando na mesma direção.
Depois disso, republiquei um texto de 2010, escrito em 2002, sobre como seria um campeonato de futebol onde a igreja estivesse jogando. Esse artigo até chegou a ser reproduzido por alguns sem os devidos créditos, infelizmente. =(
Quando o Brasil foi eliminado na Copa de 2010, graças àquela lambança do Felipitbull Melo, eu também dei meus pitacos. Enfim, posso afirmar que me sinto bem à vontade para falar sobre derrotas, afinal de derrotas eu entendo (risos).
Antes de iniciar o artigo com as lições propriamente ditas, ainda quero destacar algumas coisas, tais como: o fato de NÃO estar torcendo pela seleção brasileira me proporcionou fazer uma análise fria e destituída de paixões irracionais e que poderiam, quem sabe, cegar minha percepção do que estava acontecendo.
Por isso, posso dizer que desfrutei de melhores condições de identificar alguns defeitos que já prenunciavam a tragédia que ficou talhada como Minerazo pela imprensa especializada. Pude perceber que o desempenho da seleção não estava à altura de um potencial campeão, embora muitos me ridicularizassem por isso.
Também ficou evidente, pelo menos para mim, ainda mais após a quase eliminação para o Chile, que o equilíbrio emocional dos jogadores estava adernando e fazendo água (coisa que saltava à vista, se é que me entendem) justamente nos momentos em que eles mais precisavam disso. A comparação fria com outras seleções mostrava claramente que algumas delas estavam um degrau acima da brasileira, de forma mais evidente Alemanha, França e Holanda.
E coroando a cereja do bolo, outra coisa que estava mais que evidente: a marcante ausência de um líder dentro de campo, daqueles capazes de dar a serenidade necessária ao grupo para correr atrás do prejuízo, liderando-os numa possível reviravolta. Em suma, para mim, aquela derrota já estava desenhada, embora eu não fizesse ideia da dimensão e dos contornos que ela iria tomar.
Como você pode perceber, se com a bola nos pés sou um completo perna-de-pau, o mesmo não se pode dizer com a caneta nas mãos, ou com o mouse e teclado, se é que você me entende (risos). E com isso não quero dizer que escrevo bem, não senhor. Minha amiga Wilma já me definiu: eu escrevo MUITO, para o bem e para o mal. E como se isso tudo fosse pouco, ainda sou provocador e atrevido, quase tanto quanto um argentino (risos).
Dito isso, vamos às lições.
1.ª Lição: Humildade
Uma das coisas que o cidadão brasileiro precisa aprender, e essa derrota na Copa contribuiu de forma absurda pra isso, é a ser humilde. São dois defeitos grandes do brasileiro, não sabe ser humilde e tem complexo de vira-latas (ou vitimismo). Mas, dirá você, como se identifica isso?
O primeiro é que não sabe perder, como vi em um meme no Facebook:
“Pelo menos o Brasil não perdeu duas guerras mundiais“.
Ora, são coisas completamente diferentes, sem qualquer conexão e, diga-se de passagem, ainda bem que a Alemanha perdeu as duas Grandes Guerras, senão o mundo hoje seria um lugar bem pior. Até mesmo a população alemã se ressente daquilo que aconteceu, com autoridades do governo alemão publicamente pedido perdão pelos crimes de guerra do Nazismo.
E o complexo de vira-latas é justamente não saber reconhecer que a seleção da Alemanha foi melhor, dar a desculpa que a seleção brasileira sofreu um apagão momentâneo e não que ela está vivendo de ilusão e das glórias passadas. O futebol brasileiro de hoje é um futebol quase do século passado, estagnado, sem inovação e confiado na sorte e no acaso. E quem melhor definiu isso, talvez por falta de brasileiros que enxergassem além do próprio umbigo, foi um estrangeiro, alemão por sinal.
Assista e veja por si:
É possível que tenham escolhido o Felipão pelo que ele fez em 2002. E, ao que parece, ele continuou fazendo a mesma coisa. Mas, o mundo mudou muito desde aquela época. Para citar só um exemplo, Ronaldo, um dos craques de 2002, ainda tinha seu peso medido em quilogramas, em vez de arrobas, como é hoje (risos). Outro detalhe: aquilo que funcionou em 2002 não necessariamente funcionaria da mesma maneira em 2014, como alguns se deixaram iludir e aprenderam da pior forma.
Já tinha gente contando que o Hexa estava no papo, mas o que ninguém estava esperando era aquela violenta lapada no lombo. Quem sabe depois desse VHEXAME (vexame com gosto de hexa… risos), saia alguma coisa boa, como por exemplo limpar aquele aterro sanitário chamado CBF?
Afinal, levar 10 (dez) gols nas etapas finais de uma Copa do Mundo na própria casa não é pra qualquer um, certo?
2.ª Lição: Choque de realidade
Como diz o famoso ditado:
“até eu arrumo meu quarto quando tem visita“
Para muitos, o Brasil teria se transformado em um lugar lindo e maravilhoso por conta da Copa, com várias obras cosméticas que foram feitas para inglês (e alemão, americano, italiano, russo, espanhol, até argentino, veja só você) ver. Muita coisa foi feita às pressas, entregue pela metade e inaugurada sem estar pronta, no maior estilo “me engana que eu gosto” e “me bate que eu não ligo”.
Com a seleção brasileira avançando nas oitavas – quase perdendo pro Chile, é verdade – e nas quartas, veio aquela sensação de que as obras superfaturadas, os desvios multimilionários e um único estádio – Mané Garrincha, de Brasília – custando quase 2 BILHÕES de reais estavam justificados. Mas, com a derrota acachapante contra a seleção alemã, tudo veio à tona, e mesmo aqueles que não queriam enxergar a realidade foram obrigados a bater com a cara na parede depois dos atropelos das seleções alemã e holandesa.
No dia do jogo do Brasil x Alemanha, eu almocei fora com minha esposa e assisti no jornal esportivo a sebosa rasgação de seda mencionando que, no retrospecto de confrontos entre as duas seleções, o Brasil só ter levado a melhor, de como o Brasil nunca havia perdido antes pros alemães em copas e por aí vai.
Depois da lavada do time de Fritz & Cia no time do Hulk amarelão, e que os analistas de futebol não sabiam explicar o que tinha acontecido, eu, em toda minha leigice (sabia de nada, inocente…), já sabia: eles estavam dirigindo olhando pelo espelho retrovisor. Como não iriam se chocar contra o duro muro da implacável realidade?
Ora, enfrentar a realidade sempre faz bem, mesmo quando nos vemos obrigados a isso, como ficou bem claro no vídeo de Paul Breitner, onde ele desnudou os segredos para que a Alemanha voltasse a se tornar relevante no futebol. E aproveito para lembrar que o futebol alemão já dava sinais de que estava com a bala na agulha pronta quando, desde o ano passado, já aplicava surras homéricas como fez na goleada de 7 x 0 no Barcelona, até então considerado o melhor time do mundo, no placar agregado (soma dos dois jogos).
Que esse choque de realidade possa servir para que o povo brasileiro acorde e jogue pra valer o jogo mais importante de 2014, que é o das eleições majoritárias (presidente, senadores, deputados e governadores). Esse sim é que vai definir nosso futuro aqui e fazê-lo melhor quando, daqui a quatro anos, a Copa for jogada lá na Rússia.
3.ª Lição: Tragédias anunciadas
Essa Copa de 2014 vai ficar marcada por alguns fatos surpreendentes, entre eles:
a. grandes jogos, verdadeiros espetáculos jogados dentro das quatro linhas, tais como os embates entre Holanda x Espanha, França x Suíça, Argentina x Nigéria, Alemanha x Argélia e Bélgica x EUA, para ficar em poucos exemplos;
b. a Copa dos resultados inesperados, como a goleada da Holanda sobre a campeã Espanha, eliminada na primeira fase, além das também campeãs Itália e Inglaterra eliminadas precocemente, enquanto a inopinada Costa Rica passava adiante em primeiro lugar no Grupo e, é claro, a goleada de 7 x 1 da Alemanha em cima do Brasil;
c. essa Copa de 2014 pode ser considerada por dois aspectos antagônicos e igualmente fantásticos, quais sejam, a Copa dos gols e dos goleiros. A média de gols dessa Copa surpreendeu, figurando entre as de maior média de gols marcados em todas as Copas, igualando o recorde da Copa da França, com 171 tentos.
Paradoxalmente, também foi a Copa dos goleiros, destacando os outrora desconhecidos Ochoa (MEX), Howard (EUA) e Navas (COR). Se não fosse por eles, vários gols seriam acrescentados a essa já exorbitante conta;
Entretanto, os fatos relevantes mais noticiados – pelo menos pela imprensa do Brasil -, foram a lesão do Neymar no jogo contra a Colômbia e a histórica goleada que o Brasil sofreu da Alemanha. Porém, pouco se falou de uma tragédia muito maior, ocorrida no mesmo dia em que Neymar sofreu a lesão que o tirou da Copa, um viaduto em obras desabou em Belo Horizonte, esmagando carros e pessoas debaixo dele.
Mas, se por acaso você estivesse passeando em Marte e tivesse acabado de chegar de viagem, pensaria que a lesão de Neymar era pior do que o viaduto que despencou… Pode isso, Arnaldo?
Todavia, como vale o ditado “dos males o menor”, tragédia mesmo teria sido se o dito viaduto tivesse caído na terça-feira, quando o Brasil, na mesma Belo Horizonte, como bom anfitrião que se preze, gentilmente cedeu a meta canarinho para que o alemães depositassem, com gosto e afinco, suas pelotas dentro dela, fazendo história a caminho de seu sonhado tetra.
Por que maior tragédia? Já explico: o viaduto fazia parte do pacote de mobilidade a tempo de desafogar o trânsito para a Copa (oi?) e a passagem abaixo dele havia sido liberada, visto que era uma via de acesso importante e poderia servir de rota alternativa ao estádio Mineirão. Estádio esse palco do fatídico massacre, onde a seleção canarinho foi espancada a golpes de chucrute, em número de sete, para ser preciso.
Então, graças a Deus que ele veio a cair na sexta, e não na terça, por onde estariam passando, quem sabe, milhares e milhares de pessoas, de carro, de ônibus, pedestres, etc. A tragédia assumiria proporções muito maiores, com consequências desastrosas e inimagináveis.
Por isso, felizmente, morreram “apenas” algumas pessoas, e isso porque o trânsito estava intenso e um ônibus articulado por pouco não foi atingido, escapando por questão de segundos. E quer saber da pior: essa era uma tragédia anunciada, pois o Ministério Público e e o Tribunal de Contas do Estado estavam de marcação cerrada nessas obras.
A corrupção sempre foi e continua sendo nosso maior desastre nacional, onde a incompetência, favorecimentos e apadrinhamentos políticos se confundem com gestão pública. Uma coisa que os brasileiros ainda não se deram conta, é que a corrupção mata, mata impiedosamente, mata dezenas e centenas por vez, destrói lares, famílias e até cidades inteiras!
Essa lição o Brasil vem, infelizmente, repetindo ano após ano, sem nada aprender. Até quando, só Deus sabe.
4.ª Lição: Sair do berço esplêndido
Quando irromperam os protestos de junho do ano passado, e a população tomou as ruas de várias capitais e importantes cidades brasileiras, muitos – eu incluso – pensaram que o “gigante tinha acordado”. Mas, como bem disse um folclórico colega de trabalho (oi, Lud, tudo bem com você?), o gigante acordou sim, mas foi ao banheiro, fez xixi e logo voltou a dormir.
O Brasil precisa aprender com todo esse circo da Copa que essa política do Panem et circenses (pão e circo, em latim) não nos ajuda em nada, além de nos fazer de palhaços num picadeiro falido onde o final do espetáculo é bem conhecido: nós morremos no fim. A manipulação da realidade é vergonhosa por parte dos grandes veículos de comunicação, existe uma maquiagem descarada por políticos caras-de-pau e uma cumplicidade vergonhosa por parte da população.
A sociedade brasileira precisa acordar sim, mas não apenas isso. Ela precisa acordar e ficar vigilante. Acordar apenas para tomar um copo de leite morno de madrugada e voltar a dormir enquanto o bandido “limpa” a casa? Melhor ficar dormindo mesmo, assistindo as novelas da Globo e ouvindo as narrações do Galvão Bueno, afinal tem castigo pior do que esse? Se tem, por favor me poupe dele.
E, confesso, a frase ficou batida, mas vou repetir até sair de moda ou até deixar de ser verdade:
“enquanto te roubam, você grita gol”
Acorda, Brasil, oxente!
5.ª Lição: Valores invertidos
A bem da verdade, acredito que ninguém imaginava que a Copa traria tanta frustração e decepção como nos trouxe, lá no longínquo 2007, quando o então presidente Lula anunciou que o Brasil sediaria outra Copa do Mundo pela FIFA.
Muitos que me criticavam por eu me manifestar contrário ao que estava acontecendo e tentavam me calar com o seguinte argumento:
“mas quando foi anunciado que a Copa seria no Brasil você não disse nada, né. Agora fica aí pagando de bonito, todo certinho! Por que não protestou naquela época?”
Bem, esse argumento tem até algum sentido, mas também tem várias falhas, sendo as mais gritantes em minha opinião:
i. naquela época, ninguém imaginava que a Copa traria tantos problemas, apesar de já conhecermos o naipe de nossos políticos. A sanha corrupta extrapolou e quiseram roubar o dinheiro do mundo todo num curto espaço de tempo;
ii. aquilo que nos foi vendido como propaganda, não foi entregue. Logo, é valido protestar por algo que foi prometido e não foi cumprido, certo?
iii. e a famigerada isenção de impostos concedida à FIFA, um escândalo sem nome e sem culpados apontados, visto que a federação disse que não pediu e o governo desconversou, empurrando o assunto com a barriga. De novo pergunto: pode isso, Arnaldo?
A grande lição que fica é que, nesse jogo da Educação x Diversão, os times estão em proporções desiguais, com o time da educação ganhando pouco, sem apoio, sem reconhecimento e valorização e, no fim, o time da Diversão sempre ganha de goleada. Mas, como bem diz a frase atribuída ao célebre escritor, poeta, narrador, ensaísta, jornalista, historiador, biógrafo, teólogo, filósofo, desenhista e conferencista britânico (ufa!), G. K. Chesterton (1874 – 1936):
“Uma nação que não tem nada além de seus divertimentos não se divertirá por muito tempo.”
Quer um exemplo de inversão de valores? O Brasil tem cinco copas do mundo ou, no idioma futebolês, cinco canecos (se bem que a taça Jules Rimet virou sei-lá-o-que, mas divago), sendo o maior vencedor de todas as Copas e tendo participado de todas.
Mas, perguntando só por perguntar: quantos prêmios Nobel nós temos mesmo? Ora, até a Argentina, a Colômbia e a Costa Rica têm prêmios Nobel, e o Brasil não tem… #vergonha-alheia #epic-face-palm
Vejo tanta gente revoltada porque o Brasil é o quarto melhor time do mundial, mas ninguém reclama que somos 85º no IDH e nos testes educacionais o Brasil amarga o rabo da fila, levando uma verdadeira surra no PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos). Se duvida, então confira como nossos estudantes ficam nas últimas posições em testes de raciocínio e alunos brasileiros empacam em leitura e pioram em Ciências!
A diversão nunca deveria preceder ou ter prioridade sobre a educação. Enquanto as coisas continuarem dessa forma, cenas como esta se repetirão por muitos e muitos anos.
A imagem da dor e da decepção2 (Google images)
Não é à toa que o Instituto Nacional de Saúde Infantil e Desenvolvimento Humano dos Estados Unidos assevera:
“The psychological, social, and economic consequences of reading failure are legion. It is for this reason that the National Institute of Child Health and Human Development (NICHD) considers reading failure to reflect not only an educational problem, but a significant public health problem as well.”
(Em tradução livre: As consequências psicológicas, sociais e econômicas da deficiência na leitura são inúmeras. É por essa razão que o Instituto Nacional da Saúde Infantil e Desenvolvimento Humano (NICHD) considera que a deficiência de leitura reflete não apenas um problema educacional, mas também um problema relevante de saúde pública.)
Fonte: Learning to Read: A Call from Research to Action, acesso em 12/07/2014.
Este país só vai mudar para melhor quando os pais passarem a comprar mais livros do que bolas para seus filhos.
6.ª Lição: Sem planejamento não há progresso
Sobre planejamento tenho pouco a falar, tendo em vista que já falei muito sobre o tema quando dei conselhos práticos para quem quer atingir seus alvos. Além disso, descobri que o planejamento era essencial se eu quisesse ser vitorioso nos concorridos certames que participei. Depois que me dei conta disso, é que comecei a granjear as aprovações que me possibilitaram deixar a vida de concurseiro e me efetivar na carreira pública.
É vergonhoso admitir que o Brasil teve 7 (sete) anos para se planejar e programar para fazer uma Copa decente, com qualidade e com tempo para realizar as obras e reformas estruturantes e deixou o planejamento em segundo plano e fez o mínimo aceitável, sendo que algumas obras foram feitas a toque de caixa (ou “nas coxas”, como diriam alguns) e inauguradas de forma temerária.
Em suma, o Brasil, por meio de seu governo federal e vários governos estaduais, deu um verdadeiro show negativo, uma aula de como não se deve fazer um evento sem planejamento adequado. Para corroborar essa afirmação, quero fazer menção de uma frase que traduz com perfeição o fato de que o planejamento é imprescindível ao progresso:
“If you fail to plan, you are planning to fail!” – Benjamin Franklin. (Em tradução livre: “Se você falha em planejar, você está planejando falhar“)
A própria FIFA e seu secretário, sr. Jérôme Valcke, criticaram duramente os constantes e seguidos atrasos das obras da Copa, demonstrando abertamente um descontentamento geral sobre a forma de condução desse assunto pelo governo. Valcke inclusive não se furtou a causar mal-estar com suas críticas e até mesmo Blatter expressou sua preocupação de que o Brasil não conseguisse aprontar tudo para o evento.
A palavra que define isso tudo é: falha – e falta – de planejamento.
Quero também destacar – e recomendar – o artigo do professor Luiz Flávio Gomes, disponível no site JusBrasil (acesso em 13/07/2014), onde seu primeiro parágrafo traduz bem esse contraditório sentimento brasileiro:
“No gramado perdemos para a Alemanha de 7 a 1. O mundo desabou sobre nossa cabeça. Pior é que são raros os momentos em que somos todos brasileiros (rico e pobre, preto e branco, PT e PSDB, católico ou protestante etc.), atacando numa única direção. Fora do gramado, no entanto, em termos de país competitivo e de qualidade de vida, nossa derrota é muito mais vergonhosa. O que me deixa desapontado é que esta segunda não nos causa tanta decepção como a primeira. (ênfase acrescida)
Até quando seremos tão complacentes com a incompetência e corrupção que trava nosso progresso, a despeito da abundância de recursos e talentos que temos?
7.ª Lição: Sem dedicação não espere bons resultados
Durante boa parte de minha vida, eu pensava que alcançar certos objetivos e resultados era por obra da sorte e do acaso. Demorou até que essa fase de imaturidade emocional e profissional fosse superada. Infelizmente, quando se analisa a população brasileira de modo geral, percebe-se que esse enganoso sentimento é generalizado.
Como já obtive várias aprovações em concursos públicos muito concorridos, regadas a muitas horas de estudo e dedicação, era muito comum eu ouvir as mais variadas perguntas. Algumas ganhavam destaque entre as demais, e eu ficava em dúvida se devia ficar irritado, me sentir desprestigiado ou apenas com dó das pessoas mesmo.
As perguntas que despertavam esses instintos mais primitivos em mim eram, invariavelmente:
– “me conta qual foi o segredo de suas aprovações“, como se dedicar horas e horas ao estudo não fosse a verdadeira razão das aprovações;
– “me fala rápido a dica da aprovação, porque eu tô querendo estudar e passar logo“, como se planejar, adquirir material de qualidade, investir tempo, dinheiro e ter paciência para começar a ver os resultados, muitos meses depois, fossem meros detalhes;
– “onde a gente compra o gabarito das provas?”, como se eu tivesse comprado algum gabarito! Arre, essa era uma das piores, ainda bem que foram poucas as vezes que ouvi;
– “como faz pra trabalhar aqui e ganhar o que você ganha?”, como se minha aprovação nem tivesse acontecido e tampouco fosse fruto de esforço, dedicação e muita persistência;
– “você pode fazer a prova por mim?”, essa era mais de pilhéria mesmo, não era séria, mas o pano de fundo é preocupante, ou seja, alguém faz o serviço sujo, mas no fim eu quero os louros pra mim;
Eu nunca conheci um aprovado em concurso público que não atribuísse seu sucesso ao trio parada dura “estudo + esforço + persistência”. E olhe que conheci dezenas e dezenas de aprovados, desde aqueles que ficaram nas primeiras colocações até os que ficaram nas últimas. E o discurso era sempre o mesmo: esforço, dedicação, comprometimento eram as ferramentas que giravam as engrenagens do sucesso, dos esperados e desejados bons resultados.
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Mas, de coração, sabe o que eu queria mesmo que meus compatriotas aprendessem? Eu queria que eles deixassem de lado o jeitinho brasileiro, o jeitinho no mau sentido, aquele que você tem que burlar alguma coisa para se dar bem. Meu sonho é que os brasileiros deixassem o jeitinho de lado e se dedicassem com afinco para que conquistássemos nossos objetivos e, falando sério, ter mais uma estrela na camisa amarela deveria ser o menos importante deles.
A grande lição que fica dessa goleada e do título alemão é que venceu aquele que se mais se dedicou e se preparou. O resultado veio como… consequência. E, por que não assumir: o resultado que a seleção brasileira colheu também foi… consequência. Ambos colheram o que plantaram, uns plantaram bem, e colheram bem, enquanto quem plantou mal, colheu mal.
Ora, ninguém deveria esperar resultados diferentes se ainda continua fazendo as coisas do mesmo jeito, não é verdade?
8.ª Lição: Sem educação não existe prosperidade
A palavra prosperidade, hoje, foi usurpada pelos ‘pregadores da prosperidade’ de quem eu sou crítico feroz. Ouso afirmar que são quase uns vendedores de indulgência modernos, que barateiam o evangelho e transformar Deus em um atendente de balcão que está ali apenas para atender nossos pedidos. E não é de hoje que penso isso.
Pois bem, a teologia da prosperidade, no meio evangélico, equivale a uma “Teologia Pão & Circo” e talvez eu esteja sendo tão abusado nessa afirmação que esteja sendo pioneiro, ficando sujeito a receber todo tipo de pedrada por isso. Mas, como já li certa vez, um profeta também é aquele que tem a ousadia de afirmar o óbvio. Se sou profeta, não sei, mas que vou afirmar o óbvio eu vou:
- A teologia da prosperidade (TP) está para a igreja assim como a política do pão & circo (PPC) está para o governo!
E ambas fazem muito mal, cada uma para quem lhe está sujeito. São gêmeas separadas na infância, mas filhas do mesmo pai: o capeta.
Mas, talvez pergunte você: o que tem a ver teologia da prosperidade e política do pão & circo com a afirmação de que “sem educação não existe prosperidade”? Tudo. Tem tudo a ver.
Da mesma forma que a política do pão & circo é causa e também é retroalimentada pela educação deficiente, insuficiente ou inexistente, a teologia da prosperidade também é causa e consequência de analfabetismo bíblico. Sim, que se mordam de raiva os pregadores da prosperidade, mas o que eles pregam ou é teologia deficiente, insuficiente ou, ainda, distorcida, que é a má teologia.
Outra semelhança entre ambas é que prometem prosperidade apenas para usurpar, explorar e oprimir os mais humildes, incautos e escravizar aqueles a quem dizem libertar. De fato, na PPC vemos estádios propagados como verdadeiros “templos” para que os torcedores possam ir assistir (adorar) seus ídolos. Ora, e o que é que vemos nos expoentes da TP? Querem construir belos e suntuosos templos, onde aqueles que vão lá parecem se comportar como uma fanática torcida aplaudindo seus jogadores preferidos!
Outra semelhança? Eu digo: a área educacional é desprezada: não há ensino de qualidade, não há profissionais de educação valorizados e bem remunerados e os líderes não querem, não apoiam ações educativas e não aceitam ser questionados pelos educadores quando estão errados!
E isso é muito trágico, essa sim é uma verdadeira tragédia, muito maior do que as goleadas de 7 x 1 e 3 x 0 ou que a lesão lombar do Neymar. É por causa desse nosso analfabetismo – muito mais o político do que o teológico – que tragédias como o desabamento de um viaduto em Belo Horizonte recebem menos importância do que o Neymar estirado em campo.
Mas, assim como a falta de educação é tanto causa como combustível para a política do pão & circo e para a teologia da prosperidade, uma educação de qualidade, bem planejada, adequada e voltada a resultados pode reverter a situação.
Se, por um lado, nossa situação educacional está tão ruim a ponto de vermos prosperar (desculpe o trocadilho infame) a política do pão & circo e a teologia da prosperidade, quaisquer avanços educacionais, ainda que tímidos, podem ter um saudável efeito-cascata e, no médio-longo prazo, colhermos alguns efeitos positivos dessas ações.
9.ª Lição: Sem punição não se faz justiça
A corrupção no Brasil virou endêmica, está espalhada pelo Brasil todo, em praticamente todos os níveis. E quando essa questão é analisada a fundo, o que percebemos é que alguns fatores contribuem para isso, sendo o principal deles, ao meu ver, a impunidade.
Ora, o que dizer de políticos condenados, mas que lhes é permitido concorrer nas eleições e, pior, serem eleitos? Acha que não piora? Pois piora: esses mesmos políticos ainda são indicados e, pasme, aceitos em uma das comissões mais importantes do Congresso Federal. Estou falando dos mensaleiros condenados José Genoíno e João Paulo Cunha.
Como se premiam bandidos condenados pelo Supremo Tribunal Federal com cargos que impactam diretamente o futuro da nação? Você entendeu? Pois é, nem eu.
Sabe o viaduto que desabou lá em belo Horizonte, que mencionei várias vezes no texto? Não se identificou nenhum culpado até agora. E arrisco a dizer: nem vai. Talvez achem algum bode expiatório, algum zé ruela qualquer para colocar a culpa e tudo bem, a vida segue.
Não, a vida não segue.
Pessoas morreram e tiveram seus últimos espasmos agonizantes filmados e mostrados para todo o mundo. Pessoas que eram trabalhadores, pagadores de impostos, cidadãos que estavam vivendo honestamente, foram esmagados enquanto se dirigiam para se encontrar com familiares.
Então, eis que de repente cai um viaduto.
Vou repetir: UM VIADUTO CAI NA CABEÇA DELES, e não existe culpado? Então, viadutos caírem é normal? Pessoas serem esmagadas, virarem uma pasta disforme de carne e sangue no asfalto é normal? Obras milionárias, tocadas por empresas que devem satisfação dos serviços que prestam e das obras que edificam, vêm abaixo e não se acha um culpado para isso?
Não, meu caro leitor. Existem culpados sim. Um viaduto não cai por acaso, e não mata inocentes e fica por isso mesmo. Quer dizer, se fosse em um país sério, civilizado, não ficaria. Mas, estamos falando do Brasil, um país onde a corrupção é um câncer e a impunidade é o cordão umbilical que o alimenta.
Qual é a lição que o brasileiro deve aprender? Que enquanto ele tolerar a impunidade, ele está endossando a corrupção. O engraçado, para não dizer trágico, é que vi tanta gente revoltada porque o jogador da Colômbia não havia sido punido. Quisera Deus que a população exigisse punição para os corruptos como exigem para os jogadores de times adversários.
Sonho meu? Não, é pesadelo mesmo, e à plena luz do dia.
Se o Brasil quiser atacar de fato a corrupção, ele precisa para de fugir da questão da impunidade e começar a agir com rigor. É uma pena, mas o texto de Rui Barbosa ainda continua bem atual:
“De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto.”
É muito triste constatar que uma frase que beira um século de idade continua tão atual, tão verdadeira, tão realista… garçom, traz mais uma tragédia pra gente se embriagar.
Se quisermos diminuir a corrupção, o segredo é aumentar a punição. Não as penas, mas os apenados, principalmente os vilões do colarinho branco, porque esses são os piores.
Há esperança para o Brasil? Depende.
No Brasil, quase todo mundo diz entender de futebol. Veja só você, até eu, que não entendo bulhufas, estou aqui pagando de sabe-tudo falando sobre futebol, mas releve isso por enquanto. Depois de cada convocação da seleção brasileira, você vai no restaurante da esquina, estão comentando sobre isso. Vai na farmácia comprar uma aspirina, estão falando sobre quem entrou e quem ficou de fora. Vai no açougue, estão falando sobre quem deveria ter sido chamado, quem foi injustiçado, quem é protegido e tantas outras coisas mais.
Mas, eis que o Felipão, outrora endeusado pela mídia, fracassa fragorosamente e logo em seguida aparecem os motivos das vergonhosas derrotas, com praticamente todo o país pedindo a cabeça do técnico. Esse é outro grave problema do brasileiro: ele acha que precisamos de um “salvador da pátria”, um Sassá Mutema da vida ou um caçador de marajás, que entre em campo, seja no de futebol ou na arena política, e resolva tudo de uma vez, como se fosse um passe de mágica. Mas, o mundo real não funciona assim.
Então, quando o salvador não resolve, ele vira vilão de imediato. O Brasil precisa parar de almejar salvadores assim, que não salvam nem eles mesmos, e trabalhar tal como fez o time da Alemanha: planejamento, esforço, dedicação, humildade e conscientes de que a força do grupo era maior do que a força dos elementos individuais, isolados. Se fizer isso, há esperança.
Mas, nem tudo está perdido. Pelo menos algumas coisas eu percebi nessa Copa: a extraordinária capacidade que o brasileiro tem de rir de situações tristes e, em vez de ficar se lamentando, e fazer as mais criativas anedotas sobre fatos que mal acabaram de acontecer.
Se a seleção brasileira fez feio dentro de campo, fora dele os brasileiros deram show de criatividade, humor e brincadeiras que cruzavam do Oiapoque ao Chuí em questão de segundos pelos tubos da internet. Quando se delineou a goleada alemã sobre o escrete canarinho, as redes sociais se tornaram o último bastião onde o brasileiro reinava quase absoluto.
Uma das piadas mais criativas e repetidas dizia que “nem a Volkswagen faz tantos gols no Brasil em 30 minutos“. A piada viralizou tanto que até mesmo a fábrica alemã declarou que conseguia fazer dois gols por minuto no Brasil (risos).
Outra coisa que considero positiva é que a decepção causada pelas últimas derrotas da seleção tragam um despertamento para o que realmente interessa e que muitos acordem da ilusão escravizante do pão e circo, tornando-se cidadãos na verdadeira acepção da palavra: consciente de seus direitos, mas também dos deveres.
Em outubro, que já está bem próximo, não nos esqueçamos dessas amargas, mas importantes lições e que possamos mudar a história deste país e fazer dele um campeão onde realmente importa: fora de campo.
Por fim, como cristão, eu sei que o Brasil precisa se voltar para Deus, e se render ao senhorio de Cristo para ser sarado. Sim, a esperança está no Senhor Jesus Cristo pois, como está escrito:
“Bem aventurada a nação cujo Deus é o Senhor”, Salmo 33.12
Uma observação final: Comecei a escrever este artigo antes mesmo da disputa de 3º lugar, e queria tê-lo soltado logo para aproveitar a onda (hype), mas não foi possível já que não queria lançar sem um mínimo de qualidade editorial – mas quero deixar essa avaliação a cargo de meus leitores.
E qual foi o principal motivo de escrevê-lo? Sinceramente, que promova uma necessária discussão e que os brasileiros reflitam sobre o país que temos e qual é o país que queremos ter.
(*) Você é livre para reproduzir e divulgar este artigo livremente. Aliás, quero encorajá-lo que o faça. Assim, se você gostou do texto…
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