A Difícil Tarefa de Lidar Com a Estranha Dor da Perda

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A Difícil Tarefa de Lidar Com a Estranha Dor da Perda

Dói, dói muito. Dói saber que perdemos, dói saber que fizemos nosso máximo e perdemos, dói saber que o que sentimos é verdadeiro e perdemos, dói saber que não somos auto-suficientes.

Dalvan Miotto, em Pensador UOL

Hoje foi um dia difícil. Um daqueles dias que a gente gostaria que não existisse ou não chegasse. O dia em que a perda se concretiza e que você tem que encarar a situação de frente, sem poder recuar.

E este também é um post diferente. eu não vou revisar como faço com praticamente todos os outros, dezenas de vezes, às vezes… eu vou apenas escrever para colocar pra fora esse sentimento que me assalta as emoções e pesa em meu coração.

Como é difícil entender, suportar e aceitar essa dor que a perda nos traz. Eu já passei por muitas perdas antes, e algumas delas foram bem dolorosas e bem difíceis de lidar.

Recentemente, coisa de uns 3 meses atrás, foi a perda de meu avô. Mas, como ele já vinha doente há bastante tempo, era bem de idade, beirando os 90 anos, e eu não o via com tanta frequência, por morar em outro estado, essa perda já estava sendo diluída com o tempo e amortizada pelo espaço que nos distanciava.

Além disso, uns 15 dias antes de ele falecer, eu sonhei que minha avó me dizia que ele havia partido e que estava tudo bem, o que também me consolou e me deixou mais confortado em resposta aos meses e meses que estive orando por ele.

Mas, essa perda de agora foi diferente. E, para alguns, nem deveria ser ou, pelo menos, nem me deveria causar tanta dor. Afinal, era apenas um gatinho. E nem era de raça. Era daqueles sem eira nem beira, e estava condenado quando o adotamos, ou seja, sem futuro também.

Nós o trouxemos do Mato Grosso, numa viagem de mais de 1.200km de carro, ele ainda novinho, da casa de minha sogra na zona rural, e ali começou a história de apego a ele, pois veio praticamente toda a viagem no colo de minha esposa, dormindo quase a viagem toda e sem muita reclamação.

Às vezes, lá pela alta madrugada, quando ele achava a porta do quarto aberta, sorrateiramente vinha e se deitava aos nossos pés. E assim que amanhecia, ele ligava sua turbina de ronronar e encostava bem no nosso ouvido, tornando impossível continuar dormindo.

Com essas pequenas coisas, além de uma mania de morder nossas alianças de casamento, ele foi nos conquistando aos poucos, entre uma esfregada e outra nas nossas pernas. E ele ainda gostava de conversar conosco. Ficava sentado no chão ou no colchão olhando pra gente e, quando perguntávamos o que ele queria, ele respondia com miados que mais pareciam perguntas elaboradas de uma conversa entre amigos.

Assim era nosso Nino, um gatinho que nada tinha de especial, mas que se tornou especial para nós, principalmente naquele espaço que ele ocupou em nossos corações. Espaço esse que, paradoxalmente, ficou apertado agora que ele se foi.

Estava tudo correndo bem, até que um dia, seu corpinho franzino e frágil começou a apresentar sinais de que algo não estava bem. Era uma diarreia que não passava e, depois, quando essa diarreia finalmente cessou, sua barriga não parava de inchar.

Foram vários exames, várias tentativas de diagnóstico e muita administração de medicamentos, alguns deles muito fortes para seu corpo tão delicado. Isso sem contar os procedimentos de retirada da água na barriga, os piores de tudo.

Da última vez, ele quase morreu após a realização do procedimento, quando sua barriga estava bem estufada, atrapalhando até sua respiração. Mas, a tudo isso ele lutou e resistiu com bravura, lutando pela vida, algo que até aumentou minha admiração. Afinal, por que um animal que nada tinha a perder lutava com tanta garra para se manter vivo, apesar de tanto sofrimento?

Mas, os últimos dias enfim me convenceram que eu estava adiando o inevitável. Deixá-lo viver daquela forma só o fazia sofrer mais. Por isso, depois de muito protelar, à espera de um milagre que não vinha, e olhe que não foi por falta de pedir a Deus, eu me dei conta que deveria me despedir de meu pequeno amigo.

Um pequeno amigo que me deixou com uma grande saudade…

O mais difícil foi eu mesmo ter de levá-lo até à clínica onde o levei outras vezes em busca de uma cura, para deixá-lo lá pela última vez. Entregar aquele que gostava de dormir aos meus pés nas mãos de quem iria por fim ao seu sofrimento me trouxe uma sensação esquisita de angústia e dor que me deixa sem palavras para expressar o que eu sinto.

Mesmo a atendente me dizendo que a injeção faria a interrupção de seus batimentos cardíacos e interromperia seu sofrimento, da forma mais indolor possível, ainda assim não foi uma decisão fácil.

Fico imaginando a dor de quem perde um ente querido para a doença, para uma tragédia ou até mesmo vítima de uma morte inesperada. Meu respeito e minha solidariedade a essas pessoas. Eu sei o que elas estão sentindo. Em menor proporção e intensidade, mas sei.

E fico a pensar também na decisão do Pai, de entregar Seu filho, Seu único filho, nas mãos de pessoas tão perversas, sem dó ou piedade, que o fariam sofrer de forma tão desumana, eu fico sem compreender que decisão tão dolorosa tenha sido aquela.

E isso tudo para me livrar de uma eternidade de sofrimento.

A dor de minha perda, apesar de tão pequena e insignificante, comparada a tantas outras, me fez perceber quão grande é o amor de Deus, que entregou à morte seu filho amado para remissão de meus pecados.

Nesta véspera de Natal, consegui vislumbrar através dessa tão dolorosa perda o quanto eu ganhei com a morte de Jesus. E a cada momento que eu sinto a falta de meu pequeno amigo peludo, e choro sua ausência, eu me dou conta do tamanho do sacrifício que Deus fez para me conceder o perdão que me conduz à presença dEle.

Eu gostaria de findar este post com alguma frase de impacto ou de efeito, mas não consigo, porque a única coisa que me impacta é essa estranha dor que a perda me traz, e o único efeito que sinto é o vazio do ronronar me acordando nas manhãs de sábado, quando eu gostava de dormir até mais tarde.

E, se eu acordar numa manhã de um sábado desses, talvez não consiga voltar a dormir justamente pela falta daquele ronronar que me despertava.

Meu respeito a todos os que sofreram perdas e seguiram com sua vida em frente. Respeito e admiração. E paro por aqui, enquanto enxugo as lágrimas e tento me lembrar dos bons momentos que passamos.

Adeus Nino. Você nem era importante para tantos, mas me ensinou tanto. E fez de mim uma pessoa melhor, não apenas enquanto esteve comigo, mas quando se foi me ensinou muito mais.

 

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Wallace

Just another little servant of the Lord Jesus Christ. Apenas mais um pequeno servo do Senhor Jesus Cristo. Editor do blog Desafiando Limites (https://wallysou.com). Crítico do cristianismo evangélico da prosperidade e pensador cristão amador.

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