Querido Aylan, Perdão!

boy aylan

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Querido Aylan, Perdão!

 

por Francisco Oliveira

Uma das cenas que certamente ficará marcada no ano de 2015 e que já é símbolo da maior crise migratória mundial pós-guerra é a do menino sírio Aylan encontrado morto num praia da Turquia depois que o barco em que sua família viajava tentando fugir da guerra, da perseguição e da pobreza em direção à Europa naufragou.

Invadida tantas vezes por bárbaros desejosos de usufruir suas riquezas, o continente agora é invadido por milhares de seres humanos que pedem simplesmente uma chance para sobreviverem e criarem seus filhos. Aos 3 anos de vida, não havia lugar para ele e sua família, nem no caótico Oriente Médio, nem nos países europeus, muitos já fechados para os milhares de imigrantes que batem à porta.

Para eles, um barco frágil em um mar revolto era a única saída para uma vida feliz. Isso me fez lembrar um outro menino, judeu, cuja família, também fugindo de perseguição há dois mil anos atrás, teve que se abrigar numa manjedoura próxima à cidade de Belém, pois “não havia lugar para eles nas hospedarias”, e ali, nasceu para ser o Salvador do Mundo.

Aquela imagem quebrantou meu coração, fez-me perguntar em que tipo de seres humanos nos tornamos, que mundo civilizado é este que joga crianças ao mar e devora suas esperanças, seus sonhos.

O mundo ficou atônito. As manchetes repetiam a mesma imagem. E todos colocavam a culpa uns nos outros. Ninguém assumiu a responsabilidade por aquela morte injusta, infame. Os líderes mundiais correram para apresentar uma resposta, mas já era tarde.

O menino e sua família só queriam um lugar que os acolhessem, um lugar aonde houvesse ainda resquícios de humanidade… Fugiam da morte, mas esta os encontrou aonde menos se esperava: à beira da Grécia, terra aonde grandes mentes brilhantes surgiram e ajudaram-nos a trazer lucidez diante de tantas sombras, terra de Homero, Sócrates e Platão.

Até mesmo estes perderiam a racionalidade diante da insanidade de tal fato.

Tudo isto acontecendo no berço da cultura ocidental, na Europa. Sem ela não teríamos tido a filosofia grega. Nela o cristianismo se estabeleceu trazendo raios de luz e igualdade. Sem ela não teríamos tido um Leonardo da Vinci, um Michelangelo, um Newton, um Sebastian Bach. De lá, romperam grandes insights para a humanidade como o Renascimento, a Reforma Protestante, o Iluminismo, os Direitos Humanos.

E, mesmo depois de ter sido palco de duas grandes guerras, parecia que finalmente a paz e a harmonia seriam estabelecidas num continente agora quase todo unificado, trazendo esperança de vida próspera a milhões. Mas, eis que aparece diante de nossos monitores de TV, online, sem cortes, o menino Aylan, indefeso, sem-vida, trazido pelas ondas do Mediterrâneo às praias desta mesma Europa, outrora símbolo de liberdade e prosperidade, berço de tantas conquistas, descobertas e triunfos.

As imagens correram o mundo eivadas de espanto e perplexidade. Um grito silencioso evocava daquela criança agora sem voz.

O que deu errado, porque chegamos onde chegamos? Era a pergunta que todos se faziam.

Que Era é esta em que gente tão pequena e inocente, aquelas sobre as quais Jesus um dia disse: “das tais é o Reino dos Céus”, é tratada como moeda de manobra, ou como estatística de guerra? Como cristão, perguntei-me o que eu poderia e deveria fazer ante esta desgraça dantesca. Muitas perguntas, poucas respostas até agora.

E antes que esta cena caia no esquecimento ou se perca diante do excesso de imagens e informações às quais somos submetidos todos os dias, resolvi retratá-lá aqui neste espaço, talvez como mero desabafo, talvez como esperança de que a reflexão possa produzir em nós um censo de urgência e assim nos coloquemos à disposição de um mundo que grita por direção e façamos opção pelos mais fracos, desamparados e injustiçados.

Quantos Aylans, Joões e Marias ainda veremos submersos e esquecidos não somente nas praias, mas nas ruas das cidades e periferias da Europa e do Mundo? Quantas famílias ainda serão divididas e terão seus sonhos roubados? Ou será que já estamos acostumados e anestesiados diante de tantos infanticídios e genocídios?

Como a História nos chamará: “a Era dos Insensatos”? Como Deus nos julgará: religiosos e não-religiosos? Só o tempo dirá… Espero que Jesus ainda esteja orando: “Pai, perdoa-lhes, pois eles (todos nós) não sabem o que fazem”, ou o que não fazem.

Aylan, perdoe-nos!

E que sua breve vida possa nos despertar do nosso sono egocêntrico e da nossa inércia e nos fazer construtores de pontes entre povos e nações e partícipes de uma nova história a ser contada para nossos filhos e netos.

Francisco Oliveira trabalha como controlador de voo, congrega na igreja presbiteriana, casado e pai de um casal de filhos, atua na liderança da EBD da igreja e formou-se recentemente pelo Instituto Haggai Internacional.

 

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Francisco Oliveira

Graduado Internacional em Liderança pelo Haggai Institute, Havai, EUA; Especialista em Educação; Especialista em Gestão de Pessoas; Bacharel em Teologia; Colunista da Revista Cristã; Presbítero da Igreja Presbiteriana do Brasil. Casado e pai de dois filhos. Natural de Fortaleza, Ceará.

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