A maldição da similaridade e a rejeição da diversidade

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A ingrata luta contra os moinhos de vento

Uma circunstância interessante aconteceu comigo, na época da faculdade.

Era uma noite comum, naqueles dias de aula comuns, mas algo singular teve curso, bem no meio das coisas comuns.

Uns hippies estavam vendendo suas bugigangas e burungangas no pátio entre as salas de aula, e fui lá, mera curiosidade, ver se tinha algo interessante.

Como já havia passado [um pouco] a fase rebelde sem causa que todo adolescente atravessa, e como eu já não era mais adolescente, poucas coisas me chamaram a atenção. Mas, olhando melhor, vi uns cartões bem simples, preto e branco, sem qualquer atrativo a mais. Coisa de hippie mesmo.

Como eu também não tenho muitos atrativos, talvez por questão de afinidade, afeiçoei-me de dois cartões. Um era o rascunho de Dom Quixote, acima. Pode parecer feio e desengonçado, e nem é por ter sido desenhado por Picasso (acho) que gostei dele, mas pela frase que estampava: “Eu me esforço tanto para ser eu mesmo, e fica todo mundo querendo que eu seja igual a eles“.

O outro cartão era parecido com este daqui, mas não tinha nenhuma frase mais provocativa, era somente a figura mesmo:

Um legítimo urso de pano, quase um Pooh

Comprei os dois.

Voltei ao meu grupo, pois era intervalo, e resolvi fazer uma pequena experiência, para tentar entender as pessoas, ou como elas me entendiam. Curioso, né? Calma, já conto. Foi assim:

Eu comprei o do Dom Quixote para mim, por conta da frase, que me chamou a atenção, e o do ursinho para presentear uma colega. Como não havia uma em especial para ser escolhida, servi-me de uma pequena “trapaça”: perguntei às colegas quem queria ganhar um cartão que eu havia acabado de comprar e mostrei o cartão do Dom Quixote.

Uma das colegas logo bradou: “eu não quero esse cartão feio, desengonçado”. Todas ficaram meio assim, porque, combinemos, apesar de ter sido desenhado por Picasso, a figura é feia pacas. Então, uma colega, não sei se por pena, disse: “o cartão não é bonito, mas eu vou aceitar”. Então, quando ela foi pegar, eu disse – não, esse cartão é o que eu comprei para mim. O que eu comprei para dar de presente é este! e mostrei o do ursinho.

Então, expliquei o que quis fazer: eu queria saber se alguém me aceitaria como eu sou, assim, mostrei o cartão com o qual me identifiquei, para saber quem me aceitava, e só então mostraria o cartão de presente.

Foi aquela cena, todas as colegas admirando o cartão do ursinho, e a que primeiro rejeitou a “bênção” quase virou uma jararaca, berrando que eu tinha enganado elas, que tinha mostrado um cartão ridículo primeiro (sendo que eu não havia dito que seria aquele, mas apenas mostrado) e, quando quase ninguém se interessou, eu mostrei o verdadeiro.

Não sei porque tanto drama por um cartão de meros R$ 0,50 a não ser, claro, pela exposição constrangedora de que ela valorizava mais a aparência do que a essência. Nossa relação, depois disso, nunca mais foi a mesma, nem eu queria que fosse.

Sabe, nas igrejas, também vejo muito isso: um perigoso cerceamento da criatividade e da singularidade, tolhendo as pessoas e castrando-as para que não se tornem aquilo que elas podem ser. Fomos criados à imagem e semelhança do Criador e, quando nos multiplicamos, geramos pessoas diferentes, embora parecidas conosco, e é isso que nos faz seres criativos: justamente a diferença.

Você pode fazer uma cópia de uma grande obra de arte, mas ela nunca será nem valerá como o original. Nós valorizamos Picasso porque, mesmo fazendo um rabisco tosco como aquele do início do post, ele teve coragem de fazer o feio e ainda assinar. A Bíblia diz que somos criaturas de Deus, e cada obra sua vem com a assinatura do Criador, e cada obra é única, e Ele valoriza cada uma.

Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas. Efésios 2:10

Quando se sentir menosprezado, por não ser igual aos outros, saiba que foram as Mãos do Oleiro que o fizeram assim, e Ele sabe o que faz. Você nem é o que é por acaso, nem um mero acidente celular que, ao invés de ser abortado, nasceu e cresceu para incomodar. Você tem valor. Embora esse valor, no mercado das almas não valha muito, há Um que deu Sua vida por você. Saiba: somente seu Criador sabe o valor que você tem, e Ele pagou o preço mais alto que se poderia cobrar, a vida e o sangue.

Muitas vezes, pensamos que venceremos se formos igual aos outros, mas a batalha mais sensacional e curta da História foi ganha justamente porque alguém quis fazer e ser diferente dos demais:

Então Saul vestiu Davi com sua própria túnica. Colocou-lhe uma armadura e um capacete de bronze na cabeça.

Davi prendeu sua espada sobre a túnica e tentou andar, pois não estava acostumado àquilo. E disse a Saul: “Não consigo andar com isto, pois não estou acostumado”. Assim tirou tudo aquilo. 1 Samuel 17. 38 e 39

Não se envergonhe de ser diferente, nem de não conseguir ser igual a alguém. Deve haver algum gigante por aí, zombando das pessoas, metendo medo nelas, e ele é do exato tamanho daquilo que só uma pessoa com suas características pode acertar. Seja você mesmo, não se limite nem se restinja a ser uma mera cópia de algo ou alguém, porque você nada menos do que um Projeto de Deus.

Mero detalhe de uma grande obra, e as rachaduras dão um charme a mais

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Wallace

Just another little servant of the Lord Jesus Christ. Apenas mais um pequeno servo do Senhor Jesus Cristo. Editor do blog Desafiando Limites (https://wallysou.com). Crítico do cristianismo evangélico da prosperidade e pensador cristão amador.

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